sábado, 31 de outubro de 2009

face oculta

Recomendo a leitura do post do Jorge Assunção - despertar da mente - sobre o tema. Assino por baixo.

Mas acrescento algumas interrogações:
Porque é que o Banco de Portugal só agora se lembrou de 'investigar' Armando Vara, quando já toda a gente o conhecia?
Porque é que Armando Vara só vai ser interrogado no dia 9?
Porque é que este caso só aparece a público depois das eleições?
Porque é que os jornais só revelaram os nomes de alguns dos envolvidos?
Porque é que o BCP se apressou a manifestar a confiança em Armando Vara?
Porque é que o BCP tem esta queda para gente assim?

Não é possível continuar a impunidade. Apesar  do que escreve Jorge Assunção, apesar de não serem 'todos iguais', há uma coisa em que os corruptos têm sido todos iguais: é na impunidade.

Desde Sócrates, a Fátima Felgueiras, Valentim Loureiro, a Isaltino, a Dias Loureiro, a Oliveira e Costa, àqueles cujos nomes desconheço envolvidos nos submarinos, no portucale, na operação furação, no freeport, nos contentores, naqueles concursos públicos que se sabe, etc., etc., etc., que mais nos irá acontecer. Até já em provas académicas universitárias aparecem coisas destas!

Já não se pode confiar na seriedade dum concurso público, duma adjudicação, duma concessão, até de despachos e decretos-lei. Nós não somos todos iguais, Jorge Assunção; eles é que são. Eles, os xico-espertos, os amigos, os cunhados, os empenhados, os milagrosamente enriquecidos, são todos iguais na impunidade. E ficam a rir-se de nós.

quinta-feira, 29 de outubro de 2009

não há banqueiros no Céu - 2


Pior do que um banqueiro, só um banqueiro socialista.
Começou como caixa na Caixa (Geral de Depósitos), depois mergulhou no PS e voltou à superfície como administrador da Caixa Geral de Depósitos. Daí saltou para Vice-Presidente do BCP.
Agora foi constituído arguido por crimes ligados à desonestidade.
Como era de esperar, o BCP manteve-lhe a confiança e o Banco de Portugal continua a considerá-lo idóneo para o exercício do cargo.
Isto só se pode ser explicado porque o BCP tem uma péssima opinião de si próprio e o Banco de Portugal uma péssima opinião do sector bancário português.
Pior que um socialista, só um socialista banqueiro.

quarta-feira, 28 de outubro de 2009

não há banqueiros no Céu

Não há dia em que não feche uma fábrica, um escritório, uma loja, um restaurante. Não há dia em que não sejam atirados para o desemprego mais e mais portugueses. Basta que fique desempregado um membro da família para que a frágil economia familiar entre em crise. Se forem dois é pior, quando não mesmo fatal.
Já se esperava, foi-se atrasando artificialmente, até às eleições, mas não podia mais ser contido. Agora vai ser uma cascata de encerramentos de empresas, de lay-offs; vai ser um rio de desesperados.
Entretanto, o padrinho da banca aparece na televisão, com brilhantina no cabelo e óculos na ponta do nariz, sem um sorriso no rosto e com o olhar façanhudo, a dizer que são os accionistas que fixam os vencimentos dos banqueiros. Quer dizer, que são eles que fixam a si próprios os seus réditos enormes, excessivos, provocantes, imorais, pecaminosos. Ganham por mês o que o humildes não ganham numa vida. E não querem partilhar, nem mesmo quando os seus bancos foram salvos com os magros IVAs dos pobres.
Eu sempre soube que não há banqueiros no Céu. Não passam no buraco da agulha. Não se pode ao mesmo tempo amar os pobres e o bezerro de ouro.

