O Natal é um dia apropriado para pensar nos outros.
É nesta perspectiva que me ocorre pensar nos novos pobres e nos novos ricos.
Os últimos anos produziram um aumento do fosso que separa os pobres e os ricos.
Não que os pobres estejam muito mais pobres, mas há mais pobres, aumentou o seu número. Muitos foram precipitados da classe média (e até de mais alto) para a pobreza.
E há mais ricos, sobretudo ricos muito mais ricos. Aos velhos ricos acederam muitos outros, enriquecidos de modos variados, nem sempre confessáveis. E muitos velhos ricos tornaram-se novos ricos, perderam as qualidades que já tinham adquirido com o tempo e voltaram à ganância e à falta de pudor que é própria dos novos ricos.
A sabedoria dos séculos ensina que não é bom nem prudente ofender a pobreza. Os velhos ricos sabiam-no. Sabiam-no uns pela inteligência e outros pela memória das muitas revoltas, frondas, revoluções e confrontações sociais causadas pela frustração dos pobres e pela exibição de riqueza dos ricos, enfim, pela falta de respeito dos ricos pelos pobres. Foi sempre cíclico na História.
Hoje, no Dia de Natal, eu penso nos pobres e nos ricos, nos novos pobres e nos novos ricos, em como os novos ricos ofendem os novos pobres com as suas exibições de riqueza. Penso em como os novos ricos não pensam nisto. Não sabem história (isso dá dinheiro?), não pensam nos pobres (isso dá incómodo). Não lhes ocorre a mais básica das prudências, a de evitar o confronto de muita riqueza com muita pobreza e o efeito social explosivo que daí decorre.
E ocorre-me recordar Mateus (25), sobre o Juízo Final:
Quando o Filho do Homem vier na Sua glória, acompanhado por todos os Seus anjos, sentar-Se-á então no seu trono de glória. Perante ele reunir-se-ão todas as nações e Ele apartará as pessoas umas das outras, como o pastor separa as ovelhas dos cabritos. À Sua direita, porá as ovelhas, e à Sua esquerda, o cabritos. O Rei dirá então aos da Sua direita:
Vinde, benditos de meu Pai. Recebei em herança o Reino que vos está preparado desde a criação do mundo. Porque tive fome, e destes-Me de comer; porque tive sede e destes-Me de beber; era peregrino e acolhestes-Me; estava nu, e deste-Me de vestir; adoeci e visitaste-Me; estive na prisão e fostes ter Comigo.
Então os justos perguntar-Lhe-ão: Senhor, quando foi que Te vimos com fome e te demos de comer, ou com sede e Te demos de beber? Quando te vimos peregrino e Te recolhemos, ou nu e Te vestimos? E quando Te vimos doente ou na prisão, e fomos visitar-Te?
E o Rei dir-lhes-á em resposta: Em verdade vos digo: Sempre sempre que fizestes isto a um destes Meus irmãos mais pequeninos, a Mim mesmo o fizestes.
Em seguida dirá aos da sua esquerda: Afastai-vos de Mim, malditos, para o fogo eterno que está preparado para o Diabo e seus anjos. Porque tive fome e não Me destes de comer; tive sede e não Me destes de beber; era peregrino e não Me recolhestes; estava nu e não Me vestistes; doente e na prisão, e não fostes visitar-Me.
Por sua vez eles perguntarão: Senhor, quando foi que Te vimos com fome, ou com sede, ou peregrino, ou nu, ou doente, ou na prisão, e não Te socorremos?
Responderá então: Em verdade vos digo: Sempre que deixastes de fazer isto a um destes mais pequeninos, foi a Mim que o deixastes de fazer.
Esta é a superioridade moral do cristianismo. Nenhum cristão tem a obrigação de resolver todas as injustiças do mundo, mas cada um tem a obrigação de fazer o que estiver ao seu alcance. Ajudar os outros, principalmente os que estiverem em maior dificuldade, e não acumular riquezas de que não necessita.
O novo-riquismo que ofende e provoca a pobreza é insensato, mas é também uma imoralidade. Mais grave do que isso, é um pecado.
Ninguém pode amar a Deus e ao bezerro de ouro.