sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

ano novo

Pela primeira vez na minha vida, vou entrar o ano com uma perpectiva totalmente pessimista. O ano de 2011 vai ser pior que o de 2010 e o de 2012 ainda pior.
Não tenho nada para celebrar e não vou fingir.

segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

caro primeiro-ministro

Caro primeiro-ministro é o modo mais adequado de nos dirigirmos ao primeiro ministro mais caro da segunda república.

domingo, 26 de dezembro de 2010

vai-lhes custar

Quando eu entrei para a Faculdade, em 1965, não havia praticamente carros estacionados na Cidade Universitária. Os alunos (entre eles, eu) chegavam lá e de lá saíam de autocarro. Eramos felizes, divertíamo-nos e achávamos (tínhamos a certeza) que íamos mudar o mundo (e mudámos). Queríamos casar para sair de casa e ter a nossa independência. Criávamos família em casas quase completamente desprovidas de confortos e de electrodmésticos. Arrendadas... ninguém tinha dinheiro para comprar. Vivia-se com pouco, mas vivia-se muito.
Agora não se consegue estacionar um carro na Cidade Universitária, os alunos vêm e vão de carro, não acreditam que o mundo mude, não casam nem saem de casa para não terem de depender de si próprios. Quando fazem família (sem casar), é em casas compradas, com tudo o que é o último grito de electrodomésticos e electrónica, fazem férias no estrangeiro, vivem com dinheiro.
Mas o mundo mudou mesmo... outra vez. E vai voltar a ser o que era. A minha geração já conheceu tempos de menos dinheiro e menos conforto; esta geração ainda não: vai-lhes custar a adaptar.
A economia vai possivelmente voltar para o que foi nos anos sessenta. Para mim, não será coisa grave; para esta geração vai ser uma catástrofe.

sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

expliquem-lhe em banda desenhada

Ministério das Finanças: corte do rating de Portugal pela Fitch é “difícil de compreender” (Público).

Eu também acho que Teixeira Santos ainda não percebeu. Como também não percebeu o disparate que foi nacionalizar o BPN... e não percebe, em geral, nada do que anda a fazer como ministro.

Teixeira Santos ainda não percebeu a diferença entre os argumentos invocados para os cortes de rating e as verdadeiras razões que os determinam. Os argumentos são fáceis: baixa o rating por ter cão e por não ter cão. Todas as políticas têm as suas desvantagens e há sempre uma maneira de argumentar o corte do rating. Os cortes do rating continuarão. Se Portugal tiver uma política de austeridade, será porque a economia vai entrar em recessão; se tiver um política expansionista, será porque as finanças vão desequilibrar.

A verdadeira razão é outra. Portugal vai ao mercado com os cofres vazios, em situação de total incapacidade de negociação e sem qualquer alternativa senão ter de aceitar quaisquer taxas, sejam elas quais forem. Esta é a maneira mais estúpida de o fazer. É claro que as agências de rating - que são contratadas e pagas pelos emprestadores - fazem as baixas de rating que forem adequadas a justificar a subida dos juros da dívida portuguesa (aliás, os custo dos CDSs correspondentes). Porquê: porque os agentes do mercado ganham mais dinheiro assim. Ganham mesmo fortunas, eles estão lá para isso: vão buscar o dinheiro a taxas baratas e colocam-no a taxas caras naqueles tontos dos portugueses.

São as leis do mercado: quem aparece deseperado e sem alternativa, em situação de carência absoluta, paga o preço que os outros fixarem. É uma prática usurária? Pois é. Mas o que é preciso é não ir ao mercado em situação de tal inferioridade, necessidade e dependência.

O mais grave défice português, na verdade, é o défice de inteligência e competência no Ministério das Finanças. Teixeira Santos vai continuar a não perceber. Eu, que não tenho jeito para o desenho, peço a quem tiver que lhe explique isto em banda desenhada.

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

A esperança não se fundamenta na abundância de bens.

Excerto da homilia do Bispo D. Carlos Azevedo na missa da 11:00 horas na Igreja da Santíssima Trindade em Fátima:

Tantas vezes, como na actual situação, não se vê logo, as coisas não andam, a vida não corre, ninguém se ouve de modo a guardar no coração. Como ser aqui profeta da esperança? Nesta hora europeia, onde se dá o ultimo suspiro de um mundo velho, próximo de desaparecer!

A esperança não se fundamenta na abundância de bens. O que endireitará o caminho do futuro será o afastamento firme de mentiras tortuosas da contabilidade, de contracurvas financeiras, de paraísos que são inferno para a economia real, de descrédito da poupança, da perda dramática da confiança, de atentados à criação. O que nos permitirá não ser cana agitada por qualquer vento de crise será uma educação consistente, uma justiça eficaz e pronta, uma ética rigorosa no controle do Estado. A situação precária haveremos de mudá-la em estável. Deus, por Jesus, acompanha-nos nas lutas e no empenhamento de libertação até ao último dia.

A esperança que nos ilumina jorra de um Deus libertador da escravidão dos poderosos, esquecidos de que serão eles as vítimas da pobreza em que nos deixam. É muito curta a visão dos que se julgam acima dos desempregados porque terão de trabalhar para os sustentar. Caem na própria rede os que não esclarecem a sua posição sobre a salvaguarda do ambiente e da criação. Há-de vir um momento e não tardará, em que, como nos tempos antigos, se saldem todas as dívidas e se recomece de novo, como em ano jubilar.

Para já, a esperança empenha a nossa vontade em libertar de perigos a estrada futura, em exigir uma política que não profane a dignidade de nenhum cidadão, que não crie desolação em quem constrói, na proximidade dos pobres, vias de promoção humana: no ensino, na saúde, no apoio às crianças e aos mais idosos.

Repartir o trabalho, regressar à agricultura, optar pela austeridade, no estilo de vida, serão hoje sinais claros da liberdade.

domingo, 5 de dezembro de 2010

o código alexandrino

Este é o código de acção de uma minha amiga que é um estupor:

1. Nunca faças sombra ao chefe.
2. Nunca confies demasiado nos amigos, mas aprende como usar os inimigos.
3. Esconde as tuas intenções e diz sempre menos que o necessário.
4. Defende a tua reputação como a tua vida e chama a atenção para ti a todo o custo.
5. Põe os outros a fazer todo o trabalho e obtém todo o crédito.
6. Faz com que as outras pessoas sejam atraídas por ti por simpatia ou por interesse.
7. Vence pelas tuas acções e não pelos teus argumentos.
8. Evita os infelizes e os que não têm sorte.
9. Sê macia com os superiores e dura com os inferiores.
10. Não permitas que um subordinado tenha melhores habilitações que tu

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

loan sharks 2

Depois da Grécia, a Irlanda; depois, Portugal e a Espanha; depois a Bélgica... um a um lá vão todos os Países da Europa.
Diz-se que são os 'mercados', mas não há mercado onde há concertação e tudo isto é claramente concertado num ataque especulativo contra o Euro, feito com a táctica do salame, País a País, um de cada vez, até ao último.
É fácil, é barato e dá milhões: basta ir buscar dinheiro barato a um lado e aplicá-lo caro no outro.
E não vale mais a pena adoptar orçamentos de miséria, reduzir salários, aumentar impostos: os loan sharks, como tubarões que são, continuarão a atacar em cardume e nunca irão parar enquanto não acabarem com eles.