segunda-feira, 26 de outubro de 2009

um governozinho

Penso que a generalidade dos portugueses quereria ter um governo de coligação com uma maioria sólida ao centro. Os portugueses estão preocupados com a crise e querem que o País seja governado no seu interesse e não no interesse dos partidos.
O interesse dos partidos é outro. O PS acha que a oposição não pode derrubá-lo porque só teria a perder numa subsequente eleição. O PSD porque acha que perderia votos se entrasse em coligação e que vai capitalizar com o descontentamento que resultará do aprofundamento da crise económica e social. Os pequenos partidos de contra-poder acham o mesmo.
É por isto que Portugal vai ter um governo sem a força política necessária para enfrentar as dificuldades e os desafios presentes e futuros. E vai continuar a empobrecer.
Não se diga que era inevitável. Na Alemanha, o SPD e a CDU-CSU fizeram uma coligação de bloco central e governaram, conseguindo ultrapassar a crise. Claro que ambos perderam votos, o SPD mais que os outros. Os outros vieram agora a coligar-se com o FPD (liberal) e vão continuar a governar bem.
O novo Governo Português, na sua lógica, vai usar de toda a demagogia e propaganda para poder ganhar as eleições subsequentes a uma sua queda prematura. Vai piscar o olho à direita (à direita económica) com umas obras públicas e à esquerda (à esquerda ideológica) com mais rupturas da moralidade tradicional.
Portugal vai continuar desgovernado.

domingo, 25 de outubro de 2009

a educação e a justiça

Já no tempo da Regeneração, o país arruinou-se a fazer infra-estruturas: estradas, caminho de ferro, portos, pontes. Não foi mau que as construísse, o que foi mau foi que não tivesse investido suficientemente na educação. Isto, hoje, é incontroverso.
Por isto, parece-me bem Isabel Alçada na educação, porque é uma pessoa civilizada, ao contrário a antecessora. Já não é boa a continuação de Mariano Gago na Ciência e na Universidade, porque tem tido um desempenho medíocre.
Na Justiça, Alberto Martins é melhor que Alberto Costa. Qualquer um seria. Mas não creio que seja capaz de reformar o sistema.
Os dois grandes problemas de Portugal, hoje, além do financeiro (como sempre) são a educação e a justiça.
O próprio Sócrates é um bom exemplo disso mesmo.

sexta-feira, 23 de outubro de 2009

Deus morreu?

Há muitos, muitos anos, na minha caserna em Mafra, estava escrito numa parede da casa de banho:
«Deus morreu» e estava assinado «Nitzsche»
Por cima, havia outra inscrição:
«Nitzsche morreu» e estava assinado «Deus»
Depois de ter visto em debates televisivos a decrepitude mental de Saramago, lembro-me daquelas inscrições e apetece-me escrever:
«Saramago morreu» e assinar «eu»

domingo, 18 de outubro de 2009

o bloco central dos negócios

Hoje, em Portugal, há duas direitas e duas esquerdas.
Há uma direita ideológica com princípios e valores e outra direita económica que visa o enriquecimento pessoal.
Há uma esquerda ideológica com princípios e valores e outra esquerda económica que visa o enriquecimento pessoal.
O poder político, em Portugal, hoje, está na mão do bloco central dos negócios, uma coligação entre a direita económica e a esquerda económica. A direita económica alimenta de dinheiro a esquerda económica e a esquerda económica dá à direita económica legitimidade político-social e algum controlo da rua.
Tudo isto apoiado num aparelho de comunicação social comprado e financiado pela direita económica cujos protagonistas visíveis são da esquerda económica.
O objectivo conseguido é o controlo do poder político, do poder económico e do poder mediático pelo bloco central dos negócios.

sábado, 17 de outubro de 2009

outra vez, não ! please

Jean-Claude Trichet, European Central Bank president, told banks on Thursday to return to their “traditional role of providing a service to the real economy”, accusing them of having focused too much on “unfettered speculation and financial gambling”.
His strongly worded criticism, at a banking conference in Frankfurt, highlighted European policymakers’ fears that the recovery of the financial market is encouraging bankers worldwide to be­lieve life can return to how it was before the crisis – risking a popular backlash.
Financial Times hoje

Espera-se bem que estes banqueiros da treta não nos metam outra vez em sarilhos e não nos venham usar o dinheiro dos impostos para sairem deles.
Por favor, tirem-lhes o alvará de banqueiros e metam-nos na cadeia - where they do belong !

