Esperei pelo fim da visita e pelo arrefecimento dos ânimos.
Como católico, comungo um pouco da tendência portuguesa de ver o Papa, menos como um Chefe de Estado, como um líder religioso, e mais como o representante pessoal de Cristo na Terra, o único homem que fala com Deus. Para mim, há Santidade naquele homem excepcional.
Mas Bento XVI é também um homem e, como homem, talvez o maior filósofo da actualidade, o maior teólogo com certeza, e uma pessoa prodigiosamente culta e inteligente.
Acossado pelos casos de pedofilia na Igreja, como se o pedófilo fosse ele mesmo, como se a própria Igreja Católica fosse uma organização pedófila, veio a Fátima procurar - e encontrou - o conforto pessoal do amor, do carinho, da admiração, da devoção de centenas de milhar de pessoas. Muitas não muito, pouco ou mesmo nada praticantes, uma infinidade de jovens e de crianças. Antes de chegar disse que o perdão não substitui a justiça à qual têm de ser submetidos os que infringiram, que o ataque à Igreja Católica, neste caso, não veio de fora, mas de dentro, de quem agiu daquele modo, e que nenhuma força destruirá a Igreja de Cristo. A Igreja é eterna e, por estranho que pareça a pessoas pouco informadas, já passou por dificuldades mais graves e cometeu pecados piores. E sobreviveu. Também agora vai sobreviver. Todas as vezes aprendeu. Desta vez, que é necessário um maior controlo e que é bem má ideia tentar esconder a vergonha.
Mais do que isso, Bento XVI deixou-nos palavras sábias. Ainda não as consegui absorver na totalidade. Mas para quem se quiser familiarizar melhor com o pensamento de Bento XVI recomendo a leitura urgente da Encíclica,
Caritas in veritate, que pode ser contrada e copiada no site do Vaticano -
http://www.vatican.va/.
Notei também como na comunicação social se calaram as vozes soezes que de tudo atacavam a Igreja Católica e o próprio Papa, a propósito de tudo e de nada, desde os casos de pedofilia até aos prevervativos.
Finalmente, foi para mim supreendente constatar como se abriu a face e o sorriso daquele homem tímido e reservado, perante o enorme carinho que sentiu de tantos milhares das suas ovelhas.