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

loan sharks

Na presente situação, os 'loan sharks' sabem quando e quanto é que Portugal tem de ir colocar dívida e aproveitam para 'sacar' o mais que podem. Vai ser o próximo a ser atacado e rapinado.
Mas não há verdadeiramente um mercado internacional a funcionar, o que existe é uma alcateia de 'loan sharks' que aproveita para atacar, um a um, os países que tiveram a imprudência e a incompetência de acreditar que havia um mercado onde o que existe é rapina usurária.
E é fácil: basta obter capitais a baixo juro, por exemplo, no mercado alemão para o emprestar a alto juro aos países do sul. Esta rapina dá lucros fantásticos, mas tem de ter uma resposta que acabe com ela.
A resposta só pode ser uma: Portugal, a Grécia, a Irlanda e a Espanha devem acordar entre si em tributar o capital e os juros destas operações financeiras com taxas suficientemente altas e cobrar estes impostos por dedução ao pagamento.
Assim se reporia honestidade no sistema.

sábado, 13 de novembro de 2010

NIMBY: que juízes temos nós?

Nimby: not in my backyard.
É assim que se designa, na América, a atitude daqueles que não se importam que algo de mau aconteça, desde que não suceda consigo.
É esta a atitude dos juízes - 'rectius', do sindicato dos juízes - que não quer que aconteça aos seus membros o que está a acontecer e vai acontecer a mais ou menos todos os portugueses: a perdade de receita por causa da crise económico-financeira.
Mas que privilégio se arrogam para serem uma excepção, uma classe à parte, especialmente protegida, para recusarem a solidariedade com todos os outros portugueses?
Com que arrogância, querem ter um estatuto à parte? eles, os Juízes, querem ser intocados pela crise?
Pior ainda, fazem grave, assumindo-se como funcionários públicos, que não são, e despindo a beca de magistrados, que deveriam ser.
É mau que os demais cidadãos tenham de ser jugados por juízes assim. Não teremos nós direito a juízes que o sejam de verdade?
Os juízes têm de parar, escutar e olhar... para discernirem que esta é a pior maneira de agir... que assim acabam por perder a respeitabilidade...

why God never received tenure at any university

WHY GOD NEVER RECEIVED TENURE AT ANY UNIVERSITY

1. He had only one major publication.
2. It was in Hebrew.
3. It had no references.
4. It wasn’t published in a reference journal.
5. Some even doubt he wrote it himself.
6. It may be true that he created the world, but what has he done since then?
7. His cooperative efforts have been quite limited.
8. The scientific community has had a hard time replicating his results.
9. He never applied to the Ethics Board for permission to use human subjects.
10. When one experiment went awry he tried to cover it up by drowning the subjects.
11. When subjects didn’t behave as predicted, he deleted them from the sample.
12. He rarely came to class, just told the students to read the Book.
13. Some say he had his son teach the class.
14. He expelled his first two students for learning.
15. Although there were only ten requirements, most students failed his tests.

domingo, 7 de novembro de 2010

os carros dos gabinetes

Ninguém deve saber quantos automóveis tem o Governo nos gabinetes ministeriais. São tantos e tão caros que até há vergonha em publicar.
Proponho uma campanha de que seja permitido apenas um carro por ministro, incluindo o primeiro ministro, e só para exercício directo da função, quer dizer, nem sequer para o ir buscar e levar a casa.
Aí está uma sujestão ao Ministro das Finanças para o ajudar a poupar os 500 milhões.

responsabilidade

O puro azar político, a falta de jeito e até uma certa incompetência desculpável não justificam reesponsabilidade civil nem criminal.
Mas a gestão danosa, a corrupção, a participação em negócios, as comissões, o amiguismo, a depredação do património público, o apropriamento indevido, a celebração de negócios ruinosos (PPPs, SCUTS, etc,) e também a desorçamentação, com a necessária falsificação do Orçamento e da Conta Geral do Estado) devem ser investigados caso a caso e levados à justiça.

sábado, 6 de novembro de 2010

temos orçamento e está sol

Temos orçamento e está sol. Um lindo dia de Outono a chamar pleo optimismo.
Só que ninguém acredita que este Governo seja capaz de executar este orçamento. Não conseguiu executar o anterior, que era menos difícil... E a sua execução vai ser monitorizada por Bruxelas e ainda bem.
Só que começa já a notar-se o incómodo sofrido por Sócrates em abandonar as obras faraónicas... aquelas que dão para financiar partidos... essas mesmo.
Vamos ver o que se vai passar.

domingo, 31 de outubro de 2010

no seio dos pobres de Job

Depois do colapso económico do Estado e da Finança, causado pela estupidez e pela ganância de socialistas e milionários, será preciso recomeçar. A partir de a baixo de zero, com pobreza, com preserverância, com os dentes cerrados, com fome e com frio, sem desfalecer.

Mas uma coisa não pode acontecer: a recuperação dos que nos trouxeram aqui. Não lhes tenho ódio, mas quero que vão morrer longe. Por favor não lhes permitam que continuem ricos como o Midas, no seio dos pobres de Job.

FME

Tenho ouvido na boca de várias pessoas que melhor seria vir já o FMI.

Não perceberam que veio já o FME. É a mesma coisa numa versão mais civilisada.

sábado, 30 de outubro de 2010

a inutilidade da imprensa portuguesa

Pelo link do último post pode avaliar-se a diferença entre o que é dito pela imprensa portuguesa sobre a última cimeira europeia e o que realmente se passou.
Já vem de há longos anos a manipulação da imprensa portuguesa. No tempo do salazar, pelo SNI, no do Marcelo pela mesma organização, creio que, com um nome diferente e um pouquinho mais de leveza. Durante o PREC pelos vários partidos, grupos e grupelhos políticos. Depois, pelos partidos institucionais. Agora, pelas várias agências de comunicação e, naturalmente, por quem as contrata, principalmente, pelo Governo.
Em Portugal continua a não haver imprensa séria. Desde o Expresso, que se tornou um 'jornal de recados' e de fofoca, até aos outros todos. Quem quiser saber notícias tem de ir ler jornais estrangeiros.
Por mim, assino o Economist e leio o Der Spiegel na internet. E recomendo. O Economist é militantemente anti-UE, mas no resto é bom. O Spiegel é óptimo, e pode ser lido em versão inglesa. Os jornais portugueses são bons para acender a lareira.

federal

Do último Conselho Europeu saíu um sistema de gestão de crises financeiras de Estados Membros claramente federal.
Ainda bem. Não é, na realidade, possível gerir um espaço económico comum, com uma moeda comum, sem um sistema em que os orçamentos e a gestão orçamental dos Estados Membros não seja submetida a um controlo federal. De outro modo, cada Estado Membro poderia endividar-se excessivamente que seriam os outros todos a pagar. Isto traria tensões que a, longo prazo, acabariam por pôr em crise o Euro e a própria União.
Portugal acabou por desempenhar o papel (meritório?) de dar o último argumento para a federalização da gestão orçamental na UE, tal a irritação que causou a sua gestão no último ano.
Por enquanto, ainda só é federalizada a gestão orçamental dos Estados Membros em dificuldades financeiras. Mas o primeiro passo está dado.
Acho bem.

domingo, 17 de outubro de 2010

vampiros

São eles, o vampiros, os governantes e os socialistas, com os seus gestores, os seus empreiteiros e os banqueiros.

pobre classe média ...

Ainda não vi o orçamento com olhos de ver, mas já o compreendi suficientemente para ver que é a classe média que vai pagar a incompetência, os desmandos financeiros e o favorecimento das empresas e dos milionários do regime.
Além de eticamente, isto é também socialmente mau. A classe média é, por um lado, o grande motor da econmia que assim fica sem músculo para resistir e recuperar; por outro lado, a classe média é, como se sabe, o único sector verdadeiramente activo (até mesmo revolucionário) da sociedade, o que vai previsivelmente ter consequências na paz pública, quer dizer, na falta dela.
Vai haver pobreza e intranquilidade social. Preparem-se (se puderem e souberem).

