Nos tempos e Salazar e Franco, havia um entendimento tácito entre
Portugal e Espanha, segundo o qual Portugal não se envolvia na questão
das nacionalidades espanholas e Espanha não entrava em comportamentos
hostis a Portugal. Foi nessa linha de entendimento que Espanha apoiou
sempre a política ultramarina portuguesa e Portugal a centralização
castelhana.
Depois do Salazarismo e do Franquismo, Portugal e
Espanha mantiveram, por hábito, por inércia ou mesmo por inteligência, a
política de não hostilização mútua e até de apoio recíproco.
Agora,
o Governo de Madrid quebrou esta prática saudável e resolveu formular
unilateralmente nas Nações Unidas a pretensão à zona atlântica das
Selvagens. Depois de décadas de paz, a Espanha regressou a práticas
antigas de cobiça e predação dos interesses portugueses.
Se em
Portugal houvesse política externa, dever-se-ia olhar atentamente para a
questão das autonomias ibéricas e sustentar o princípio da
auto-determinação, também nas Nações Unidas, em relação a Gibraltar, à
Catalunha, ao País Basco e à Galiza.
Talvez assim Madrid
compreendesse as realidades da vida. Durante séculos, Portugal aprendeu
que a Espanha só respeita o que é forçada a respeitar.