Era eu pequenino, houve uma música portuguesa que passou a fronteira e chegou a ser conhecida em França: "Lavadeiras de Portugal", enchendo de orgulho os bisonhos portugueses.
Hoje, já não se lava roupa nas águas do Sado; lava-se dinheiro nos bancos. Dinheiro de proveniências várias, umas de cá, outras de lá. É uma indústria próspera e patriótica que poderá contribuir seriamente para ajudar a solucionar a crise.
E como é que se lava? É fácil.
Primeiro, é preciso ter roupar para lavar, quer dizer, ter dinheiro sujo fora do País, mais, fora da UE. Não é difícil, arranja-se com subornos, empenhos, droga, etc., há tantas maneiras como as de cozinhar bacalhau. Arruma-se a roupa, leia-se, parqueia-se o dinheiro numa off-shore. Há-as em todo o lado e para todos os gostos. Quem não souber, pode ir às páginas de anúncios do Economist ou ao balcão dum banco português. E parqueia-se lá, aí um milhão de Euros (menos não vale a pena). Qualquer coisa que venha duma licença ambiental, dum PIM, duma modificação "à maneira" dum PDM, sei lá.... Depois, contrai-se um empréstimo de uns 800 mil Euros. Branquear custa 20%, quando é barato (chega a 40% quando é caro). Depois, recebe-se os 800 mil Euros do empréstimo. Estes €€€ já são roupa lavada. Depois, chegado o vencimento do empréstimo bancário, não se paga nada ao banco. Entra-se em default. Antes de ir para contencioso, este default vai para a recuperação. Na recuperação, a coisa resolve-se por acordo: dá-se a off-shore em pagamento do empréstimo. O banco fica com a off-shore e o milhão de € que lá está dentro e já deu os 800 mil € ao cliente. O cliente ficou com os 800 mil € banqueados, em Portugal, lavadinhos, engomados e a cheirar bem, e o banco ficou com o milhão de € na off-shore. Sim, porque lavar dá trabalho e tem um preço. Neste caso foi de 200 mil € (20%).
É por isso que há para aí bancos que têm tanta off-shore.
Nota: também se faz com outros bens que não off-shores. Com a roupa suja, compra-se uma obra de arte que vale o tal milhão de €. Pede-se o empréstimo de 800 mil € que não se paga, e dá-se a obra de arte em pagamento, ficando com os 800 mil € (20% de preço). Por isso é que há bancos com obras de arte nas caves.
E também se faz sem bancos, com particulares. E até se faz com pessoas individuais com posições importantes em bancos ou em grupos, ou com sociedades in-shore que se pensa pertencerem a esses bancos ou grupos, mas que pertencem só a accionistas de tais bancos ou a indivíduos que lhes estão ligados.
É como cozinhar bacalhau: há pelo menos 365 receitas.