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

entre o diabo e o inferno...

Este orçamento é péssimo. Assente em mentiras contabilísticas, como a contabilização do fundo de pensões da PT, arruina a classe média, a grande força activa do país, atira para as mão de um governo irresponsável milhões de Euros que servirão para arruinar ainda muito mais o futuro de Portugal, não toca nas empresas e nos milionários do regime e vai fazer colapsar a economia.

A alternativa é não aprovar o orçamento e pôr o país a duodécimos, o que evita mais despesas tresloucadas com os milionários do regime, mas vai permitir ao Sócrates fugir do governo e agravar a crise atribuindo as culpas ao PSD.

Entre o diabo e o inferno.

words, words, words...

Quando eu aprendi psicologia no Liceu, ensinaram-me que a inteligência era a capacidade de encontrar respostas adequadas a situações objectivamente novas.

Hoje, por aqui, confunde-se inteligência com facilidade de verbalização. Muito à moda mediterrânica, inteligente é quem fala bem. Por isso, temos tido uma série praticamente ininterrupta de faladores nos postos importantes de decisão. Aponto como exemplos: Santana Lopes, Marcello, Barroso, Soares, Sócrates e até este último Ministro das Obras Públicas cujo nome desconheço.

Avis canoras!

Só que falam bem, mas pensam mal e actuam pior.

domingo, 10 de outubro de 2010

a nave dos loucos

Segundo pessoas politicamente bem informadas (eu já deixei de o ser), será aprovado um orçamento que não é este, negociado e consensuado entre líderes do PS e do PSD que não são estes.
Na negociação do orçamento, Sócrates seria rapidamente substituído e Passos Coelho também. Daí as movimentações do Tó Zé Seguro e da inevitável Manuela.
Os 'negócios' exigem isso. Duodécimos é que não.
O orçamento seria aprovado com a oposição dos líderes do PS e do PSD.
Perante a minha incredulidade, perguntam-me qual é a solução? A resposta é: já não há solução.

domingo, 26 de setembro de 2010

the final count down

Começou a contagem final. Cada dia que passa são mais milhões que se somam ao défice, que se acrescentam á pobreza nacional.
A pobreza nacional não vai poder deixar de se tranformar em pobreza pessoal dos portugueses. Com a excepçãos de alguns especuladores e devoristas, a pobreza vai atingir todos, uns mais, outros menos, mas todos, Ninguém vai escapar incólume a esta mistura de rapina e estupidez.

domingo, 19 de setembro de 2010

Afganistan revisited - uma importante entrevista de Patreus

Na edição inglesa do Der Spiegel, está uma entrevista do General pareus, Comandante da NATO no Afeganistão, cuja importância me leva a transcrever um resumo e a linkar o conteúdo:

Troops, money and a plan were long lacking in the battle against the Taliban in Afghanistan. In a SPIEGEL interview, ISAF Commander David Petraeus, discusses these failures with unusual frankness. The general says he is concerned about the increasingly symbiotic relationship between terror groups in the region.

É de não perder, para quem quiser compreender o que ali se passa.

irresponsabilidade financeira arripiante

No último ano, segundo os dados de Bruxelas, Portugal foi o único dos países em crise que aumentou o défice. Grécia, Espanha e Irlanda reduziram os défices, mas Portugal, não.
Isto provocou visível impaciência e, mesmo, irritação na UE.
E, o que é mais inquietante ainda, é que o Governo Português continua a não dar sinais de vir a fazer o que quer que seja com tal resultado. Fala, fala, fala... sobre tudo e sobre nada... mas fazer, não faz nada. O défice vai atingir números colossais.
É duma irresponsabilidade financeira arripiante.

sábado, 18 de setembro de 2010

contentores revisited

Ai contentores, contentores. Ainda acabam na prisão.
Ler Público

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

Basel III e a Banca portuguesa

Os acordos de Basileia (Basel I e Basel II) tiveram sempre o objectivo ou o efeito de reforçar a segurança do sistema bancário. Não obstante, o sistema entrou em colapso.
Isto porque não adianta fixar procedimentos de segurança objectivo, quando a fragilidade é subjectiva. Não há banca que resista à ganância e à pouca honestidade dos banqueiros.
Agora, Basel III veio exigir o reforço dos capitais do Bancos. E bem, porque estão muito descapitalizados, mas nada fez no que respeita à exigência subjectiva de honestidade e sentido do respeito pelos clientes e pelo público aforrador por parte dos banqueiros. Esta é a grande fragilidade de Basel III.
Mas Basel III vai obrigar os Bancos mais frágeis a proceder a aumentos do capital.
Commonsense interroga-se como irão certos Bancos portugueses aumentar os seus capitais? quem subcreverá tais aumentos do capital? que lhe sucederá se não o fizerem? no fim restará algum Banco português, além da Caixa e do Montepio?

domingo, 12 de setembro de 2010

a venalidade dos 'media' portugueses

Commonsense reproduz aqui (copy-paste) dum post de curiosa qb, um comunicado da ERC sobre a vergonha que tem sido a campanha mediática maciça a favor do Carlos Cruz para influenciar a opinião pública e condicionar o Tribunal da Relação que lhe vai julgar o recurso.

Aí vai:
1. Na sequência da sentença do tribunal de primeira instância sobre o processo "Casa Pia", têm-se sucedido na imprensa, rádio e televisão, entrevistas a alguns dos acusados, em desrespeito, por vezes grosseiro, pelo princípio do equilíbrio, da equidistância e da igualdade de tratamento de todos os agentes envolvidos no processo.
2. O Conselho Regulador tem presente o impacto mediático do processo acima referido, e a sua indiscutível relevância no plano do exercício da liberdade de informar. Nada obsta a que os jornalistas, como qualquer cidadão, possam ter, a esse propósito, convicções, mais ou menos marcadas. Mas não pode o Conselho deixar de chamar a atenção para o facto de que os órgãos de comunicação social estão obrigados a informar de modo isento e com um mínimo de distanciamento, para mais a respeito de uma temática de tão especial sensibilidade como a que foi tratada no processo "Casa Pia".
3. Assim, o Conselho Regulador vê com preocupação, e não pode deixar de reprovar, a mediatização conferida pela generalidade dos órgãos de comunicação social a um dos condenados pelo referido Tribunal - o ex-apresentador de televisão Carlos Cruz -, em particular o canal generalista do serviço público de televisão que, nos últimos dias, lhe concedeu lugar de especial destaque, e mesmo protagonismo, em pelo menos três dos seus programas de informação de maior audiência.
4. Sem colocar em causa os princípios consagrados na Constituição e na Lei sobre a liberdade de imprensa - antes os reafirmando -, o Conselho Regulador recorda as especiais responsabilidades do serviço público de televisão no cumprimento dos princípios éticos e deontológicos do jornalismo e no respeito pelas decisões dos tribunais num Estado de Direito.
5. Não deve, com efeito, a invocação da liberdade de informar e de livre determinação de critérios editoriais servir, ainda que de forma involuntária, para transmitir convicções próprias ou para uma procura de audiências a qualquer custo, com prejuízo do equilíbrio, isenção e imparcialidade a que está, de modo reforçado, obrigado o serviço público de televisão.
Lisboa, 10 de Setembro de 2010

terça-feira, 7 de setembro de 2010

when the shit hits the fan... everybody gets dirty

Carlos Cruz parece que vai começar a revelar no seu site nomes de imensa gente que, sem o dizer, pretende envolver. São, em geral, segundo me apercebi, pessoas aludidas no processo e em relação a quem se concluíu pelo não envolvimento, ou nada se concluíu.

Vejamos que mais lixo este 'senhor' nos vai oferecer.

segunda-feira, 6 de setembro de 2010

e os outros...?

