domingo, 19 de julho de 2020

holier-than-thou

O binómio branco/preto anda a dominar as atenções. Com razão. As violências policiais na América (e não só) provocaram um rasgo de revolta. E bem.
O binómio branco/preto é simplista, porque na América discrimina-se também os "browns", os "yellows", os "latinos" e chama-se "caucasian" aos brancos. Há quem prefira usar "africano" em vez de "preto" para aliviar a conotação racista, mas há milhares de africanos que são brancos, loiros, morenos, etc. E os norte-africanos são iguais aos sul-europeus, são todos mediterrânicos.
Não são critérios que prestem apara exprimir a discriminação.
Porque o problema é a discriminação. Seja ela induzida por cor da pele, por raça, por origem geográfica, por riqueza económica, por local de residência, por religião.
Para mim, é muito relevante o binómio católico/protestante. Muito relevante porque envolve atitudes diferentes na relação com "o outro". É ainda simplista, porque há católicos tomistas e nominalistas e porque há um arco-íris de protestantes. Mas importa simplificar para entender melhor.
Commonsense vai simplificar em católicos e luteranos (incluindo a versão turbo dos luteranos que são os calvinistas).
A discriminação, na Europa, não é de branco/pretos, mas de católicos/luteranos (continua a ser desde a Reforma).
E o principal factor de discriminação é o objectivismo católico e o subjectivismo protestante.
Os católicos objectivam o que os protestantes subjectivam.
Exemplificando, para os católicos, há crime, onde para os protestantes há criminosos; para os protestantes há gente má, onde para os católicos há mal; para os católicos há o bem, onde para os protestantes há virtude pessoal.
Esta tendência dos protestantes de subjectivarem em virtudes ou vícios pessoais o que os católicos objectivam no bem e no mal é que constitui o grande factor da discriminação.
É assim que, na Europa comunitária, para os católicos há dificuldades económicas e financeiras onde para os protestantes, há preguiçosos e gastadores. Os protestantes intitulam-se a si próprios subjectivamente "frugais" (com excepção do primeiro ministro austríaco, que é outra coisa).
Se virmos as coisas por este prisma, a questão não é branco e pretos, mas de luteranos-calvinistas-evangélicos contra todos os outros, todos aqueles que não são "virtuosos" como eles, que são pecadores, que cometem o pecado de serem pobres. A pobreza (mesmo que só relativa) é um pecado para o luteranismo. Ele são superiores, são "hollier than thou"
A riqueza é virtude do ricos. E a culpa da pobreza é dos pobres.
Os pretos são discriminados porque são (mais) pobres.
Para quem quiser compreender melhor, Commonsense recomenda, de Max Weber, "O Protestantismo e o Espirito do Capitalismo".