segunda-feira, 29 de março de 2010

...uma nova moralidade política para Portugal

Depois da longa noite barrosista, quando a inteligência era rarefeita e o mainstream o único caminho, finalmente as coisas mudaram no PSD.
Agora é preciso trabalhar. Na velha linha de Sá Carneiro, o PSD tem de desempenhar o seu papel de ser o canal de representação política democrática dos cidadãos que nele confiarem, o medium, o meio de ligação entre os cidadãos e o poder. Tem de ouvir com atenção e tem de servir com humildade.
O tempo é difícil e o caminho é estreito.
O PEC é inevitável, depois de o Partido Socialista ter comprado as suas maiorias com o dinheiro de todos, criando um buraco abissal nas contas públicas. Mas se é inevitável, não deixa de ser aperfeiçoável. Sobretudo em aliviar tanto quanto possível o sacrifício da classe média. É precisa maior equidade no sacrifício. Não se trata do velho slogan «os ricos que paguem a crise» mas sim que paguem o que for justo que paguem. Em vez de serem sempre os mesmos, a classe média, a pagar a factura quase inteira.
Por outro lado, importa dizer a verdade. Aquilo que a propaganda do PS tem ocultado, que Portugal está á beira da falência, se é que não está mesmo já falido. Só assim as pessoas comuns começarão a compreender o que as espera e a acautelar-se o mais possível.
Já agora, «last but not least», é preciso denunciar a continuação dos gastos públicos inúteis, do excesso de automóveis, das verbas escandalosas dos gabinetes, das PPP ruinosas, dos negócios entre o Estado e os amigos do PS sempre desequilibrados a favor destes últimos.
É necessário começar já a pregar uma nova moralidade política para Portugal.

domingo, 28 de março de 2010

good bye barrosismo

A era do barrosismo começou com o dias-loureirismo, ainda antes do guterrismo. Prolongou-se com o santanalopismo e com o manuelismo. Acabou. Não chegou ao rangelismo.
Caracterizou-se por uma acentuada viragem à direita do PSD, a colar ao CDS, e mesmo a iniciar com ele uma certa (con)fusão. Foi responsável pela progressiva perda do centro do eleitorado para o PS.
O barrosismo fez a sua última tentativa de misceginação entre o PSD e o CDS com a candidatura de Rangel, um CDS travestido de PSD.
A vitória de Passos Coelho, com mais de 61% acabou com tudo isso.
O PSD e o CDS são partidos diferentes, com ideologias distintas e bases de apoio próprias.
Temos agora o PSD centrado no seu lugar, na pequena e média burguesia, nas profissões liberais, nos técnicos competentes, nos professores, nos jovens. Naqueles que anseiam pelo progresso social e pessoal.

Mas a melhor notícia é o fim da falta de alternativas ao PS. Agora sim, há oposição, há alternativa e, espero eu bem, haverá um novo governo que governe em vez de palavrear.

quinta-feira, 25 de março de 2010

o PEC já está a falhar antes de começar

O PEC não chega. É o costume: too litle, too late. É claro que Bruxelas o vai endurecer, designadamente vai exigir uma redução séria e drástica da despesa pública.
Mas esta proposta do PEC já deu mau resultado. O rating de Portugal já começou a degradar-se.
Vale a pena ler o que diz o Der Spiegel (edição inglesa de hoje):

The European Union was already having difficulty deciding what to do about Greece's financial difficulties. Now, Lisbon is threatening to become the next Athens. Fitch on Wednesday downgraded Portugal's credit rating, sending the euro tumbling.

domingo, 21 de março de 2010

a lei da rolha do PSD

Para quem conhece o PSD bem, como eu, que o fundei, o que se passou com a chamada «lei da rolha» no Congresso do PSD foi claro e não tem nenhuma importância. Mas, para os outros não é, e por isso eu explico.
Desde o princípio (leia-se, 1974) que existem no PSD, primeiro PPD, os que têm acesso aos meios de comunicação social e os que não têm. Isto cria desigualdades no debate político.
O «Zé Militante», que não tem acesso à comunicação social, sempre se ressentiu contra o baronato, que tem e que usa o acesso à comunicação social para bem das suas teses políticas e jogadas de poder, em detrimento dos outros. Por isso, são recorrentes, em todos os congressos em que participei, as críticas acerbas, descomposturas e até quase insultos contra os que, perto dos combates eleitorais, vão para os jornais e as televisões «dizer mal do Partido». A isto acresce um certo sentido clubístico do partido e muito «amor à camisola».
Neste caso, foi mais pessoalizado (o que só uma enorme incompetência dos jornalistas que cobriram o congresso não notou): foi uma revolta do povo laranja contra o Pacheco Pereira.
O Pacheco Pereira despreza o povo laranja, que considera inculto, bronco, grunho, emocional, enfim... pouco intelectual. Por sua vez o povo laranja detesta o Pacheco Pereira, que considera altivo, discriminador, snob, e nada respeitador da democracia interna. Para o povo laranja as coisas discutem-se por dentro, nas secções e nas distritais... nunca nos jornais e na televisão.
E foi isso que se passou. O povo laranja, por maioria de 3/5, mandou calar o Pacheco Pereira.
É óbvio que ele não se vai calar e que nada vai acontecer, porque nenhum órgão disciplinar irá castigar quem quer que seja por exprimir livremente a sua opinião na comunicação social.

