Excerto da homilia do Bispo D. Carlos Azevedo na missa da 11:00 horas na Igreja da Santíssima Trindade em Fátima:
Tantas vezes, como na actual situação, não se vê logo, as coisas não andam, a vida não corre, ninguém se ouve de modo a guardar no coração. Como ser aqui profeta da esperança? Nesta hora europeia, onde se dá o ultimo suspiro de um mundo velho, próximo de desaparecer!
A esperança não se fundamenta na abundância de bens. O que endireitará o caminho do futuro será o afastamento firme de mentiras tortuosas da contabilidade, de contracurvas financeiras, de paraísos que são inferno para a economia real, de descrédito da poupança, da perda dramática da confiança, de atentados à criação. O que nos permitirá não ser cana agitada por qualquer vento de crise será uma educação consistente, uma justiça eficaz e pronta, uma ética rigorosa no controle do Estado. A situação precária haveremos de mudá-la em estável. Deus, por Jesus, acompanha-nos nas lutas e no empenhamento de libertação até ao último dia.
A esperança que nos ilumina jorra de um Deus libertador da escravidão dos poderosos, esquecidos de que serão eles as vítimas da pobreza em que nos deixam. É muito curta a visão dos que se julgam acima dos desempregados porque terão de trabalhar para os sustentar. Caem na própria rede os que não esclarecem a sua posição sobre a salvaguarda do ambiente e da criação. Há-de vir um momento e não tardará, em que, como nos tempos antigos, se saldem todas as dívidas e se recomece de novo, como em ano jubilar.
Para já, a esperança empenha a nossa vontade em libertar de perigos a estrada futura, em exigir uma política que não profane a dignidade de nenhum cidadão, que não crie desolação em quem constrói, na proximidade dos pobres, vias de promoção humana: no ensino, na saúde, no apoio às crianças e aos mais idosos.
Repartir o trabalho, regressar à agricultura, optar pela austeridade, no estilo de vida, serão hoje sinais claros da liberdade.