sábado, 21 de novembro de 2009

a nave dos loucos

Ponho-me na posição do inglês no Uganda e olho para cá com o mesmo espanto que qualquer estrangeiro que passe por aqui sem ser em turismo. E penso: esta gente está toda doida.

O Presidente do Supremo Tribunal de Justiça e o Procurador-Geral da República detestam-se há anos, mas têm ambos, por igual, o sentido da oportunidade – há quem lhe chame do oportunismo – na construção das respectivas carreiras profissionais. Embora pareça já não haver mais por onde subir, nunca se sabe e convém estar sempre de bem com quem importa. E, assim, esmeram-se ambos em desresponsabilizar o Primeiro Ministro, em deixá-lo incólume e sem incómodo, mas – claro está – atirando a culpa um para o outro.

O Ministro das Finanças apresenta um remendo ao orçamento em que quer mais quatro mil e tal milhões de euros, porque já não há mais dinheiro para gastar. Quer dizer: o País faliu. E, perante isto, desatam os políticos, os comentadores e os jornalistas em exercícios verbais: é um «orçamento rectificativo» ou um «orçamento redistributivo». E não se cansam de debater esta «vexata quaestio».

O DIAP de Aveiro apanhou um rede de corrupção e tráfego de influências. E logo se empenha tudo a discutir sobre escutas telefónicas, como se a corrupção fosse um honesto ofício e a investigação criminal uma perversão pestilenta.

Uma empresa pública do sector das estradas «perdoa» 430 milhões de euros a dois empreiteiros – muito próximos do Governo, quem diria. Em vez de se demitir e pintar a cara de preto, o respectivo presidente indigna-se contra o Tribunal de Contas que discordou desse «virtuoso desprendimento» e ameaça quem apareceu na televisão a falar do assunto.

Houve dois bancos que faliram fraudulentamente e ninguém está preso. O ex-presidente de um deles queixa-se que não tem dinheiro para viver. Será que lhe vão dar o «rendimento mínimo de inserção»?

Não sei se há qualquer coisa na água que os portugueses bebem, ou se têm «bug» no software.

Acho que estão loucos, doidos varridos, estão mesmo de internar.

3 comentários:

  1. A situação serve na perfeição a alguns. Esses não estão loucos, estão até muito bem.
    O ping pong entre o Pinto Monteiro e Noronha Nascimento tem o mesmo efeito de poeira para os olhos. E a gente a ver. Lembra-se do Blow Up, do Antonioni? Assim estamos nós, a ver a bola a andar para um lado e para o outro.
    Entretanto o T dos Santos vai pedindo mais 4 mil milhoes e meio, para poder pagar salários, pensões, Natal, etc. Mas fá-lo como se fosse mais um pormenor, uma alineazeca no orçamento (até parece que chegou ontem ao Governo). Quem paga no fim? Claro...
    E isto se nos continuarem a emprestar.

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  2. Pois é... isto é mais claro para quem percebe de malucos. E muitas vezes a loucura serve aos loucos e os loucos servem-se da loucura. Isso mesmo já é loucura.
    Mas há aqui um delírio que é verdadeiramente insano. É não perceber que não é por serem negadas que as coisas desaparecem e que isto não vai poder continuar assim, vai acabar muito mal.
    E continuam a dançar à volta da fogueira, apaixonados por si mesmos, embriagados de ego, saciados que o dinheiro que vão ganhando, convencidos de que crescem ou melhoram com isso.
    São loucos, são loucos, são doidos varridos.

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  3. è verdade, a negação da realidade paga-se mais tarde ou mais cedo.
    O problema é que aqui co-existem as duas coisas: uma negação quase maciça da realidade e o aproveitamento, como direi...sociopata, das fraquezas existentes na sociedade (uma das quais é precisamente a tendência para meter a cabeça na areia).
    Em termos jurídicos, diria que estas pessoas são imputáveis. Ou não?

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