Perguntar-me-ão, então, porque é que antes isto nunca aconteceu? É que antigamente sempre houve uma liderança que impedia que isto acontecesse. Agora não há...
Antigamente, a própria Mesa falava com os proponentes, dava-lhes atenção. concordava que «os gajos eram filhos de tudo o que eles quisessem, mas aquilo não podia ser». E transformava a proposta de deliberação em recomendação que era, depois, vagamente, aludida nas conclusões do congresso.
Só que, antigamente, o pessoal político liderante tinha outra qualidade.

“Espero que o próximo líder do PSD não seja escolhido pelo aspecto físico.”

Manuela Ferreira Leite não gosta de homens bem-parecidos. E di-lo na qualidade de (ainda) líder do PSD. Que o dissesse no divan do psicanalista, ainda vá que não vá... Mas o PSD não tem culpa do fracasso do casamento de Manuela Ferreira Leite.
Commonsense acha que, depois de tudo o que já viu, o ex-marido de Manuela Ferreira Leite tem toda a desculpa por a ter deixado: mas acha que ele não tem nenhuma desculpa por ter casado com ela.
E pergunta: porque é que Manuela Ferreira Leite não vai para as Noelistas e deixa de importunar o PSD?

sábado, 20 de março de 2010

Aos Católicos da Irlanda

Pela enorme importância que tem transcrevo na íntegra a Carta Pastoral de Bento XVI aos Católicos da Irlanda. 

Origem: www.vatican.va

Carta Pastoral
do Santo Padre Bento XVI
aos Católicos na Irlanda

 
    Tradução não oficial

1. Amados Irmãos e Irmãs da Igreja na Irlanda, é com grande preocupação que vos escrevo como Pastor da Igreja universal. Como vós, fiquei profundamente perturbado com as notícias dadas sobre o abuso de crianças e jovens vulneráveis da parte de membros da Igreja na Irlanda, sobretudo de sacerdotes e religiosos. Não posso deixar de partilhar o pavor e a sensação de traição que muitos de vós experimentastes ao tomar conhecimento destes actos pecaminosos e criminais e do modo como as autoridades da Igreja na Irlanda os enfrentaram.
Como sabeis, convidei recentemente os bispos irlandeses para um encontro aqui em Roma a fim de referir sobre o modo como trataram estas questões no passado e indicar os passos que empreenderam para responder a esta grave situação. Juntamente com alguns altos Prelados da Cúria Romana ouvi quanto tinham para dizer, quer individualmente quer em grupo, enquanto propunham uma análise dos erros cometidos e das lições aprendidads, e uma descrição dos programas e dos protocolos hoje existente. As nossas reflexões foram francas e construtivas. Alimento a confiança de que, como resultado, os bispos se encontrem agora numa posição mais forte para levar por diante a tarefa de reparar as injustiças do passado e para enfrentar as temáticas mais amplas relacionadas com o abuso dos menores segundo modalidades conformes com as exigências da justiça e com os ensinamentos do Evangelho.

2. Por meu lado, considerando a gravidade destas culpas e a resposta muitas vezes inadequada que lhes foi reservada da parte das autoridades eclesiásticas no vosso país,, decidi escrever esta Carta Pastoral para vos expressar a minha proximidade, e para vos propor um caminho de cura, de renovação e de reparação.
Na realidade, como muitos no vosso país revelaram, o problema do abuso dos menores não é específico nem da Irlanda nem da Igreja. Contudo a tarefa que agora tendes à vossa frente é enfrentar o problema dos abusos que se verificaram no âmbito da comunidade católica irlandesa e de o fazer com coragem e determinação. Ninguém pense que esta dolorosa situação se resolverá em pouco tempo. Foram dados passos em frente positivos, mas ainda resta muito para fazer. É preciso perseverança e oração, com grande confiança na força restabelecedora da graça de Deus.
Ao mesmo tempo, devo expressar também a minha convicção de que, para se recuperar desta dolorosa ferida, a Igreja na Irlanda deve em primeiro lugar reconhecer diante do Senhor e diante dos outros, os graves pecados cometidos contra jovens indefesos. Esta consciência, acompanhada de sincera dor pelo dano causado às vítimas e às suas famílias, deve levar a um esforço concentrado para garantir a protecção dos jovens em relação a semelhantes crimes no futuro.
Enquanto enfretais os desafios deste momento, peço-vos que vos recordeis da «rocha de que fostes talhados» (Is 51, 1). Reflecti sobre as contribuições generosas, com frequência heróicas, oferecidas à Igreja e à humanidade como tal pelas passadas gerações de homens e mulheres irlandeses, e deixai que isto gere impulso para um honesto auto-exame e um convicto programa de renovação eclesial e individual. A minha oração é por que, assistida pela intercessão dos seus muitos santos e purificada pela penitência, a Igreja na Irlanda supere a presente crise e volte a ser uma testemunha convincente da verdade e da bondade de Deus omnipotente, manifestadas no seu Filho Jesus Cristo.

