Os muitos portugueses que se abstiveram não foram tantos como os número oficiais exprimiram porque os cadernos eleitorais estão notoriamente desactualizados, com muitas inscrições a mais. Mas foram muitos milhares. Dezenas, talvez centenas de milhar. Foram demais.
Desses abstencionaistas, alguns, poucos, foram acidentais: não votaram porque estavam fora, porque estavam doentes ou porque circunstancialmente não puderam. A maior parte dos abstencionistas tomaram uma atitude intencional e ostensiva de repudio, de repugnância e até de nojo pelo processo eleitoral. Vociferaram abertamente contra os políticos e os partidos que «são todos iguais», desonestos, mentirosos, e outro epítetos que não repito aqui. Preocupantemente igual à doutrina anti-democrática oficial do Salazarismo, da qual me lembro bem.
Além de não votarem e de, assim, recusarem o processo formal da democracia representativa, anseiam por um chefe forte e autoritário, competente e sério, que não seja «político» e que, com mão de ferro, «nos tire desta vida».
E mostram tendência para particiar em eventos de massas organizados nas ruas, maratonas, marchas, pique-niques, muito semelhantes aos que eram promovidos pela FNAT e pelo SNI.
Existe, existe mesmo algum perigo de regresso a uma qualquer forma autoritária e anti-democrática de governo. Muitos factores facilitadores estão presentes, até o controlo dos meios de comunicação social pelos grandes interesses económicos.
Há anos que Commonsense vem reparando nisto com desagrado. Mas sem grande inquietação, porque a integração de Portugal na União Europeia impede um tal acidente político e social.
A actual crise europeia, decorrente da crise financeira e da mmediocridade das lideranças e das instituções comunitárias, suscita porém a preocupação. Uma rotura financeira grave, pode acarretar o colapso do Euro, o que provocará, em dominó, o desmantelemanto da UE. Pode mesmo suceder, e já se ouvem vozes nesse sentido, a saída de Portugal do Euro. A catástrofe económica recultante da saída do Euro seria tal que induziria a uma qualquer solução de governo de salvação nacional, autoritário e não democrático.
O tempo e as pessoas começam a estar maduros.
Por isso, é crucial que este Governo não falhe. Tenha êxito na economia e nas finanças, mas tenha êxito também na reconstrução da boa reputação da democracia. Está na mão dele.
Pode ser a última oportunidade.