Muita gente se interroga: e os outros pedófilos? não são condenados?
E daqui parte para uma fragilização da sentença que passa a ser injusta por apanhar só alguns.

Este argumento não tem valia: a sentença que condena um ladrão não passa a ser injusta por não condenar todos os ladrões.

Estes já foram condenados. Os próximos ver-se-á em devido tempo.

Mas não é preciso condená-los todos ao mesmo tempo.

sábado, 4 de setembro de 2010

hit the road bastard

A tribute to Carlos Cruz et all:

Casa Pia: e não se condena o Estado?

Já vim várias vezes a este assunto, no passado. Nunca admiti que os principais culpados fossem absolvidos. Algo me dizia que eram culpados. E eram. Foram condenados.

Mas não foi condenado o Estado Português que durante anos a fio tolerou o que se passava na Casa Pia e continuou a atirar para lá as crianças que retirou aos pais a pretexto de estarem em perigo em famílias desfuncionais, tranferindo-as de situações de perigo para uma situação de certeza do horror, da agressão, do sofrimento, da lesão permanente e até da morte (não esquecer que uma das vítimas se atirou para baixo dum comboio).

O Estado sabia o que ali se passava? Se não sabia, tinha a obrigação de saber. Como entidade tutelar da Casa Pia constitui dever funcional do Estado geri-la e saber o que lá se passa.

O Estado devia pois ser condenado a duas coisas: além da indemnização das vítimas, todas, a reformar a Casa Pia dos pés à cabeça e transformá-la numa instituição modelar, a melhor que houver. Só assim se poderá redimir, embora não completamente.

Custa caro? qualquer auto-estrada redundante chega e sobra.

sábado, 31 de julho de 2010

a Lavandaria do Rato

Vão ter de passar muitos anos até que os Portugueses recuperem a confiança e se reconciliem com a Justiça.

Tudo começou - em gravidade - com o encobrimento do Caso de Camarate. O Ministério Público fez o possível e o impossível para não acusar de atentado o que toda a gente sabia e quem toda a gente sabia: a CIA.
Depois, foi toda uma série de casos em que se manipulou a legislação penal e processual penal, a investigação criminal e a própria concretização para não apanhar gente importante que no sistema institucional efectivamente vigente não é para ser incriminada por aquilo que faz.
Finalmente foi o Freeport em que tudo foi usado à lufa-lufa, precipitadamente e até com trapalhice, para que Sócrates não fosse ouvido em justiça e constituído arguido. No meio disto, mais uma quantidade de casos, desde o caso Maddie, a Face Oculta, a Moderna, os Submarinos, o Portucale, o Furacão...
E vai culminar em apoteose com a prescrição dos crimes hediondos da Casa Pia.

Na confluência entre a Rua da Escola Politécnica e o Largo do Rato, está lá aquele edifício imponente, de mármore, que já se chamou Palácio Palmela, mas bem podia chamar-se Lavandaria do Rato.

sexta-feira, 30 de julho de 2010

o procurador

Ele procurou e conseguiu evitar que o Sócrates fosse interrogado no processo Freeport e, em consequência, fosse constituído arguido. Bem se podia chamar-lhe o procurador geral do governo.

quinta-feira, 29 de julho de 2010

dirty share

Eu já tinha estranhado que Sócrates tivesse usado a golden sahre da PT contra as ordens do Ricardo Salgado. Isso corresponderia à abertura de um espécie de crise institucional, porque em Portugal, segundo o sistema institucional efectivamente vigente, o Dinheiro manda no Governo e não o inverso. Fiquei abismado a ver o que iria acontecer.
E aconteceu o que me não surpreende. O Governo meteu a viola no saco e lá foi a correr obedecer. Lá foi vendida a VIVO e sem golden share que se lhe oponha. Podia lá ser, o desaforo??!!
Em Portugal pode-se votar em toda a gente. O poder pertence sempre às mesmas pessoas.
Nada perturba o poder da oligarquia.

domingo, 18 de julho de 2010

porque não por concurso público internacional?

Parece mais ou menos evidente a mais ou menos toda a gente o esgotamento do sistema político-económico dos últimos 20 anos. Portugal está esgotado, arruinado, e sem alternativas nem caminhos para uma solução.

Porque não, pergunto eu, abrir um concurso público internacional - ou pelo menos europeu - para recrutamento dum presidente da república, dos ministros e secretários de estado,  do supremo tribunal de justiça, do procurador geral da república e dos juízes e procuradores dos tribunais superiores.

Porque não um concurso público entre as melhores faculdades de economia estrangeiras (as portuguesas já mostaram o que valem) para uma política económica e financeira que reponha Portugal a funcionar?

Se desde o managemente da tap até aos treinadores de futebol, passando por médicos, arquitectos e engenheiros podem ser recrutados por concurso no estrangeiro, porque não os dirigentes políticos, económicos e judiciais?

O modelo de economia privada empresarialmente liderada por banqueiros faliu e espero que não volte mais. É urgente começar segunda feira pela gestão da caixa geral de depósitos.

A omissão de maiúsculas - com excepção óbvia da pavra Portugal - é intencional. O que é minúsculo não deve ser escrito com maiúsculas.

sábado, 17 de julho de 2010

the dark side of the moon - 4 - os quatro magníficos

Quatro agências americanas de rating, cada uma com um yupie encarregado do rating da sovereign debt.
São quatro jovenzinhos que mandam nas economias europeias.
Se os défices estão altos, eles degradam os ratings por isso mesmo.
Se os países europeus não tomam medidas draconianas para reduzir os défices, este degradam novamente os ratings.
Se tomam medidas draconianas para reduzirem os défices, então eles degradam os ratings porque aquelas medidas deprimem as economias e as suas perpoectivas e crescimento a médio-longo prazo.
Quer dizer, eles degradam sempre os ratings, por se fazer ou por não se fazer.

É preciso saber quem é que os paga as agências de rating. São os tomadores, compradores, de dívida soberana. E eles fazem o que lhe é encomendado, provocam a subida das taxas de juro.

O negócio é óptimo. Os seus clientes obtêm fundos a taxas baratas em certos mercados e colocam-nos a taxas caras nos outros. É um negócio da China construído por estes quatro magníficos.

Não seria melhor pôr um fim a este sistema?

vivamente inovador

Não sei se o negócio era bom ou não, nem se as avaliações que lhe estavam subjacentes eram fiáveis.
Também não sei se a Telefónica vai conformar-se a manter o casamento a meias com a PT na VIVO. Ver-se-á.

O que me parece inovador é o facto ocorrido pela primeira vez - que eu saiba - de um governo em Portugal, já depois do gonçavismo, ter abertamente contrariado o interesse dos grandes detentores do capital e, bem ou mal, lhes ter dito que não.

Vejamos que é que daqui vai sair.

quarta-feira, 14 de julho de 2010

montepio

O Montepio é - curiosamente - hoje o Banco mais financeiramente sólido em Portugal.
Como não tem accionistas, não foi desnatado !

terça-feira, 13 de julho de 2010

rating again

Mais outro abaixamento de rating. Era de esperar, nem as SCUTS acabaram, nem vão acabar, nem houve uma real compressão de despesas, nem vai haver.
Para agravar, temos o sector bancário à beira do... [parece que é proibido falar nisso].
Pobre Portugal. O que te fizeram nos últimos 20 anos!

segunda-feira, 12 de julho de 2010

BCP

Quando um Banco anuncia publicamente que não está falido, de duas uma: ou já estava falido, ou o próprio anúncio o leva à falência.

short-sighted

The biggest loss to the business [...] is the disapearance of a long-term vision, with the emphasis switching to short-term financial results (The Economist).

domingo, 11 de julho de 2010

the bastards

With their talk of placing stability and growth above individual rights, Communist (Chinese) officials sometimes make human rights sound like air conditioning, or colour television: a luxury you can afford once you acquire a certain level of wealth. (The Economist).
Este estado de coisa é também útil para continuar a subsidiar exportações com trabalho escravo ou quase-escravo. Isto devia levar UE a estabelecer tarifas compensatórias nas importações de produtos fabricados com trabalho quase-escravo, com fundamento em dumping social.