3. Historicamente os católicos da Irlanda demonstraram-se uma grande força de bem quer na pátria quer fora. Monges célticos, como São Colombano, difundiram o Evangelho na Europa Ocidental lançando as bases da cultura monástica medieval. Os ideais de santidade, de caridade e de sabedoria transcendente que derivam da fé cristã, encontraram expressão na construção de igrejas e mosteiros e na instituição de escolas, bibliotecas e hospitais que consolidaram a identidade espiritual da Europa. Aqueles missionários irlandeses tiraram a sua força e inspiração da fé sólida, da guia forte e dos comportamentos morais rectos da Igreja na sua terra natal.
A partir do século XVI, os católicos na Irlanda sofreram um longo período de perseguição, durante o qual lutaram para manter viva a chama da fé em circunstâncias perigosas e difíceis. Santo Oliver Plunkett, o Arcebispo mártir de Armagh, é o exemplo mais famoso de uma multidão de corajosos filhos e filhas da Irlanda dispostos a dar a própria vida pela fidelidade ao Evangelho. Depois da Emancipação Católica, a Igreja teve a liberdade de crescer de novo. Famílias e inúmeras pessoas que tinham preservado a fé durante os tempos das provações tornaram-se a centelha de um grande renascimento do catolicismo irlandês no século XIX. A Igreja forneceu escolarização, sobretudo aos pobres, e isto deu uma grande contribuição à sociedade irlandesa. Um dos frutos das novas escolas católicas foi um aumento de vocações: gerações de sacerdotes, irmãs e irmãos missionários deixaram a pátria para servir em todos os continentes, sobretudo no mundo de língua inglesa. Foram admiráveis não só pela vastidão do seu número, mas também pela robustez da fé e pela solidez do seu empenho pastoral. Muitas dioceses, sobretudo em África, América e Austrália, beneficiaram da presença de clero e religiosos irlandeses que anunciaram o Evangelho e fundaram paróquias, escolas e universidades, clínicas e hospitais, que serviram tanto os católicos, como a sociedade em geral, com atenção especial às necessidades dos pobres.
Em quase todas as famílias da Irlanda houve alguém – um filho ou uma filha, uma tia ou um tio – que deu a própria vida à Igreja. Justamente as famílias irlandesas têm em grande estima e afecto os seus queridos, que ofereceram a própria vida a Cristo, partilhando o dom da fé com outros e actualizando-a num serviço amoroso a Deus e ao próximo.

4. Contudo, nos últimos decénios a Igreja no vosso país teve que se confrontar com novos e graves desafios à fé que surgiram da rápida transformação e secularização da sociedade irlandesa. Verificou-se uma mudança social muito rápida, que muitas vezes atingiu com efeitos hostis a tradicional adesão do povo ao ensinamento e aos valores católicos. Com frequência as práticas sacramentais e devocionais que sustentam a fé e a tornam capaz de crescer, como por exemplo a confissão frequente, a oração quotidiana e os ritos anuais, não foram atendidas. Determinante foi também neste período a tendência, até da parte de sacerdotes e religiosos, para adoptar modos de pensamento e de juízo das realidades seculares sem referência suficiente ao Evangelho. O programa de renovação proposto pelo Concílio Vaticano II por vezes foi mal compreendido e na realidade, à luz das profundas mudanças sociais que se estavam a verificar, não era fácil avaliar  o modo melhor de o realizar. Em particular, houve uma tendência, ditada por recta intenção mas errada, a evitar abordagens penais em relação a situações canónicas irregulares. É neste contexto geral que devemos procurar compreender o desconcertante problema do abuso sexual dos jovens, que contribuiu em grande medida para o enfraquecimento da fé e para a perda do respeito pela Igreja e pelos seus ensinamentos.
Só examinando com atenção os numerosos elementos que deram origem à crise actual é possível empreender uma diagnose clara das suas causas e encontrar remédios eficazes. Certamente, entre os factores que para ela contribuíram podemos enumerar: procedimentos inadequados para determinar a idoneidade dos candidatos ao sacerdócio e à vida religiosa; insuficiente formação humana, moral, intelectual e espiritual nos seminários e nos noviciados; uma tendência na sociedade a favorecer o clero e outras figuras com autoridade e uma preocupação inoportuna pelo bom nome da Igreja e para evitar os escândalos, que levaram como resultado à malograda aplicação das penas canónicas em vigor e à falta da tutela da dignidade de cada pessoa. É preciso agir com urgência para enfrentar estes factores, que tiveram consequências tão trágicas para as vidas das vítimas e das suas famílias e obscureceram a luz do Evangelho a tal ponto, ao qual nem sequer séculos de perseguição não tinham chegado.

5. Em diversas ocasiões desde a minha eleição para a Sé de Pedro, encontrei vítimas de abusos sexuais, assim como estou disponível a fazê-lo no futuro. Detive-me com elas, ouvi as suas vicissitudes, tomei nota do seu sofrimento, rezei com e por elas. Precedentemente no meu pontificado, na preocupação por enfrentar este tema, pedi aos Bispos da Irlanda, por ocasião da visita ad limina de 2006, que «estabelecessem a verdade de quanto aconteceu no passado, tomassem todas as medidas adequadas para evitar que se repita no futuro, garantissem que os princípios de justiça sejam plenamente respeitados e, sobretudo, curassem as vítimas e quantos são atingidos por estes crimes abnormes» (Discurso aos Bispos da Irlanda, 28 de Outubro de 2006).
Com esta Carta, pretendo exortar todos vós, como povo de Deus na Irlanda, a reflectir sobre as feridas infligidas ao corpo de Cristo, sobre os remédios, por vezes dolorosos, necessários para as atar e curar, e sobre a necessidade de unidade, de caridade e de ajuda recíproca no longo processo de restabelecimento e de renovação eclesial. Dirijo-me agora a vós com palavras que me vêm do coração, e desejo falar a cada um de vós individualmente e a todos como irmãos e irmãs no Senhor.