a piza financeira

A diferença entre a piza económica e a piza financeira é que a piza económica come-se e a pizza financeira contabiliza-se.
Se cortarmos uma piza em oito fatias em vez de quatro, a piza financeira duplica; a piza económica, não. Se emitirmos mais fatias da piza, a piza financeira cresce; a piza económica, não. Se subirem as cotações das fatias da piza financeira, há cada vez mais pizza; mas a verdade é que a piza não dá mais de comer do que sempre deu. Se emitirmos títulos de piza, os dispersarmos pelo mercado em produtos estruturados e comermos a piza, a pizza financeira entra em bolha, mas já não dá de comer a ninguém.
Mais claro do que isto só é em banda desenhada.
Quem ainda não tiver percebido, pode ler no Economist (10-16 de Outubro 2009), pág. 74: 'Buttonwood - The nature of wealth'.
Já agora: quando derem uma piza ao Constâncio, dêem-lha inteira.

sexta-feira, 16 de outubro de 2009

Helena Roseta

Helena Roseta não perdeu tempo. Pediu a todos os grupos parlamentares que revoguem o Decreto-Lei que permitiu a prorrogação sem concurso público da concessão do terminal de contentores à Liscont.
Agora se verá quais são os partidos que são mandados pela Mota/Engil.
É importante olhar para o que irá acontecer, para as respostas, os pretextos e as desculpas que irão ser dados e  para quem os vier a dar.
Os Portugueses ficarão a saber quem é quem e quem é o quê, quem é sério e quem não é.

terça-feira, 13 de outubro de 2009

Lisboa e Tejo e... quem?

Helena Roseta e Nunes da Silva bateram-se inicialmente contra os contentores no Cais de Alcântara.
Foram eleitos na lista de António Costa.
É importante saber de que lado estão. Se ainda estão do lado de cá, ou se passaram para o lado de lá. Importa saber com quem conta a Cidade de Lisboa.
Conheço bem Helena Roseta; Nunes da Silva só assim assim.
A Helena vai tentar, vai discutir, vai bater-se. Penso que vai perder e sair a bater com a porta.
O Nunes da Silva não sei.
Vamos ver o que se vai passar com estes dois. Pode ser que consigam impedir, limitar ou reduzir a selvajaria e a brutalidade que a ganância da Mota/Engil, do Jorge Coelho e do próprio Sr. Mota (o patrão) querem infligir à Cidade de Lisboa. Tudo pode acontecer.
Para já, ajudaram à vitória da Mota/Engil na Câmara de Lisboa. Foi tal que até as suas acções subiram na Bolsa.
À Helena Roseta e ao Nunes da Silva deixo um reminder: nunca se esqueçam que

o pudor é a última homenagem que o vício presta à virtude. 

sexta-feira, 9 de outubro de 2009

os contentores (outra vez)

O debate entre os candidatos à Câmara de Lisboa foi elucidativo.
Quem não quiser os contentores em frente ao Museu de Arte Antiga deve votar em qualquer um menos no António Costa. O que ele disse mostra bem que vai permitir o plano da Mota/Engil e destruir ainda mais a orla ribeirinha de Lisboa. E isto é péssimo para todos os lisboetas, com excepção apenas dos que estiverem ligados à Mota/Engil.

quinta-feira, 8 de outubro de 2009

o Edito

Em Roma, no tempo da República, quando o Pretor ainda era eleito, as suas promessas eleitorais eram afixadas à porta do Forum, pintadas a vermelho numa tábua branca que se mantinha ali durante todo o mandato, para que o Pretor não esquecesse e os Cives recordassem e exigissem. Chamava-se o Edito do Pretor.
É urgente instaurar esta prática.