Na verdade, a manterem-se as coisas assim, as indústrias europeias - não só as potuguesas, mas também - só conseguirão ser competitivas quando tiverem salários e custos sociais equivalentes aos chineses, e isso nunca sucederá, ou nunca sucederá sem um guerra civil.

Por isto, é pura estultícia, manter certos mitos só porque são americanos, como o não proteccionismo unilateral, perante o proteccionismo alheio.

Já agora, para o meus amigos pró-americanos, não se ofendam, mas eu penso mesmo assim... e não tenho a intenção de mudar.

sexta-feira, 9 de julho de 2010

SCUTS

Faz-me a maior confusão este drama das SCUTS. Sempre foi sabido que Portugal não podia pagá-las. Sempre foi injusto que os cidadãos não automobilizados tivessem que as subsidiar, principalmente os mais pobres, os desempregados, todos aqueles que pagam o seu IVA no magro pão com que enganam a fome.
Pensei que o PSD iria ter a coragem de cabar com elas. Mas não, também ali estão impregnados aqueles interesses eleiçoeiros com que os autarcas  laranjas - como os de outras cores - têm medo de perder votos.
Assim, não! Assim, não há nada a fazer. Nem económica nem politicamente.
Portugal é tão mau como os Portugueses!

terça-feira, 29 de junho de 2010

acabou...

Acabou-se o futebol. Pedemos com a Espanha 1- 0 e fomo eliminados.
O resultado foi justo e não há desculpa nem vitimzações.
Agora é preciso acordar para a realidade.

quarta-feira, 23 de junho de 2010

saramago e o fim do mundo

Depois de tudo o que fez e que escreveu, Saramago foi com certeza para o Inferno.
Lá chegado, há perigo de o Diabo fugir para o Céu.
O que causaria o fim do mundo.

quinta-feira, 3 de junho de 2010

again and again

Já parece uma sina, esta de não ter em quem votar.
Esta do Cavaco é grave para mim. Tinha a obrigação de vetar e, depois, se tivesse que ser, promulgava à segunda. Mas nesse caso, fazia-o forçado. Mas não. fê-lo e boa vontade e ainda por cima veio invocar razões económicas.
Foi imoral e foi boçal.

sábado, 22 de maio de 2010

Adeus Cavaco

Eu percebi... foi aritmética eleitoral. Todos os votos contam...
E quantos votos de maricas terás ganho em troca do meu voto, que perdeste?
Durante anos batalhei por ti na luta política, perdi tempo, dinheiro, amigos...
Mas não, Cavaco.
Deitaste fora a espinha, a verticalidade que pensei que tinhas.... e vi que não tens, nunca tiveste, princípios morais. Só te interessas por ti próprio, pela tua carreira política, pela tua vaidade...
Não levas mais o meu voto.
És mais um que faz parte do problema: és uma liability.
Adeus Cavaco.

domingo, 16 de maio de 2010

Bento XVI


Esperei pelo fim da visita e pelo arrefecimento dos ânimos.
Como católico, comungo um pouco da tendência portuguesa de ver o Papa, menos como um Chefe de Estado, como um líder religioso, e mais como o representante pessoal de Cristo na Terra, o único homem que fala com Deus. Para mim, há Santidade naquele homem excepcional.

Mas Bento XVI é também um homem e, como homem, talvez o maior filósofo da actualidade, o maior teólogo com certeza, e uma pessoa prodigiosamente culta e inteligente.

Acossado pelos casos de pedofilia na Igreja, como se o pedófilo fosse ele mesmo, como se a própria Igreja Católica fosse uma organização pedófila, veio a Fátima procurar - e encontrou - o conforto pessoal do amor, do carinho, da admiração, da devoção de centenas de milhar de pessoas. Muitas não muito, pouco ou mesmo nada praticantes, uma infinidade de jovens e de crianças. Antes de chegar disse que o perdão não substitui a justiça à qual têm de ser submetidos os que infringiram, que o ataque à Igreja Católica, neste caso, não veio de fora, mas de dentro, de quem agiu daquele modo, e que nenhuma força destruirá a Igreja de Cristo. A Igreja é eterna e, por estranho que pareça a pessoas pouco informadas, já passou por dificuldades mais graves e cometeu pecados piores. E sobreviveu. Também agora vai sobreviver. Todas as vezes aprendeu. Desta vez, que é necessário um maior controlo e que é bem má ideia tentar esconder a vergonha.

Mais do que isso, Bento XVI deixou-nos palavras sábias. Ainda não as consegui absorver na totalidade. Mas para quem se quiser familiarizar melhor com o pensamento de Bento XVI recomendo a leitura urgente da Encíclica, Caritas in veritate, que pode ser contrada e copiada no site do Vaticano - http://www.vatican.va/.
Notei também como na comunicação social se calaram as vozes soezes que de tudo atacavam a Igreja Católica e o próprio Papa, a propósito de tudo e de nada, desde os casos de pedofilia até aos prevervativos.

Finalmente, foi para mim supreendente constatar como se abriu a face e o sorriso daquele homem tímido e reservado, perante o enorme carinho que sentiu de tantos milhares das suas ovelhas.

sábado, 8 de maio de 2010

...o papel do Estado...

Passei mesmo agora os olhos pela televisão (TVI 24) e vi um pedaço duma entrevista duma senhora visivelmente obesa, mas que já tinha perdido peso, porque tinha mesmo chegado a ter 124 kilos. Falava-se de 'obesidade mórbida'. A certa altura o entrevistador (jornalista) alvitra se o Estado não devia fazer qualquer coisa.
Pois... o Estado...
Mas porquê o Estado? interroguei-me eu interiormente. Porque é que há-de sempre ser o Estado?
Porque os portugueses - desde os mais ricos aos mais pobres - chamam sempre pelo Estado, uma espécie mista de paterfamilias global e de Deus ex machina, que serve para tudo.
Para emagrecer os gordos, para engordar os magros, para altear os baixos e baixar os altos, para embelezar os feitos e desfear os belos, para empregar os desempregados e para desmpregar os empregados.
Esta Estatocracia está na massa do sangue de demasiados portugueses, está-lhe no tutano do osso. E acaba por ser útil: dispensa-os de fazerem o que lhes cabe e da responsabilidade por não o fazerem. É um totem.
Porque para emagrecer basta comer menos... não é preciso o Estado, basta força de vontade.
Em Auschwitz não havia gordos... quando lá chegaram as forças aliadas (há filmes) eram todos magrinhos.

domingo, 2 de maio de 2010

os selvagens do futebol

No tempo de Justiniano, havia dois clubes em Constantinopla que disputavan tudo o que era desporto de massas: combates de gladiadores, corridas de quadrigas, etc.: os verdes e os azuis.
Um dia pegaram-se e desataram-se a combater-se nas ruas incendiando e destruindo a capital do Império. O Imperador mandou vir o Belisário com as tropas que estavam a cercar Roma, então já ocupada pelos Lombardos, e mandou juntar todos os verdes e os azuis no Estádio, dizendo que lhes resolveria os diferendos definitivamente.
Belisário chegou com as suas tropas, entrou no estádio e matou-os todos. O problema resolveu-se definitivamente... até agora.