6. Às vítimas de abuso e às suas famílias
Sofrestes tremendamente e por isto sinto profundo desgosto. Sei que nada pode cancelar o mal que suportastes. Foi traída a vossa confiança e violada a vossa dignidade. Muitos de vós experimentastes que, quando éreis suficientemente corajosos para falar de quanto tinha acontecido, ninguém vos ouvia. Quantos de vós sofrestes abusos nos colégios deveis ter compreendido que não havia modo de evitar os vossos sofrimentos. É comprensível que vos seja difícil perdoar ou reconciliar-vos com a Igreja. Em seu nome expresso abertamente a vergonha e o remorso que todos sentimos. Ao mesmo tempo peço-vos que não percais a esperança. É na comunhão da Igreja que encontramos a pessoa de Jesus Cristo, ele mesmo vítima de injustiça e de pecado. Como vós, ele ainda tem as feridas do seu injusto padecer. Ele compreende a profundeza dos vossos padecimentos e o persistir do seu efeito nas vossas vidas e nos relacionamentos com os outros, incluídas as vossas relações com a Igreja. Sei que alguns de vós têm dificuldade até de entrar numa igreja depois do que aconteceu. Contudo, as mesmas feridas de Cristo, transformadas pelos seus sofrimentos redentores, são os instrumentos graças aos quais o poder do mal é infrangido e nós renascemos para a vida e para a esperança. Creio firmemente no poder restabelecedor do seu amor sacrifical – também nas situações mais obscuras e sem esperança – que traz a libertação e a promessa de um novo início.
Dirigindo-me a vós como pastor, preocupado pelo bem de todos os filhos de Deus, peço-vos com humildade que reflictais sobre quanto vos disse. Rezo a fim de que, aproximando-vos de Cristo e participando na vida da sua Igreja – uma Igreja purificada pela penitência e renovada na caridade pastoral – possais redescobrir o amor infinito de Cristo por todos vós. Tenho confiança em que deste modo sereis capazes de encontrar reconciliação, profunda cura interior e paz.

7. Aos sacerdotes e aos religiosos que abusaram dos jovens
Traístes a confiança que os jovens inocentes e os seus pais tinham em vós. Por isto deveis responder diante de Deus omnipotente, assim como diante de tribunais devidamente constituídos. Perdestes a estima do povo da Irlanda e lançastes vergonha e desonra sobre os vossos irmãos. Quantos de vós sois sacerdotes violastes a santidade do sacramento da Ordem Sagrada, no qual Cristo se torna presente em nós e nas nossas acções. Juntamente com o enorme dano causado às vítimas, foi perpetrado um grande dano à Igreja e à percepção pública do sacerdócio e da vida religiosa.
Exorto-vos a examinar a vossa consciência, a assumir a vossa responsabilidade dos pecados que cometestes e a expressar com humildade o vosso pesar. O arrependimento sincero abre a porta ao perdão de Deus e à graça do verdadeiro emendamento. Oferecendo orações e penitências por quantos ofendestes, deveis procurar reparar pessoalmente as vossas acções. O sacrifício redentor de Cristo tem o poder de perdoar até o pecado mais grave e de obter o bem até do mais terrível dos males. Ao mesmo tempo, a justiça de Deus exige que prestemos contas das nossas acções sem nada esconder. Reconhecei abertamente a vossa culpa, submetei-vos às exigências da justiça, mas não desespereis da misericórdia de Deus.

8. Aos pais
Ficastes profundamente transtornados ao tomar conhecimento das coisas terríveis que tiveram lugar naquele que deveria ter sido o ambiente mais seguro para todos. No mundo de hoje não é fácil construir um lar doméstico e educar os filhos. Eles merecem crescer num ambiente seguro, amados e queridos, com um forte sentido da sua identidade e do seu valor. Têm direito a ser educados nos valores morais autênticos, radicados na dignidade da pessoa humana, a serem inspirados pela verdade da nossa fé católica e a aprender modos de comportamento e de acção que os levem a uma sadia estima de si e à felicidade duradoura. Esta tarefa nobre e exigente está confiada em primeiro lugar a vós, seus pais. Exorto-vos a fazer a vossa parte para garantir a melhor cura possível dos jovens, quer em casa quer na sociedade em geral, enquanto que a Igreja, por seu lado, continua a pôr em prática as medidas adoptadas nos últimos anos para tutelar os jovens nos ambients paroquiais e educativos. Enquanto dais continuidade às vossas importantes responsabilidades, certifico-vos de que estou próximo de vós e que vos dou o apoio da minha oração.

9. Aos meninos e aos jovens da Irlanda
Desejo oferecer-vos uma particular palavra de encorajamento. A vossa experiência de Igreja é muito diversa da que fizeram os vossos pais e avós. O mundo mudou muito desde quando eles tinham a vossa idade. Não obstante, todos, em cada geração, estão chamados a percorrer o mesmo caminho da vida, sejam quais forem as circunstâncias. Todos estamos escandalizados com os pecados e as falências de alguns membros da Igreja, sobretudo de quantos foram escolhidos de modo especial para guiar e servir os jovens. Mas é na Igreja que encontrareis Jesus Cristo que é o mesmo ontem, hoje e sempre (cf. Hb 13, 8). Ele ama-vos e ofereceu-se a si próprio na Cruz por vós. Procurai uma relação pessoal com ele na comunhão da sua Igreja, porque ele nunca trairá a vossa confiança! Só ele pode satisfazer as vossas expectativas mais profundas e conferir às vossas vidas o seu significado mais pleno orientando-as para o serviço ao próximo. Mantende o olhar fixo em Jesus e na sua bondade e protegei no vosso coração a chama da fé. Juntamente com os vossos irmãos católicos na Irlanda olho para vós a fim de que sejais discípulos fiéis do nosso Deus e contribuais com o vosso entusiasmo e com o vosso idealismo tão necessários para a reconstrução e para o renovamento da nossa amada Igreja.

