segunda-feira, 7 de setembro de 2009

onde andam as elites portuguesas?

Portugal tem falta de elites. É um problema histórico concomitante com o esgotamento causado pelo sonho imperial. Com 3 milhões de habitantes, quis dominar metade do mundo. Ficou esgotado. Perdeu grande parte da sua elite em Alçácer Kibir. Depois a Restauração, o Brasil, mas o Terramoto voltou a destruir muita coisa e quase todo o acervo documental. No século XIX deixou no Brasil uma parte ainda não contada, mas com certeza importante, da sua elite que para lá tinha partido praticamente toda. O «fidalguismo», corruptela de um aristocracismo falhado, lançou a ideia peregrina de que a verdadeira aristocracia (de berço) devia ser ignorante e bruta, não precisava de se aculturar porque tinha a subsistência assegurada hereditariamente. Daí uma ideia ainda pior, esta espalhada à burguesia emergente com pretensões, segundo a qual só a riqueza herdada era legítima e apresentável, e só estudava, trabalhava e se aperfeiçoava quem era «mal nascido». Os verdadeiros fidalgos não trabalhavam, não aprendiam, não sabiam nada e nem se interessavam por se aculturarem, se aperfeiçoarem ou fazerem (ou deixarem feita) qualquer coisa de notável. Ainda hoje, infelizmente, se encontra esta manifestação nos alunos das faculdades: quem estuda com afinco, quem quer verdadeiramente aprender, quem aspira a melhorar o mundo, é olhado por cima do ombro com desdém. O verdadeiros ricos (os novos fidalgos novos-ricos de hoje) não precisam de estudar porque têm pais, família e relações que os dispensam de coisa tão plebeia. Trabalhar é bom para os pobres. É este, muito resumidamente o quadro social daquilo que eu chamo depreciativamente «o fidalguismo».

O fidalguismo conduziu Portugal a uma tremenda rarefacção de pessoas com qualidade. Mais ou menos em todos os sectores da sociedade, desde a política, ao ensino, às artes, à ciência, à tecnologia, à empresa, etc., são demasiadamente poucas as pessoas com verdadeira qualidade. São demasiados os portugueses que não têm qualidade e nem sequer estão interessados em tê-la.

Isto viu-se bem, por exemplo, em inquéritos sobre o Tratado Constitucional Europeu, depois sobre o Tratado de Lisboa: um número esmagador de pessoas disse que não conhecia, mas não fez um esforço para conhecer. E olhava acusadoramente para sabe-se lá quem dizendo que «deviam» informar melhor. E, pergunto eu, por que não deviam informar-se melhor?

Do mesmo modo dedicam-se à leitura dos muitos jornais desportivos e sobre questões políticas limitam-se ao chavão: «são todos iguais, não vou votar» deixando o seu destino em mão alheias.

Queixam-se e choram das suas dificuldades, à vezes até se indignam, mas pouco ou nada fazem para sair delas. Têm pena de si próprios. São exigentíssimos com os outros e nada consigo mesmos.

Tudo isto vem a propósito da lamentável alternativa que se apresenta ao eleitorado: Sócrates e Manuela. São os dois péssimos. Sócrates é um suburbano pretencioso, ignorante e espertalhaço, que não sabe nada de coisa nenhuma e se vangloria permanentemente daquilo que não é, não fez e não merece. Manuela ficou com a ideologia política da Acção Católica dos anos 60, do tempo em que andou na Faculdade. Nunca se actualizou, nem sequer domina o discurso oral, cometendo constantes falhas de concordância, incoerências, contradições etc. Na política de família, ficou antes do Vaticano II. Não cuidou conhecer o eleitorado e as propostas que apresenta entusiasmam uma faixa bem magra da sociedade.

O que é dramático é não haver, ou não aparecer, mais gente. Gente com qualidade, nos vários sectores do espectro político. O que é importante como facto político nestas eleições não é que ganhe este ou aquele candidato: é que, ganhe quem ganhar, quem ganhar não presta, como não prestará qualquer coligação que venha a formar-se.

Há realmente uma dramática falta de elites em Portugal. Por onde andam elas, será que estão dispersas, ou não existem mesmo?

4 comentários:

  1. Estou rigorosamente de acordo contigo.
    Também faço muitas vezes a mesma pergunta.
    E o que verifico é que os verdadeiramente bons procuram outras paragens, a começar pelos mais novos, por cá ficam os novos ricos, os incapazes, os "chico-espertos" que nos governam.
    E como não há alternativas, estamos condenados
    a não sair da cepa torta.
    Conheço, sei de homens e mulheres de grande valor, mas que, sendo uma minoria, não aparecem nem se vão queimar na, actualmente, tão desqualificada actividade política.
    É triste, mas é uma verdade que certamente não ignoras.
    E não deixo de lhes dar razão, apesar de tudo.

    Um abraço

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  2. Muito bom post. Inteiramente de acordo.

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  3. Post inspiradíssimo.

    Concordo com tudo.

    Adoro este país, já viajei para muito sítio cá dentro e lá fora, e planeio experimentar viver noutros países, noutros continentes, por curtos períodos, para voltar e dar ainda mais valor a este à beira-mar plantado.

    Mas enjoa a falta de gente com carácter, gente que não se deixe influenciar pelo "business as usual". Falta inconformismo.

    Falta gente que não fique satisfeita apenas com um bom carro e dinheiro para ir ao All Garve nas férias do Verão.

    Falta vontade de justiça (?) dure o que durar, custe o que custar. Queremos saber! Ou pelo menos deviamos querer...

    Mas não, metam-nos a fazer contas de quantos pontos precisamos para ir ao Mundial de Futebol da África do Sul, que ficamos entretidos...

    (Não me vou alongar, pois não quero encher a sua caixa de comentários, mas fica aqui mais um registo de uma voz que se identifica com a sua)

    Um abraço, de um inconformado.

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  4. Será que alguma vez houve? Portugal é um país e uma nação. Dos poucos que eu conheço. Somos Nós os Lusitanos. Mas, quem fundou Portugal não era Lusitano... e dos poucos reis aceitáveis que tivemos (3, 4???) um era Espanhol. Até Sertório era romano!!! Vá lá acho que Viriato não era, mas acabou derrotado. Os Lusitanos são bons em tudo menos a dirigir e a mandar

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