sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

de José antónio Barreiros

De José António Barreiros, pessoa em cujas palavras acredito, transcrevo, para que a História não esqueça, este texto:


Mário Soares: o perfume barato do contar...

Sabia que me iria irritar.

Que o livro “Um Político Assume-se” seria uma forma de se justificar perante a História, já que não perante a sua consciência.

Mesmo assim insisti em querer vê-lo.

Foi esta noite.

Fui directo à página onde, na obra que diz ser de memórias políticas, Mário Soares trata do que eu conheço de perto, por ter vivido na pele parte da trama: a história da sua ligação, enquanto Presidente da República, ao território de Macau.

Detive-me nas linhas que dedica ao caso Emaudio/TDM.

Poucas linhas, esclarecedoras linhas.
Diz que foi afinal uma campanha lançada «pela extrema direita» contra ele, para o envolver na história.

Mente, por contrariar a verdade.

A questão não tem a ver com políticos de qualquer quadrante que se tenham mobilizado contra si, mas com os factos que não se conseguem iludir.

Acrescenta que na origem da campanha esteve o Rui Mateus.

Mente por sobre-simplificar a verdade.

O papel de Rui Mateus é prévio na próxima ligação à sua pessoa, contemporâneo com todo o caso e posterior com maior intensidade no que se refere ao caso da Weidelplan/Aeroporto de Macau, mas o assunto transcende-o e em muito.

Para enxovalhar Rui Mateus, Soares diz que o conheceu empregado de um restaurante e que teve uma ambição tal que quis ser ministro dos Negócios Estrangeiros do seu Governo.

Mente por omissão da verdade.

A ligação entre os dois é muitíssimo mais vasta, próxima e, é só ler o livro que aquele escreveu, para concluir que em matéria de "comedorias" o conhecimento não se limitou a restaurantes.
Remata, enfim, dizendo que envolveram no assunto o então Governador de Macau, Carlos Montez Melancia, que seria absolvido judicialmente.

Mente por adulteração da verdade.

A história do processo judicial ainda está para ser contada, como a história dos processos judiciais que nunca existiram em torno do caso.

E como é que a absolvição do Governador neste processo deu em condenação em outro, o "caso do fax".
No momento em que escrevo estas linhas hesito se contarei ou não toda a história desse aproveitamento político, económico e pessoal da televisão de Macau que o livro tenta branquear.
Confesso que o descaramento do livro me incendeia um sentido de revolta pessoal.

Que a "reconstrução" da História  me repugna como cidadão, como o faz tanta historiografia oficial arregimentada que tem andado a ser escrita em relação ao que nem regime político chegou sequer a ser e hoje está em estilhaços, o estado cadaveroso do País.
Sei que se o fizer, contando o que sei, serei sujeito aos efeitos da difamação e do enxovalho, porque ele e este estilo de obra são o rosto de um modo de ser que define a actual Situação, o verso dos que a criaram, o anverso dos que a consentiram.

Talvez haja um direito à tranquilidade, minha e dos meus, que eu deveria saber preservar.
Por outro lado estou perante uma figura pública idolatrada a quem tantos perdoaram tudo, à direita e à esquerda, com quem tantos se arranjaram para tanto.

Ficarei isolado e à mercê.
Talvez haja, enfim, o respeito devido à idade, se não houvesse o respeito devido à Nação de todos nós.

Apodar-me-ão de desapiedado, logo quanto a um livro em que o seu autor se fez cercar, no lançamento, da imagem inocente dos seus netos.

Vou tentar tranquilizar o espírito e logo verei.

Até passar o hálito da sordidez do caso e do perfume barato com que agora o vejo contado.



José António Barreiros,15.12.2011

domingo, 18 de dezembro de 2011

«mão invisível» só conheço a do carteirista

Commonsense recorda um anedota «seca». Alguém diz "chuva em Novembro, Natal em Dezembro"; o interlocutor objecta "e se não chover em Novembro?"; resposta: "Sol em Novembro, Natal em Dezembro".
É assim com os ratings. Haja o que houver, a consequência é sempre a mesma: baixa o rating. Antes baixava porque havia desequilíbrios orçamentais e não havia coragem política para políticas de austeridade. Houve políticas de austeridade e o rating baixou novamente, porque essas políticas eram restritivas e arrefeciam a economia. E assim sucessivamente e alternadamente. Haja o que houver o rating baixa sempre.
Como não houve mutualização das dívidas soberanas em Euros nem €urobonds, o rating baixou. E se houvesse? Também baixava, porque aumentava a exposição das economias centrais da €urozona e do BCE.
O rating baixa sempre e sempre numa área crescente.
Porquê?
Porque quando o rating baixa, sobe o preço do dinheiro, dos CDSs, os juros, os Yields.
Porque quando o rating baixa "os mercados" ganham mais dinheiro.
E porque, ao contrário da ingenuidade dos Chicago Boys, a rationalidade do mercado não é está em regular a economia, mas em ganhar dinheiro, quanto mais e mais depressa melhor.
«Mão invisível» só conheço uma: a do carteirista.