10. Aos sacerdotes e aos religiosos da Irlanda
Todos nós estamos a sofrer como consequência dos pecados dos nossos irmãos que traíram uma ordem sagrada ou não enfrentaram de modo justo e responsável as acusações de abuso. Perante o ultraje e a indignação que isto causou, não só entre os leigos mas também entre vós e as vossas comunidades religiosas, muitos de vós sentis-vos pessoalmente desanimados e também abandonados. Além disso, estou consciente de que aos olhos de alguns sois culpados por associação, e considerados como que de certo modo responsáveis pelos delitos de outros. Neste tempo de sofrimento, desejo reconhecer-vos a dedicação da vossa vida de sacerdotes e de religiosos e dos vossos apostolados, e convido-vos a reafirmar a vossa fé em Cristo, o vosso amor à sua Igreja e a vossa confiança na promessa de redenção, de perdão e de renovação interior do Evangelho. Deste modo, demonstrareis a todos que onde abunda o pecado, superabunda a graça (cf. Rm 5, 20).
Sei que muitos de vós estais desiludidos, transtornados e encolerizados pelo modo como estas questões foram tratadas por alguns dos vossos superiores. Não obstante, é essencial que colaboreis de perto com quantos têm a autoridade e que vos comprometais para fazer com que as medidas adoptadas para responder à crise sejam verdadeiramente evangélicas, justas e eficazes. Sobretudo, exorto-vos a tornar-vos cada vez mais claramente homens e mulheres de oração, seguindo com coragem o caminho da conversão, da purificação e da reconciliação. Deste modo, a Igreja na Irlanda haurirá nova vida e vitalidade do vosso testemunho ao poder redentor do Senhor tornado visível na vossa vida.

11. Aos meus irmãos bispos
Não se pode negar que alguns de vós e dos vossos predecessores falhastes, por vezes gravemente, na aplicação das normas do direito canónico codificado há muito tempo sobre os crimes de abusos de jovens. Foram cometidos sérios erros no tratamento das acusações. Compreendo como era difícil lançar mão da extensão e da complexidade do problema, obter informações fiáveis e tomar decisões justas à luz de conselhos divergentes de peritos. Contudo, deve-se admitir que foram cometidos graves erros de juízo e que se verificaram faltas de governo. Tudo isto minou seriamente a vossa credibilidade e eficiência. Aprecio os esforços que fizestes para remediar os erros do passado e para garantir que não se repitam. Além de pôr plenamente em prática as normas do direito canónico ao enfrentar os casos de abuso de jovens, continuai a cooperar com as autoridades civis no âmbito da sua competência. Claramente, os superiores religiosos devem fazer o mesmo. Também eles participaram em recentes encontros aqui em Roma destinados a estabelecer uma abordagem clara e coerente destas questões. É obrigatório que as normas da Igreja na Irlanda para a tutela dos jovens sejam constantemente revistas e actualizadas e que sejam aplicadas de modo total e imparcial em conformidade com o direito canónico.
Só uma acção decidida levada em frente com total honestidade e transparência poderá restabelecer o respeito e a benquerença dos Irlandeses em relação à Igreja à qual consagrámos a nossa vida. Isto deve brotar, antes de tudo, do exame de vós próprios, da purificação interior e da renovação espiritual. O povo da Irlanda espera justamente que sejais homens de Deus, que sejais santos, que vivais com simplicidade, que procureis todos os dias a conversão pessoal. Para ele, segundo a expressão de Santo Agostinho, sois bispos; contudo estais chamados a ser com eles seguidores de Cristo (cf. Discurso 340, 1). Exorto-vos portanto a renovar o vosso sentido de responsabilidade diante de Deus, a crescer em solidariedade com o vosso povo e a aprofundar a vossa solicitude pastoral por todos os membros da vossa grei. Em particular, sede sensíveis à vida espiritual e moral de cada um dos vossos sacerdotes. Sede um exemplo com as vossas próprias vidas, estai-lhes próximos, ouvi as suas preocupações, oferecei-lhes encorajamento neste tempo de dificuldades e alimentai a chama do seu amor a Cristo e o seu compromisso no serviço dos seus irmãos e irmãs.
Também os leigos devem ser encorajados a fazer a sua parte na vida da Igreja. Fazei com que sejam formados de modo que possam dizer a razão, de maneira articulada e convincente, do Evangelho na sociedade moderna (cf. 1 Pd 3, 15), e cooperem mais plenamente na vida e na missão da Igreja. Isto, por sua vez, ajudar-vos-á a ser de novo guias e testemunhas credíveis da verdade redentora de Cristo.

12. A todos os fiéis da Irlanda
A experiência que um jovem faz da Igreja deveria dar sempre fruto num encontro pessoal e vivificante com Jesus Cristo numa comunidade que ama e que oferece alimento. Neste ambiente, os jovens devem ser encorajados a crescer até à sua plena estatura humana e espiritual, a aspirar por ideais nobres de santidade, de caridade e de verdade e a inspirar-se nas riquezas de uma grande tradição religiosa e cultural. Na nossa sociedade cada vez mais secularizada, na qual também nós critãos muitas vezes temos dificuldade em falar da dimensão transcendente da nossa existência, precisamos de encontrar novos caminhos para transmitir aos jovens a beleza e a riqueza da amizade com Jesus Cristo na comunhão da sua Igreja. Ao enfrentar a presente crise, as medidas para se ocupar de modo justo de cada um dos crimes são essenciais, mas sozinhas não são suficientes: há necessidade de uma nova visão para inspirar a geração actual e as futuras a fazer tesouro do dom da nossa fé comum. Caminhando pela via indicada pelo Evangelho, observando os mandamentos e conformando a nossa vida de maneira cada vez mais próxima com a pessoa de Jesus Cristo, fareis a experiência da renovação profunda da qual hoje há uma urgente necessidade. Convido-vos a todos a perseverar neste caminho.

