sábado, 21 de março de 2015

delatantes


Este caso da lista VIP causou-me náusea.

Um Director-Geral - da Autoridade Tributaria – deu instruções aos serviços. 

Uma delas permitia uma interpretação equívoca - de má é – que a tornaria reprovável.

Um funcionário, em vez de chamar a atenção da chefia – como devia –, foi delatar ao Sindicato.

O Sindicato foi delatar aos Jornais.

Os Jornais foram delatar à Oposição e à Opinião Pública.

A Oposição foi delatar ao Parlamento.

O Parlamento fez uma Comissão de Inquérito e julgou o Director-Geral.

O Governo lavou as mãos e demitiu o Director-Geral.

Lição:

O Director-Geral errou ao julgar – ingenuamente – que podia contar com uma relação de lealdade de parte dos seus funcionários. 

Não podia.

Hoje, em Portugal, a relação de qualquer Director-Geral com os seus funcionários não é de lealdade funcional, é de inimizade, de desconfiança e de delação.

Pobre Pátria!

domingo, 15 de março de 2015

o pequeno mundo dos jornalistas

Os jornais diários sempre me causaram alguma angústia. Como noticiar todos os dias numa terra onde pouco ou nada acontece. Fechar o jornal, todas as noites, deve ser um sofrimento.
Hoje de manhã fui à internet ler jornais portugueses.
Já só leio um jornal em papel, o Economist, que assino e recebo todas as segundas feiras. Não concordo com tudo - e porque é que havia de concordar - mas tenho leitura para a semana inteira, sobre tudo o mundo, mais economia, mais ciência, mais literatura...
Leio ainda o Finantial Times, na net. É um jornal cujos leitores querem que diga a verdade, porque precisam da verdade para não fazerem maus investimentos. É puro e duro.
Depois vou ler o produto do pequeno mundo dos jornalistas portugueses. Quase só publicam opinião. Mesmo quando publicam sobre factos, não relatam, opinam. Dão aquela opinião estafada a la bloco de esquerda que constitui a atmosfera que respiram. Quando bebem o seu whisky à noite ou o seu café de manhã, eles estão seguros, têm a certeza de ser aquela a sua missão na vida: pregar aquele sermão aos peixes. Os peixes são os seus leitores, silenciosos e fiéis. Ao lerem o sermão, confirmam aquilo que já pensavam.
Há um consenso perfeito entre as opiniões do pequeno mundo dos jornalistas e as opiniões do pequeno mundo dos seus leitores.

sábado, 14 de março de 2015

não sabe / não responde

As sessões da Comissão Parlamentar de Inquérito ao BES/GES ficaram célebres pelo uso do artifício de não saber ou não recordar para não responder. Foi mesmo escandaloso no caso de Bava.
Não é muito inteligente.
A prova judiciária, diversamente da prova científica, é a livre convicção do juiz, assente no exame crítico das provas produzidas e demais circunstâncias do caso, assente na sua prudência, experiência e na razoabilidade.
Não adianta dizer que não sabe ou não recorda quem é óbvio que sabe e que recorda.