segunda-feira, 5 de outubro de 2009

o 5 de outubro

Comemora-se hoje  mais um 5 de Outubro, mais um aniversário da implantação da República.
Durante o Estado Novo, esta efeméride servia de pretexto para as manifestações possíveis da oposição (o reviralho, como lhe chamava a situação).
Hoje, salvo a ternura que lhe dedica a comunidade maçónica, quase ninguém lhe dá importância nenhuma.
A relativa irrelevância da data vem da relativa inutilidade e ineficácia do facto. Mudou o regime de monarquia para república, a família real exilou-se mas, salvo as ininteligentes manifestações de anticlericalismo e algumas violências carbonárias, o sistema político da República foi mais ou menos igual ao da monarquia: um regime parlamentar com governos fracos e caducos, instabilidade política e crise financeira endémica. A República acabou por morrer às mãos da sua própria inépcia e incipiência, e sob o cutelo final do Estado Novo.
O 5 de Outubro, hoje, é mais um feriado em que os lisboetas saem da cidade e ninguém (quase) se dá ao incómodo de concentrar na Praça do Município.
Podia bem servir para que os políticos, os partidos e os titulares dos cargos públicos meditassem sobre a perda de respeitabilidade e de credibilidade das instituições democráticas na generalidade da população, hoje.

domingo, 4 de outubro de 2009

o referendo irlandês

O Tratado de Lisboa foi referendado por 67,1% dos irlandeses, mais de dois terços. Agora faltam apenas a Polónia e a República Checa. Na Polónia, o legislativo já votou, mas o Presidente (eurocéptico, pró-americano) recusou-se a promulgar até que os irlandeses referendassem; agora diz que está à espera dos resultados oficiais, mas vai assinar no princípio da semana. Na República Checa o Tratado de Lisboa foi também aprovado pelas duas câmaras do Parlamento, mas houve dez senadores que pediram a pronúncia do Tribunal Constitucional, e o Presidente (eurocéptico, pró-americano) aproveitou para dizer que não pode promulgar enquanto o tribunal se não pronunciar; mas como o Presidente depende da confiança política das duas câmaras, não poderá manter esta atitude por muito mais tempo.
Agora, a ala mais direitista (leia-se: pró-americana) do Partido Conservador quer que, apesar de já ter sido ratificado pelo Reino Unido, o Tratado seja submetido a referendo mesmo que já tenha entrado em vigor quando (segundo prevêem) vierem a ganha as próximas eleições; o líder tinha dito que só o submeteria a referendo se ainda não tivesse entrado em vigor (leia-se: ainda não tivessem assinado os Presidentes polaco e checo). Na sequência desta atitude, a desvantagem dos trabalhistas baixou 5%.
Não obstante todas estas tentativas (mais ou menos desesperadas) de travar o rumo natural da História, é de esperar que cedo venha a entrar em vigor o Tratado de Lisboa.
A União Europeia ganhará eficácia na acção, o Parlamento Europeu ganhará maiores poderes e passará a ser melhor fiscalizado pelos Parlamentos dos Estados Membros.
A Europa, com os seus mais de 500 milhões da habitantes e a maior economia do mundo, tornar-se-á cada vez mais relevante. Cessará a relativa fraqueza consequente da sua fragmentação.

sexta-feira, 2 de outubro de 2009

como o inglês no uganda

O meu avô contava-me que os ingleses, no Uganda, vestiam-se de smoking para jantar, nem que estivessem numa tenda no mato. Era a maneira de não se deixarem cafrealizar. Tinham um conceito alargado de natureza que incluída as trovadas, os crocodilos, as montanhas, o capim, as cobras e os governantes locais. Encaravam tudo isto como uma inevitabilidade, mas não se misturavam.

Como Portugal se está a tornar Uganda, Commonsense vai tornar-se um «inglês no Uganda»: o dia, a noite, o vento, o mar, os bichos, o ladrões, os corruptos, os recebedores-de-comissões, os arranjadores-de-negócios, os compradores-de-jornalistas, os pagadores-de-políticos, os jornalistas e os políticos, a escom, a mota/engil, o jorge coelho, o isaltino, o valentim loureiro, a fátima felgueiras, o paulo pedroso, o sócrates, o eleitorado, os traficantes e os drogados, os pedófilos e os seus advogados, os banqueiros e os agiotas, tudo isto é inevitável e faz parte da natureza. É preciso viver com tudo isso, sem me misturar nem me cafrealizar. E não vale a pena dar murros em pontas de facas.

Como já não há os ingleses que andavam no Uganda nem o Uganda desse tempo, numa actualização imprescindível, Commonsense será aqui como um Europeu em Portugal.