13. Amados irmãos e irmãs em Cristo, é com profunda preocupação por todos vós neste tempo de sofrimento, no qual a fragilidade da condição humana foi tão claramente revelada, que desejei oferecer-vos estas palavras de encorajamento e de apoio. Espero que as acolhais como um sinal da minha proximidade espiritual e da minha confiança na vossa capacidade de responder aos desafios do momento actual tirando renovada inspiração e força das nobres tradições da Irlanda de fidelidade ao Evangelho, de perseverança na fé e de firmeza na consecução da santidade. Juntamente com todos vós, rezo com insistência para que, com a graça de Deus, as feridas que atingiram muitas pessoas e famílias possam ser curadas e que a Igreja na Irlanda possa conhecer uma época de renascimento e de renovação espiritual.

14. Desejo propor-vos algumas iniciativas concretas para enfrentar a situação. No final do meu encontro com os Bispos da Irlanda, pedi que a Quaresma  deste ano fosse considerada como tempo de oração para uma efusão da misericórdia de Deus e dos dons de santidade e de força do Espírito Santo sobre a Igreja no vosso país. Agora convido todos vós a dedicar as vossas penitências da sexta-feira, durante todo o ano, de agora até à Páscoa de 2011, por esta finalidade. Peço-vos que ofereçais o vosso jejum, a vossa oração, a vossa leitura da Sagrada Escritura e as vossas obras de misericórdia para obter a graça da cura e da renovação para a Igreja na Irlanda. Encorajo-vos a redescobrir o sacramento da Reconciliação e a valer-vos com mais frequência da força transformadora da sua graça.
Deve ser dedicada também particular atenção à adoração eucarística, e em cada diocese deverão haver igrejas ou capelas reservadas especificamente para esta finalidade. Peço que as paróquias, os seminários, as casas religiosas e os mosteiros organizem tempos para a adoração eucarística, de modo que todos tenham a possibilidade de participar deles. Com oração fervorosa diante da presença real do Senhor, podeis fazer a reparação pelos pecados de abuso que causaram tantos danos, e ao mesmo tempo implorar a graça de uma renovada força e de um sentido da missão mais profundo por parte de todos os bispos, sacerdotes, religiosos e fiéis.
Tenho esperança em que este programa levará a um renascimento da Igreja na Irlanda na plenitude da própria verdade de Deus, porque é a verdade que nos torna livres (cf. Jo 8, 32).
Além disso, depois de me ter consultado e rezado sobre a questão, tenciono anunciar uma Visita Apostólica a algumas dioceses da Irlanda, assim como a seminários e congregações religiosas. A Visita propõe-se ajudar a Igreja local no seu caminho de renovação e será estabelecida em cooperação com as repartições competentes da Cúria Romana e com a Conferência Episcopal Irlandesa. Os pormenores serão anunciados no devido momento.
Além disso proponho que se realize uma Missão a nível nacional para todos os bispos, sacerdotes e religiosos. Alimento a esperança de que, haurindo da competência de peritos pregadores e organizadores de retiros quer da Irlanda como de outras partes, e reexaminando os documentos conciliares, os ritos litúrgicos da ordenação e da profissão e os recentes ensinamentos pontifícios, alcanceis um apreço mais profundo das vossas respectivas vocações, de modo a redescobrir as raízes da vossa fé em Jesus Cristo e a beber abundantemente nas fontes da água viva que ele vos oferece através da sua Igreja.
Neste Ano dedicado aos Sacerdotes, recomendo-vos de modo muito particular a figura de São João Maria Vianney, que teve uma compreensão tão rica do mistério do sacerdócio. «O sacerdote, escreveu, possui a chave dos tesouros do céu: é ele quem abre a porta, é ele o dispensador do bom Deus, o administrador dos seus bens». O cura d’Ars compreendeu bem como é grandemente abençoada uma comunidade quando é servida por um sacerdote bom e santo. «Um bom pastor, um pastor segundo o coração de Deus, é o tesouro maior que o bom Deus pode dar a uma paróquia e um dos dons mais preciosos da misericórdia divina». Por intercessão de São João Maria Vianney possa o sacerdócio na Irlanda retomar vida e a inteira Igreja na Irlanda crescer na estima do grande dom do ministério sacerdotal.
Aproveito esta ocasião para agradecer desde já a quantos se comprometerem no empenho de organizar a Visita Apostólica e a Missão, assim como os tantos homens e mulheres que em toda a Irlanda já se comprometeram pela tutela dos jovens nos ambientes eclesiásticos. Desde quando a gravidade e a extensão do problema dos abusos sexuais dos jovens em instituições católicas começou a ser plenamente compreendido, a Igreja desempenhou uma grande quantidade de trabalho em muitas partes do mundo, a fim de o enfrentar e remediar. Enquanto não se deve poupar esforço algum para melhorar e actualizar procedimentos já existentes, encoraja-me o facto de que as práticas de tutela em vigor, adoptadas pelas Igrejas locais, são consideradas, nalgumas partes do mundo, um modelo que deve ser seguido por outras instituições.
Desejo concluir esta Carta com uma especial Oração pela Igreja na Irlanda, que vos envio com o cuidado que um pai tem pelos seus filhos e com o afecto de um cristão como vós, escandalizado e ferido por quanto aconteceu na nossa amada Igreja. Ao utilizardes esta oração nas vossas famílias, paróquias e comunidades, que a Bem-Aventurada Virgem Maria vos proteja e vos guie pelo caminho que conduz a uma união mais estreita com o seu Filho, crucificado e ressuscitado. Com grande afecto e firme confiança nas promessas de Deus, concedo de coração a todos vós a minha Bênção Apostólica em penhor de força e paz no Senhor.

