sábado, 25 de junho de 2011

um miguelista

Há uns dias, apareceu na televisão o economista João Ferreira do Amaral a defender a saída de Portugal do Euro. Já o fez outras vezes.
Nonsense.
Se Portugal saísse do Euro, ficaria com a sua monumental dívida em Euros e a parca receita de exportação em Escudos. Haveria uma desvalorização do Escudo de sabe-se-lá quanto, 50%, 75%... com certeza mais, para dar competitividade às exportações e reduzir os salários reais. A inflação seguir-se-ia imediatamente. A espiral desvalorização-inflação levaria à miséria dos mais pobres, os velhos, os pensionistas. Para recuperar o salário real, os sindicatos decretariam greves umas atrás das outras.
Daqui resultaria uma ruptura social e todos chamariam por um homem providencial e um regime autoritário sem políticos nem partidos: a ditadura. se ganhasse a esquerda seria o estalinismo; se ganhasse a direita, seria o fascismo.
Em qualquer dos casos, o poder caberia a um homem só legitimado não democraticamente.
Ah... isso mesmo.
Uma ideia destas só poderia vir da cabeça dum miguelista.

sábado, 18 de junho de 2011

the last chance?

 Os muitos portugueses que se abstiveram não foram tantos como os número oficiais exprimiram porque os cadernos eleitorais estão notoriamente desactualizados, com muitas inscrições a mais. Mas foram muitos milhares. Dezenas, talvez centenas de milhar. Foram demais.
 Desses abstencionaistas, alguns, poucos, foram acidentais: não votaram porque estavam fora, porque estavam doentes ou porque circunstancialmente não puderam. A maior parte dos abstencionistas tomaram uma atitude intencional e ostensiva de repudio, de repugnância e até de nojo pelo processo eleitoral. Vociferaram abertamente contra os políticos e os partidos que «são todos iguais», desonestos, mentirosos, e outro epítetos que não repito aqui. Preocupantemente igual à doutrina anti-democrática oficial do Salazarismo, da qual me lembro bem.
 Além de não votarem e de, assim, recusarem o processo formal da democracia representativa, anseiam por um chefe forte e autoritário, competente e sério, que não seja «político» e que, com mão de ferro, «nos tire desta vida».
 E mostram tendência para particiar em eventos de massas organizados nas ruas, maratonas, marchas, pique-niques, muito semelhantes aos que eram promovidos pela FNAT e pelo SNI.
 Existe, existe mesmo algum perigo de regresso a uma qualquer forma autoritária e anti-democrática de governo. Muitos factores facilitadores estão presentes, até o controlo dos meios de comunicação social pelos grandes interesses económicos.
 Há anos que Commonsense vem reparando nisto com desagrado. Mas sem grande inquietação, porque a integração de Portugal na União Europeia impede um tal acidente político e social.
 A actual crise europeia, decorrente da crise financeira e da mmediocridade das lideranças e das instituções comunitárias, suscita porém a preocupação. Uma rotura financeira grave, pode acarretar o colapso do Euro, o que provocará, em dominó, o desmantelemanto da UE. Pode mesmo suceder, e já se ouvem vozes nesse sentido, a saída de Portugal do Euro. A catástrofe económica recultante da saída do Euro seria tal que induziria a uma qualquer solução de governo de salvação nacional, autoritário e não democrático.
 O tempo e as pessoas começam a estar maduros.
 Por isso, é crucial que este Governo não falhe. Tenha êxito na economia e nas finanças, mas tenha êxito também na reconstrução da boa reputação da democracia. Está na mão dele.
 Pode ser a última oportunidade.

sábado, 11 de junho de 2011

vida nova

 Está um dia lindo neste fim de semana comprido. Apetece-me ir para o mar, mas estou em casa a trabalhar numa arguição de doutoramento na minha Universidade. É trabalho sério, absorvente, cansativo.
 E dou por mim a pensar que é preciso trabalhar mais e melhor.
 Não vou comentar o resultado das eleições. Qualquer pessoa minimamente inteligente o antecipou.  Era evidente. O povo fez zapping e mudou de canal. E agora?
 Se alguma coisa há de bom na situação presente é o baixo nível geral de expectativas e a consciência da invitabilidade de sacrifícios. Toda a gente está preparada para aceitar, melhor ou pior, uma baixa de nível de vida e de consumo.
 Problema mesmo são as pessoas que já estão no limite (quando não o ultrapassaram mesmo) e não estão em condições objetivas de suportar o que aí vem. Há demasiadas famílias insolventes e há demasiadas empresas insolventes, hoje já e no futuro próximo.
 Vai haver angústia e desespero. Vai haver turbulência na sociedade.
 Há também toda uma geração que se habituou perigosamente à prosperidade e à facilidade, e que vai sofrer amargamente.
 Mas vai haver também a oportunidade de mudar de vida, pessal e colectivamente. Portugal vai mudar e vai mudar para melhor. Depois de um tempo de vacas magras virão as vacas gordas.
 Commonsense espera bem que Portugal não perca esta oportunidade para se modernizar, para deixar os paradigmas saloios que o têm guiado, e para se passar a assemelhar a algo de parecido com a   Holanda ou a Dinamarca.
 Se assim for, terá valido a pena.