Em Portugal o futebol é mau, é um antro de corrupção e de negócios escuros, não tem público nas bancadas e custa um dinheirão ao país. Bem melhor seria que passasse a ser jogado à porta fechada, transmitido em directo para uma espécie de jardins zoológicos dedicados, onde as claques seriam mantidas para não incomodarem mais ninguém.

sábado, 1 de maio de 2010

agências de rating

Há três principais: Standard  & Poor, Moody's e Finch (e mais uma meia dúzida de secundárias). As três primeiras são as que fazem as principais avaliações da solvabilidade de empresas e países. Mais exactamente, intervêm quando há emissão de 'bonds' (obrigações representativas de dívida) por parte de empresas privadas ou Estados Soberanos (sovereign debt). Tornaram-se notoriamente célebres quando avaliaram o Lehman's Brothers em AAA (triple A) até à véspera da sua falência e a ENRON até três dias antes. Há, no mercado, muito quem ponha em causa a credibilidade das agências de rating. Elas foram imensamente culpadas no 'credit crunch' ao fazerem avaliações completamente erradas de produtos financeiros estruturados que tiveram um papel central na alavancagem financeira (leverage) que esteve na origem desta crise.
Hoje há suspeitas sérias - eu partilho delas - de que estejam a actuar no mercado da 'sovereign debt' europeia simplesmente para provocar subidas do custo dos financiamentos e lucro fabulosos aos tomadores dos 'sovereign bonds'.
O sistema é simples. A crise bancária obrigou os Governos a endividarem-se excessivamente. Ciclicamente têm de recorrer ao mercado para emitirem novos 'sovereign bonds' para, com os correspondentes fundos, pagarem os que se vencerem. Como todos, no mercado, sabem quando é que isso vai suceder, sempre que um Estado com pouca ou nenhuma capacidade de negociação ou de manobra se prepara para lançar uma emissão de bonds, as agências degradam-lhe os ratings e com isso aumentam o preço do dos fundos que podem captar. Aí os especuladores, usam os capitais que obtiveram em mercados baratos e colocam-nos com lucros enormes nestas emissões. Isto só acontece com o chamados 'weakest links' que são hoje (por ordem decrescente) a Grécia, a Espanha, Portugal e até a Itália. São 'weak links' porque geriram tão mal a sua dívida que quando vão ao mercado, estão já financeiramente exangues e vão ser forçados a aceitar o que quer que lhes seja exigido. Esta prática é agiota e usurária e é conseguida - diz-se - pela combinação entre as agências de rating e os intervenientes no mercado, que as remuneram.
Mas as coisas tornaram-se ultimamente mais graves ainda quando a voracidade e a sistematicidade de actuação conjunta das agências de rating e especuladores sugere a existência de um verdadeiro ataque especulativo contra o Euro. A ser assim - espero bem que não - as coisas assumirão uma gravidade inaudita.
Não é que os Governos grego, espanhol, português, etc. não sejam culpados: são-no e gravemente. Mas tal não desculpa nem justifica a rapina feita pelos especuladores de braço dado com as agências de rating.

Vai ser preciso - já é preciso há muito - regulamentar as agências de rating e obrigá-las a uma acreditação junto, pleo menos do BCE e da SEC.
Quando mais cedo melhor.

...dobrar o sinal?

Depois das declarações conjuntas de Sócrates e Passos Coelho e da recente degradação (ainda mais) do rating da República, fiquei - eu e muita gente - a pensar que seriam cancelados os elefantes brancos de obras públicas que o Governo pretende executar.
Puro engano.
Só uma das auto-estardas redundantes é que vai ser reavaliada; o resto, segundo Sócrates, é para manter, porque há compromissos com empresas privadas.
Gostaríamos nós de saber o que são esses compromissos. Como não há esperança de saber, é inevitável especular e tentar adivinhar.
É difícil adivinhar tudo, mas é uma cláusula que salta á vista: o sinal. Receio bem que alguém já tenha recebido o sinal e não queira devolvê-lo em dobro.
Assim vai o real sistema de financiamento dos partidos políticos e dos políticos dos partidos.

quinta-feira, 29 de abril de 2010

frases históricas

Lembro-me bem de Guterres, na campanha eleitoral que o levou a primeiro ministro, dizer: é tempo de deixarmos de ser os bons alunos da Europa.
Também me lembro de Sampaio, Presidente da República, no tempo do governo de Barroso, dizer: há mais vida para além do défice.

Para que o mundo não esqueça

quarta-feira, 28 de abril de 2010

crise e salvação nacional

O corte do rating de Portugal é muitas coisas ao mesmo tempo:
- é reflexo da desgraçada política económica e financeira do Governo,
- da míope política de financiamento (activo e passivo) da banca portuguesa
- de o Governo se ter deixado cair numa posição em que já se sabe no mercado que não tem altenativa e tem mesmo de pagar as taxas que lhe forem exigidas
- da ganância e desonestidade das agências de rating que estão a fazer este corte para permitir que os especuladores depenem Portugal
- de um ataque pessimamente disfarçado ao Euro, começando pelos elos mais fracos


Perante isto, o primeiro passo positivo está na atitude dos dois principais partidos portugueses (os outros são folclore) de coordenar uma cooperação para a Salvação Nacional. Com esta cooperação, passa a haver condições políticas para enfrentar a crise.

segunda-feira, 26 de abril de 2010

16 de Março... 25 de Abril... 25 de Novembro...

É bom não esquecer que tudo começou com o 16 de Março, continuou com o 25 de Abril, mas a democracia só se consolidou em 25 de Novembro de 1976.
A seguir ao 16 de Março o marcelismo continuou, depois do 25 de Abril o comunismos tomou o poder, e só com o 25 de Novembro houve democracia.
Commonsense festeja em 25 de Novembro.

terça-feira, 20 de abril de 2010

Mota-Engil / Contentores

O Ministério Público acaba de propror uma acção administrativa de anulação, por ilegalidade, da prorrogação sem concurso da concessão do terminal de contentores de Alcântara à Mote-Engil.
É uma boa notícia.
A ilegalidade é perfeitamente evidente - como já aqui tinha sido escrito.
O Ministério Público tem toda a razão e está a cumprir o seu dever de defesa da legalidade democrática.
Vamos lá a ver, agora, como é que o processo vair correr.

domingo, 18 de abril de 2010

o ataque à Igreja Católica: o porquê de tanta ferocidade (2)

 Eu sei. É verdade que a Igreja podia e devia ter feito muitíssimo mais do que fez.
A Encíclica Caritas in Veritate di-lo com clareza: Só na verdade é que a caridade refulge.
Por isso, a Santa Igreja Católica Apostólica Romana via ter de revelar toda a verdade sobre o caso e entregar todos os responsáveis à justiça:.Deverá apenas reservar a identidade das vítimas para a sua protecção e por caridade.
Vai sofrer com isso, mas este é o único caminho para a redenção. Como Cristo no monte das oliveiras, vai ter aceitar beber o cálice até ao fim.

o ataque à Igreja Católica: o porquê de tanta ferocidade

Continua sem enfraquecer o ataque contra a Igreja Católica e contra o Papa a pretexto da pedofilia. É verdade, foram detectados casos de abusos sexuais sobre menores em estabelecimentos da Igreja que foram mantidos sem publicidade.
Dizem que sem castigo, porque não percebem que os castigos canónicos são diferentes dos castigos do Estado. E quanto clamor e indignação surgiriam também se a Igreja Católica tivesse prisões, como o Estado, ou condenasse à morte e executasse, como os Estados mais retrógrados. Mas não. A Igreja Católica aplica punições canónicas e o mais não pode fazer. Podia ter entregado os culpados à justiça civil? Podia, e está agora a fazê-lo. Mais vale tarde...