Vaticano, 19 de Março de 2010, Solenidade de São José

Benedictus PP. XVI

ORAÇÃO PELA IGREJA NA IRLANDA

Deus dos nossos pais,
Renova-nos na fé que é para nós vida e salvação
na esperança que promete perdão e renovação interior,
na caridade que purifica e abre os nossos corações
para te amar, e em ti, amar todos os nossos irmãos e irmãs.
Senhor Jesus Cristo
possa a Igreja na Irlanda renovar o seu milenário compromisso
na formação dos nossos jovens no caminho da verdade,
da bondade, da santidade e do serviço generoso à sociedade.
Espírito Santo, consolador, advogado e guia,
inspira uma nova primavera de santidade e de zelo apostólico
para a Igreja na Irlanda.
Possa a nossa tristeza e as nossas lágrimas
o nosso esforço sincero por corrigir os erros do passado,
e o nosso firme propósito de correcção,
dar abundantes frutos de graça
para o aprofundamento da fé
nas nossas famílias, paróquias, escolas e associações,
e para o progresso espiritual da sociedade irlandesa,
e para o crescimento da caridade, da justiça, da alegria
e da paz, na inteira família humana.
A ti, Trindade,
com plena confiança na amorosa protecção de Maria,
Rainha da Irlanda, nossa Mãe,
e de São Patrício, de Santa Brígida e de todos os santos,
recomendamos a nós próprios, os nossos jovens,
e as necessidades da Igreja na Irlanda.
Amém.

... nem 8 nem 80 ...

Muita gente o diz... e pode ser que seja verdade... que os partidos precisam de renovação.
O Rangel entrou no PSD, segundo as minhas últimas informações, há dois anos, vindo do CDS (embora já não se lembrasse de ter assinado ficha pelo CDS). Nesta lógica, terá mais legitimidade do que eu, que entrei em 1974 (até tenho diploma de Fundador).
Mas, francamente, 2 anos... ou mesmo 4 anos... ou 5...?!!!!!!!!!
Um partido político não é um clube de futebol que contrate novos lideres para cada combate eleitoral (campeonato), independentemente até de uma ideologia própria.
É um péssimo sinal que Rangel não se lembre de ter aderido ao CDS há bem pouco tempo. Ou tem má memória ou mente que nem um Sócrates.
Também é mau não saiba distinguir ideologicamente o PSD do CDS. Eu sei, eu sei, que os interesses económicos desejam uma fusão (merger, acquisition, take-over) de um partido com o outro para formar o grande partido da direito rica, onde não deixariam de ficar com uma golden share. Mas, para mim, há diferenças ideológicas importantes entre o CDS e o PSD. O CDS é um partido puramente conservador (quando não mais à direita) que serve fundamentalmente de representante político da oligarquia portuguesa; o PSD é um partido interclassista, de classe média, de centro esquerda e centro direita, reformista e não conservador.
Nem me convence o argumento da vitória de Rangel nas eleições europeias. O que sucedeu então, foi mais uma derrota de Sócrates do que uma vitória de Rangel. E Sócrates só não perdeu as legislativas, porque a Manuela ainda perdeu mais do que ele.
Rangel dá um bom líder parlamentar, mas não um líder para o PSD.
O PSD precisa de se apresentar ao eleitorado como representante da classe média pequena, humilde, que vem a Lisboa no IC-19 (e não na A-5), que anda em transportes públicos e carro modesto, que está crivada de dívidas, empobrecida, assustada com o futuro, que não conhece banqueiros, só os cobradores dos bancos. É este povo pequeno, laborioso, trabalhador, sério, e hoje imensamente vulnerável que o PSD representa. Se o PSD não lhe captar os votos, vai perder outra vez.
Os banqueiros vão ter de compreender que o voto político é por cabeça, não é por capital.
Vou votar no Passos Coelho.

domingo, 14 de março de 2010

Icesave gone bust

Os Islandeses, em referendo, recusaram o chamado Icesave, isto é, recusaram-se a pagar as falências de alguns Bancos finlandeses aos seus credores Ingleses e Holandeses.
Fizeram bem.
A dívida relativa ao Icesave não era dos Islandeses em comum, era daqueles Bancos em particular e, em caso de irregularidades na gestão, também dos seus gestores e, quiçá ainda, dos seus accionistas.
Do mesmo modo, que se falir algum ou alguns Bancos portugueses, não são todos os Portugueses a ter de pagar tais falências.

Não há nada que justifique que os lucros sejam pessoais do gestores e dos accionistas e que os prejuízos sejam socializados.

sábado, 13 de março de 2010

congresso do PSD

No Congresso do PSD, três personalidades políticas distintas:
Rangel demagogo e populista; não se sabe se do PSD se do CDS, sem consistência ideológica.
A. Branco, calmo, cerebral, ideológico, muito mais virado para dentro do Partido que para a saciedade civil. O ar de «pinoca do porto» não ajuda a ganhar votos. Pior ainda, em campanha eleitoral o slogan soa mal: VOTA EM BRANCO. Fatal.
Passos Coelho, muito experiente, a dominar, mas com um deslize final surpreendente.


