Quando
foi criado o €uro, todo o mercado assumiu que seria um moeda única,
comum a vários países europeus, os mais ricos e economicamente
poderosos, e que não teria risco de câmbio nem de solvência. No
início, os mercados não tiveram grande confiança e o €uro caiu
até 0,85 do Dólar. Este câmbio baixo melhorou a competitividade
das exportações europeias e houve grande prosperidade económica.
Foi o tempo em que o Airbus se lançou e derrotou o Boeing. Mais
tarde, o €uro subiu, egualizou o Dólar, ultrapassou-o e
aproximou-se da cotação de 1,45/1,50. Não foi bom para a
exportações, mas também não foi mau, porque tornou mais baratas
as importações de matérias primas, principalmente energia
(petróleo). Tudo seria bom se se tivesse mantido assim.
Depois
foi a crise monetária na Hungria. Pensava-se que, sendo um estado
Membro da poderosa União Europeia, a Hungria estaria a salvo de
ataques especulativos do mercado. Surpreendentemente não foi isso
que sucedeu. A Hungria não foi monetariamente apoiada e teve de
desvalorizar. Afinal, notaram os mercados, a União Europeia era
menos unida do que se pensava e tinha vulnerabilidades. Afastados os
grandes líderes, vieram os pequenos políticos que nos órgãos da
UE representavam os interesse nacionais em vez de prosseguirem os
interesse europeus. Pior ainda, veio a ética luterana de, em vez de
criticar atuações governamentais específicas,passou a anatemizar
povos inteiros como não virtuosos, gastadores, pouco trabalhadores,
menos eficientes, enfim... Untermench! Era preciso deixá-los
sofrer como castigo dos seus pecados financeiros para que aprendessem
e se corrigissem. Os povos virtuosos não deveriam sofrer pelos não
virtuosos e devia adotar uma postura severa.
Tinha
acabado a solidariedade europeia. A Europa comunitária deslizou
progressivamente do modelo federal sonhado pelo fundadores para um
confederação de Estados independentes, ao modelo da EFTA, como a
Inglaterra queria. Só que o egoísmo e a falta de solidariedade
entre ao Estados Membros da União Europeia, criavam graves
vulnerabilidades a ataques especulativos dos mercados financeiros.
Disperso o rebanho, era fácil à alcateia e ir atacando os mais
fracos que o egoísmo dos outros ia deixando para trás, indefesos.
Foi
o que aconteceu. Primeiro a Grécia, depois a Irlanda, depois
Portugal... e agora a Espanha, a Itália, a Bélgica. Um por um todos
serão atacados e comidos. No final ficará a Alemanha, a liderar um
Eurogrupo composto já só por ela, sem dimensão nem massa crítica
para se defender. A récua dos burros terá sido devorada pela
alcateia dos lobos.
Quando
se recusou a mutualização das dívidas soberanas, partiu-se o €uro
europeu em 17 €uros macionais. Isso aconteceu quando se permitiu
que houvesse €uros mais fracos e €uros mais fortes, com taxas de
emissão, e yieds diferentes. O €uros grego era pior que o €uro
português, que era pior que o €uros irlandês e assim
sucessivamente. Com isto o €uro alemão tornou-se o melhor de todos
e a Alemanha beneficiou de taxas de juros baixíssimas, o que lhe
permitiu maior prosperidade e induziu um sistema auto sustentado de
diferenciação entre os países ricos e virtuosos da UE – os
nórdicos – e os países “profiglate”, pobres e réprobos do
sul, os PIGS.
Hoje
a S&P anunciou o downgrading da Bélgica, o primeiro país de
norte a ser atacado pela alcateia.
A
Comissão Europeia defendeu publicamente a introdução dos
Eurobonds, mutualizados na responsabilidade de todos os 17 Estados
Membros que têm em circulação do €uro (Eurogrupo). Fê-lo na
sequência de uma insistente reclamação de muita gente que entende,
com razão que a União Europeia, ou avança e se federaliza, ou
recua e colapsa.
Não
há nada de extraordinário na emissão dos Eurobonds. A dívidas
soberanas europeias sempre deveriam ter sido isso mesmo, dívidas da
Europa e não de cada país. Tal exige, naturalmente, que não haja
Estados Membros que cometam os erros financeiros que a Grécia,
Portugal, a Irlanda e outro cometeram. É necessária a harmonização
das políticas orçamentais e financeiras. Foi para isso, entre
outras coisas, que a União Europeia foi criada.
A
Alemanha já veio dizer que não quer. Porquê? Porque, segundo diz,
isso aliviará a pressão sobre os Estados Membros sob assistência e
eles deixarão de seguir o caminho das reformas necessárias. Quer
dizer: deixarão de ser punidos e corrigidos. Além disto, toda a
gente sabe que a Alemanha não quer a mutualização da dívida
soberana Europeia nos Eurobonds porque isso induzirá a unidade das
taxas de juro num nível abaixo do que os Estados Membros pobres
estão a pagar e mais altos do que os estados ricos conseguem obter.
A Alemanha recusa a solidariedade.
É
preciso ver de ambos os lados e admitir que a mutualização através
da emissão de Eurobonds, se não for acompanhada pelo equilíbrio
orçamental e financeiro de todos, vai vulnerabilizar o próprio
próprio €uro no seu todo, o euro-€uro, e pôr em risco todo o
edifício da União Europeia. É verdade.
Sucede,
porém, que a persistente divisão monetária dos 17 €uros
nacionais, também destrói o €uro europeu e que os mercados já
deram por isso e estão simplesmente a vender tudo o que são ativos
financeiros expressos em €uros. Está já a ver-se nos mercados o
fenómenos de fuga perante o €uro. Antes que se forme um consenso,
que se tome uma decisão, que Merkel e Sarko pecam as eleições nos
seus países, tempo demais passará e o €uro, perante a pressão de
venda, irá baixar substancialmente o seu valor cambial no mercado.
Aproximar-se-á do Dólar ou baixará mesmo em relação e ele.
Talvez regresse ao câmbio antigo de 0,85.
Entretanto
terão de ser feitas as reformas necessárias. Mas quais reformas?
Aquelas que conduzirem à harmonização das políticas orçamentais
e financeiras no espaço económico europeu. No Eurogrupo a reforma
tem e ser mais profunda, tem de implicar o controlo direto dos
orçamentos e das gestão orçamentais dos países do €uro.
Será
o passo em frente a caminho da unidade
económica-monetária-financeira, ou o colapso.