Só que a razão do ataque é diferente. Esta é só um pretexto.
A verdadeira razão deste combate que foi iniciado, usando este pretexto como arma, é outra.
A Igreja Católica é a mais antiga organização do Mundo, com aproximadamente dois mil anos. Passou muitas crises, cometeu muitas maldades, fez um imenso bem no Mundo. E continua a fazer. Ensina nas escolas, trata nos hospitais, investiga nas universidades, civiliza nas missões. Mesmo para quem não crê, tem uma sistema completo de ética global e de moral prática quotidiana que é hoje a única disponível, que é pacífica, cooperante, bondosa, altruísta e solidária. Após o colapso do marxismo, é o único sistema ético global que pode ajudar as pessoas a viverem uma com as outras neste mundo. Para quem crê, é muito mais do que isso, é uma razão para vida.

Porquê, então este ataque tão feroz?
Porque a Igreja Católica não aceita a ganância material do dinheirismo, do consumismo, do capitalismo selvagem, enfim, o Bezerro de Ouro.
Porque combate o aborto, a eutanásia, a promiscuidade e a perversão sexual.
Porque defende a família como célula base da sociedade, a família sã, heterossexual, se possível com filhos e netos, com estabilidade e com amor.
Porque recusa a procura da felicidade no «ter», em vez do «ser».
Porque recusa a guerra como solução dos conflitos.
Porque acredita e defende que todos são filhos de Deus e iguais entre si.

Tudo isto é inaceitável para as novas oligarquias que galopam à solta sobre o mundo como os Cavaleiros do Apocalipse, armadas pelo dinheiro e pela ganância, que traficam a droga, a prostituição, as mulheres e os trabalhadores, que exploram os vícios e as fraquezas dos outros, que destroem a economia das famílias com os seus juros e usuras, com a febre do consumo supérfluo, que as roubam com produtos financeiros fraudulentos, que se enchem de dinheiro com o comércio das armas, das drogas, do tráfego de pessoas, com os negócios do aborto e da eutanásia, com a indústria da morte.

A Igreja Católica tornou-se incómoda aos novos poderosos deste Mundo.

sábado, 17 de abril de 2010

a rapina na EDP

A EDP votou mesmo o bónus escandaloso de milhões de euros ao seu administrador António Mexia. Fê-lo contra o expresso voto do Estado, isto é, dos portgueses em geral.
Sucede que os portugueses em geral, ali representados pelo Estado que votou contra, são os clientes da EDP, a quem esta cobra tarifas mais caras do que são cobradas no resto da Europa.
Essas tarifas poderiam ser mais baixas se os administradores da EDP - com o Mexia à frente - fossem remunerados com mais decência.
Que fazer perante isto?
Não sou accionista da EDP, mas sou cliente. Sou mesmo? Sou eu que pago aquilo?
Não por mais tempo.
Já comecei a estudar o site da ENDESA para mudar de fornecedor.
E recomendo a todos os que não concordem com a indecência que são as remunrações dos administradores da EDP que façam uma coisa simples: não as paguem, mudem o contrato para a ENDESA... eu sei, a ENDESA é espanhola, mas a EDP ainda vai acabar por ser angolana (como a GALP, o BCP, o SOL, e cada vez mais).
O site é este: http://www.endesa.pt/PT/iframe.asp

domingo, 11 de abril de 2010

PSD: já não era sem tempo

O PSD regressou ao seu caminho.
Tinha-se perdido desde que abandonou a ideologia em troca da competência técnica, com Cavaco, e depois com a incompetência técnica de Barroso e Lopes, e com o zero absoluto da MFL.
Regressou para voltar a ser o partido da classe média que quer subir na vida, dos quadro competentes e exigentes, dos pequenos e médios agricultores.
Agora surgiu com ideias, com vigor.
É uma alternativa.

segunda-feira, 5 de abril de 2010

pedofilia

Estas coisas têm os seus quês...
Agora só afalta acusar de pedófilo o Papa Bento XVI
E já ninguém fala nem se lembra da Casa Pia

segunda-feira, 29 de março de 2010

...uma nova moralidade política para Portugal

Depois da longa noite barrosista, quando a inteligência era rarefeita e o mainstream o único caminho, finalmente as coisas mudaram no PSD.
Agora é preciso trabalhar. Na velha linha de Sá Carneiro, o PSD tem de desempenhar o seu papel de ser o canal de representação política democrática dos cidadãos que nele confiarem, o medium, o meio de ligação entre os cidadãos e o poder. Tem de ouvir com atenção e tem de servir com humildade.
O tempo é difícil e o caminho é estreito.
O PEC é inevitável, depois de o Partido Socialista ter comprado as suas maiorias com o dinheiro de todos, criando um buraco abissal nas contas públicas. Mas se é inevitável, não deixa de ser aperfeiçoável. Sobretudo em aliviar tanto quanto possível o sacrifício da classe média. É precisa maior equidade no sacrifício. Não se trata do velho slogan «os ricos que paguem a crise» mas sim que paguem o que for justo que paguem. Em vez de serem sempre os mesmos, a classe média, a pagar a factura quase inteira.
Por outro lado, importa dizer a verdade. Aquilo que a propaganda do PS tem ocultado, que Portugal está á beira da falência, se é que não está mesmo já falido. Só assim as pessoas comuns começarão a compreender o que as espera e a acautelar-se o mais possível.
Já agora, «last but not least», é preciso denunciar a continuação dos gastos públicos inúteis, do excesso de automóveis, das verbas escandalosas dos gabinetes, das PPP ruinosas, dos negócios entre o Estado e os amigos do PS sempre desequilibrados a favor destes últimos.
É necessário começar já a pregar uma nova moralidade política para Portugal.

domingo, 28 de março de 2010

good bye barrosismo

A era do barrosismo começou com o dias-loureirismo, ainda antes do guterrismo. Prolongou-se com o santanalopismo e com o manuelismo. Acabou. Não chegou ao rangelismo.
Caracterizou-se por uma acentuada viragem à direita do PSD, a colar ao CDS, e mesmo a iniciar com ele uma certa (con)fusão. Foi responsável pela progressiva perda do centro do eleitorado para o PS.
O barrosismo fez a sua última tentativa de misceginação entre o PSD e o CDS com a candidatura de Rangel, um CDS travestido de PSD.
A vitória de Passos Coelho, com mais de 61% acabou com tudo isso.
O PSD e o CDS são partidos diferentes, com ideologias distintas e bases de apoio próprias.
Temos agora o PSD centrado no seu lugar, na pequena e média burguesia, nas profissões liberais, nos técnicos competentes, nos professores, nos jovens. Naqueles que anseiam pelo progresso social e pessoal.