Parece que temos PSD para a oposição.

sexta-feira, 12 de março de 2010

bullying again

O professor suicidou-se a 9 de Fevereiro, tendo deixado, no seu computador pessoal, um texto que afirmava: “Se o meu destino é sofrer, dando aulas a alunos que não me respeitam e me põem fora de mim, não tendo outras fontes de rendimento, a única solução apaziguadora será o suicídio”. (Público, 13.III.2010)

Mais outro caso de bullying mortal. Agora foi um professor que se suicidou por não aguentar a pressão a que era submetido pelos alunos.
As autoridades apressaram-se a desculpar: o professor estaria em estado de fragilidade psicológica. Mas será que alguém se suicida sem estar em estado de grave fragilidade psicológica?! Só se suicida quem chega a um estado de fragilidade psicológica de desespero e de dor interior insuportáveis, tão insuportáveis que só a morte os alivia.
Em ambos os casos o suicídio foi provocado por pressão dos alunos.
Em ambos os casos as autoridades menorizaram o sucedido e recusaram investigar e procurar castigar os responsáveis. Em vez disso lançaram mão de psicólogos para aliviar o sofrimento causado nos agressores, para aliviar o remorso. Assim tentaram anestesiar o sentimento de culpa, para que não haja sequer arrependimento, para que tudo continue na mesma.
Porque as autoridades do Ministério da Educação, no fundo, sabem bem que os últimos responsáveis são eles mesmos, quando permitem um ambiente geral de indisciplina, violência e irresponsabilidade.
Vai de mal a pior o sistema de ensino em Portugal.

quinta-feira, 11 de março de 2010

o boy de todos os boys

o Ministro Teixeira Santos teve o mau senso e mau gosto de tartar por «boys» os Presidente de Juntas de Freguesia eleitos democraticamente pelos Portugueses. Pior ainda, fê-lo em pela sessão parlamentar.
Vindo de quem vem, é de duvidar: o Ministro é totalmente insensato, privo de contenção verbal e de entendimento político ou escolheu ofender deliberadamente quem foi eleito pelo povo.
Seja qual for, sejam mesmo as duas, este Ministro não pode continuar a merecer o respeito nem a confiança dos Portugueses.

domingo, 7 de março de 2010

bullying

Um miúdo matou-se para fugir ao bullying. Agora toda a gente se incomoda.
Mas ninguém se incomodou durante anos perante os crescimento e consolidação do bullying nas escolas portuguesas. Quase ninguém, para ser justo, porque já chegou a haver uma condenação judicial.
O bullying ganhou foros de prática cultural, nas praxes académicas. Uns acham engraçado, outros inevitável.
Todos os anos protesto na minha Faculdade contra a praxe, mas as pessoas supostamente sábias e politicamente correctas encolhem os ombros e não me levam a sério. Até me acham ingénuo.
A praxe académica é uma forma particularmente perversa de bullying. Traduz-se na humilhação (quando não mesmo, na agressão) dos mais fracos pelos mais fortes. É moralmente repugnante. E o pior é que até há vítimas que acham graça e investem na sua própria humilhação para no anos seguintes poderem humilhar os mais novos. 
Mas só há bullying porque há cobardia pessoal e institucional nos dirigentes das escolhas, das polícias, e da sociedade, que o deviam evitar. E também naqueles que aceitam sujeitar-se a à praxe. No ano em que entrei na Faculdade, 1965, ai de quem tentasse praxar-me: havia sangue de certeza.

No caso que agora - só agora - arrepia toda agente, há responsáveis. aqueles que o fizeram e aqueles que o permitiram. Foi homicídio involuntário, mas foi homicídio.
Estão identificados responsáveis - autores, co-autores, auxiliares, cúmplices, instigadores. E estão também identificados os responsáveis - dirigentes escolares que o permitiram com a sua displicência, negligência e cobardia.
Como homicídio involuntário (ninguém queria que o miúdo morresse), o Ministério Público tem de abrir o inquérito, constituir arguidos e acusar. E o Tribunal tem de julgar.
Só que aí entrará previsivelmente a maior e mais grave de todas as cobardias: o vício do politicamente correcto do nosso já bem conhecido Procurador-Geral da República, que vai - já o adivinho - achar que não houve crime... apenas um problema social que se trata com psicólogos.

sexta-feira, 5 de março de 2010

the dark side of the moon (3) sticks and stones

A indústria da construção é antiga, digna e laboriosa. Mas precisa de obras e de adjudicações. A construção pesada precisa de obras pesadas e essas é só o Estado que as dá a construir: obras públicas.
Para obter as adjudicações é preciso persuadir quem as decide.

A partir daqui é ficção: qualquer semelhança com pessoas e realidades é pura coincidência.

Para obter uma adjudicação a construtora entrega uma quantia ao partido político que está no poder. Às vezes a um seu membro que fica com alguma coisa para si (portes). Usa-se muito em vésperas de campanhas eleitorais. O dito partido (seja este ou outro, não estou a referir nenhum em especial), lá faz com que o Ministério, ou o serviço público, ou a empresa pública em questão adjudiquem a obra à dita construtora.

Na execução da obra há sempre trabalhos a mais. É natural. Alguns são mesmo verdadeiros. Outros, porém, são fictícios e servem para que a construtora receba de volta do dono da obra (Estado, serviço público ou empresa pública) aquilo que pagou ao partido do poder. Em casos mais perversos, o dinheiro não chega sequer ao partido e fica no intermediário, o «homem da mala», que quase sempre é um dirigente partidário. Assim se explicam os milagres económicos que sucedem a alguns políticos e ex-políticos, que entraram nessa prestimosa actividade sem um tostão e acabaram milionários (mais uma vez, não estou a pensar em ninguém em especial).

Como daqui resulta, acaba sempre por ser o Estado a financiar o tal partido. Só que, em vez de financiar todos na devida proporção, financia apenas o que está no poder. Assim se explica a promiscuidade entre políticos, partidos políticos e grandes construtoras (continuo a não me referir a ninguém especialmente).