Quando foi lançado o €uro, havia Eurobonds na Europa.
O mecanismo da moeda única tinha esse efeito. Nenhum especulador se atrevia a atacar o €uro, tal a sua potência finaceira. Com mais de 500 milhões de habitantes, a Europa tinha (e ainda tem) a maior economia do mundo. A dívida europeia estava mutualizada. Era emitida em €uros e o €uro global respondia por ela.
Depois, houve um crise cambial na Hungria e o BCE não apoiou. A Hungria não estava no €uro, mas o mercado reparou que a solidariedade europeia tinha falhado. Os europeus ricos tinham abandonado os europeus pobres ao seu destino. O egoismo dos Estados Membros tinha prevalecido sobre a solidariedade da União. Não foi um bom sinal.
Em seguida veio da Grécia. Aqui o problema foi mais sério porque a Grécia estava no €uro e o desequilíbrio era estrutural. Em vez da solidariedade da União, viu-se outra vez o egoismo dos Estados Membros. Deixaram a Grécia cair, abandonaram-na, humilharam-na e aviltaram-na.
Com isto, a dívida europeia, pela primeira vez, foi desmutualizada.
O €uro desuniu-se e passou a haver taxas diferenciadas para as dívidas em €uros nacionais. Instituiu-se até uma espécie de novo índice assente no spread entre os yields das dívidas em €uros alemães e em outros €uros.
O €uros partiu-se em dois: o €uro comercial e de consumo, que continuou a ser uma moeda única e o €uro financeiro dos mercados de dívida, que se pulverizou.
Os governos locais não deram por isso, mas os mercados sim. Com as visões curtas dos governantes locais, que tinham deixado de pensar a Europa e só se procupavam com a sua própria re-eleição, os agentes do mercado, ao calcularem a cobrabilidade dos investimentos que projetavam, foram obrigados a tomar em linha de conta a que cada €uro nacional estava sozinho e que não iria ser suportado pelos outros €uros.
A questão, hoje, não é bem de mutualizar o €uro: é de o re-mutualizar.
É de voltar a suportar o €uro como uma moeda financeriamente única. Isto só se consegue quanto todos os Estados Membros responderam pelo €uro seja quem for que tiver emitido a dívida. É de fazer compreender o mercado que cada €uro está suportado por todos os €uros.
Quando isso acontecer e os investidores acreditarem que todos respondem por cada um, quando puderem investir em €uros verdadeiramente únicos, deixará de haver risco, os fundos serão abundantes e as taxas baixas.
Tal só sucederá quando o Euro voltar a ser uma divisa financeiramente única. Depois da desmutualização que ocorreu com o abandono da Hungria e da Grécia (seguida pela Irlanda e Portugal) o euro já só remutualizará com €urobonds.
A Europa está dividida quanto à emissão e €urobonds. A Alemanha quer que, primeiro, seja saneadas as finanças (não as economias, note-se) do mais pobres; a França entende que, sem a prévia mutualizaçao, as economias dos mais pobres continuarão a enfraquecer e não conseguirão sanear as suas finanças. Como sempre, há opiniões intermédias: o Economist defende, agora, €urobonds limitados aos países ricos, o que é a pior solução.
O debate regressou, puro e duro.