Mas a melhor notícia é o fim da falta de alternativas ao PS. Agora sim, há oposição, há alternativa e, espero eu bem, haverá um novo governo que governe em vez de palavrear.

quinta-feira, 25 de março de 2010

o PEC já está a falhar antes de começar

O PEC não chega. É o costume: too litle, too late. É claro que Bruxelas o vai endurecer, designadamente vai exigir uma redução séria e drástica da despesa pública.
Mas esta proposta do PEC já deu mau resultado. O rating de Portugal já começou a degradar-se.
Vale a pena ler o que diz o Der Spiegel (edição inglesa de hoje):

The European Union was already having difficulty deciding what to do about Greece's financial difficulties. Now, Lisbon is threatening to become the next Athens. Fitch on Wednesday downgraded Portugal's credit rating, sending the euro tumbling.

domingo, 21 de março de 2010

a lei da rolha do PSD

Para quem conhece o PSD bem, como eu, que o fundei, o que se passou com a chamada «lei da rolha» no Congresso do PSD foi claro e não tem nenhuma importância. Mas, para os outros não é, e por isso eu explico.
Desde o princípio (leia-se, 1974) que existem no PSD, primeiro PPD, os que têm acesso aos meios de comunicação social e os que não têm. Isto cria desigualdades no debate político.
O «Zé Militante», que não tem acesso à comunicação social, sempre se ressentiu contra o baronato, que tem e que usa o acesso à comunicação social para bem das suas teses políticas e jogadas de poder, em detrimento dos outros. Por isso, são recorrentes, em todos os congressos em que participei, as críticas acerbas, descomposturas e até quase insultos contra os que, perto dos combates eleitorais, vão para os jornais e as televisões «dizer mal do Partido». A isto acresce um certo sentido clubístico do partido e muito «amor à camisola».
Neste caso, foi mais pessoalizado (o que só uma enorme incompetência dos jornalistas que cobriram o congresso não notou): foi uma revolta do povo laranja contra o Pacheco Pereira.
O Pacheco Pereira despreza o povo laranja, que considera inculto, bronco, grunho, emocional, enfim... pouco intelectual. Por sua vez o povo laranja detesta o Pacheco Pereira, que considera altivo, discriminador, snob, e nada respeitador da democracia interna. Para o povo laranja as coisas discutem-se por dentro, nas secções e nas distritais... nunca nos jornais e na televisão.
E foi isso que se passou. O povo laranja, por maioria de 3/5, mandou calar o Pacheco Pereira.
É óbvio que ele não se vai calar e que nada vai acontecer, porque nenhum órgão disciplinar irá castigar quem quer que seja por exprimir livremente a sua opinião na comunicação social.

Perguntar-me-ão, então, porque é que antes isto nunca aconteceu? É que antigamente sempre houve uma liderança que impedia que isto acontecesse. Agora não há...
Antigamente, a própria Mesa falava com os proponentes, dava-lhes atenção. concordava que «os gajos eram filhos de tudo o que eles quisessem, mas aquilo não podia ser». E transformava a proposta de deliberação em recomendação que era, depois, vagamente, aludida nas conclusões do congresso.
Só que, antigamente, o pessoal político liderante tinha outra qualidade.

“Espero que o próximo líder do PSD não seja escolhido pelo aspecto físico.”

Manuela Ferreira Leite não gosta de homens bem-parecidos. E di-lo na qualidade de (ainda) líder do PSD. Que o dissesse no divan do psicanalista, ainda vá que não vá... Mas o PSD não tem culpa do fracasso do casamento de Manuela Ferreira Leite.
Commonsense acha que, depois de tudo o que já viu, o ex-marido de Manuela Ferreira Leite tem toda a desculpa por a ter deixado: mas acha que ele não tem nenhuma desculpa por ter casado com ela.
E pergunta: porque é que Manuela Ferreira Leite não vai para as Noelistas e deixa de importunar o PSD?

sábado, 20 de março de 2010

Aos Católicos da Irlanda

Pela enorme importância que tem transcrevo na íntegra a Carta Pastoral de Bento XVI aos Católicos da Irlanda. 

Origem: www.vatican.va

Carta Pastoral
do Santo Padre Bento XVI
aos Católicos na Irlanda

 
    Tradução não oficial

1. Amados Irmãos e Irmãs da Igreja na Irlanda, é com grande preocupação que vos escrevo como Pastor da Igreja universal. Como vós, fiquei profundamente perturbado com as notícias dadas sobre o abuso de crianças e jovens vulneráveis da parte de membros da Igreja na Irlanda, sobretudo de sacerdotes e religiosos. Não posso deixar de partilhar o pavor e a sensação de traição que muitos de vós experimentastes ao tomar conhecimento destes actos pecaminosos e criminais e do modo como as autoridades da Igreja na Irlanda os enfrentaram.
Como sabeis, convidei recentemente os bispos irlandeses para um encontro aqui em Roma a fim de referir sobre o modo como trataram estas questões no passado e indicar os passos que empreenderam para responder a esta grave situação. Juntamente com alguns altos Prelados da Cúria Romana ouvi quanto tinham para dizer, quer individualmente quer em grupo, enquanto propunham uma análise dos erros cometidos e das lições aprendidads, e uma descrição dos programas e dos protocolos hoje existente. As nossas reflexões foram francas e construtivas. Alimento a confiança de que, como resultado, os bispos se encontrem agora numa posição mais forte para levar por diante a tarefa de reparar as injustiças do passado e para enfrentar as temáticas mais amplas relacionadas com o abuso dos menores segundo modalidades conformes com as exigências da justiça e com os ensinamentos do Evangelho.

2. Por meu lado, considerando a gravidade destas culpas e a resposta muitas vezes inadequada que lhes foi reservada da parte das autoridades eclesiásticas no vosso país,, decidi escrever esta Carta Pastoral para vos expressar a minha proximidade, e para vos propor um caminho de cura, de renovação e de reparação.
Na realidade, como muitos no vosso país revelaram, o problema do abuso dos menores não é específico nem da Irlanda nem da Igreja. Contudo a tarefa que agora tendes à vossa frente é enfrentar o problema dos abusos que se verificaram no âmbito da comunidade católica irlandesa e de o fazer com coragem e determinação. Ninguém pense que esta dolorosa situação se resolverá em pouco tempo. Foram dados passos em frente positivos, mas ainda resta muito para fazer. É preciso perseverança e oração, com grande confiança na força restabelecedora da graça de Deus.
Ao mesmo tempo, devo expressar também a minha convicção de que, para se recuperar desta dolorosa ferida, a Igreja na Irlanda deve em primeiro lugar reconhecer diante do Senhor e diante dos outros, os graves pecados cometidos contra jovens indefesos. Esta consciência, acompanhada de sincera dor pelo dano causado às vítimas e às suas famílias, deve levar a um esforço concentrado para garantir a protecção dos jovens em relação a semelhantes crimes no futuro.
Enquanto enfretais os desafios deste momento, peço-vos que vos recordeis da «rocha de que fostes talhados» (Is 51, 1). Reflecti sobre as contribuições generosas, com frequência heróicas, oferecidas à Igreja e à humanidade como tal pelas passadas gerações de homens e mulheres irlandeses, e deixai que isto gere impulso para um honesto auto-exame e um convicto programa de renovação eclesial e individual. A minha oração é por que, assistida pela intercessão dos seus muitos santos e purificada pela penitência, a Igreja na Irlanda supere a presente crise e volte a ser uma testemunha convincente da verdade e da bondade de Deus omnipotente, manifestadas no seu Filho Jesus Cristo.

3. Historicamente os católicos da Irlanda demonstraram-se uma grande força de bem quer na pátria quer fora. Monges célticos, como São Colombano, difundiram o Evangelho na Europa Ocidental lançando as bases da cultura monástica medieval. Os ideais de santidade, de caridade e de sabedoria transcendente que derivam da fé cristã, encontraram expressão na construção de igrejas e mosteiros e na instituição de escolas, bibliotecas e hospitais que consolidaram a identidade espiritual da Europa. Aqueles missionários irlandeses tiraram a sua força e inspiração da fé sólida, da guia forte e dos comportamentos morais rectos da Igreja na sua terra natal.
A partir do século XVI, os católicos na Irlanda sofreram um longo período de perseguição, durante o qual lutaram para manter viva a chama da fé em circunstâncias perigosas e difíceis. Santo Oliver Plunkett, o Arcebispo mártir de Armagh, é o exemplo mais famoso de uma multidão de corajosos filhos e filhas da Irlanda dispostos a dar a própria vida pela fidelidade ao Evangelho. Depois da Emancipação Católica, a Igreja teve a liberdade de crescer de novo. Famílias e inúmeras pessoas que tinham preservado a fé durante os tempos das provações tornaram-se a centelha de um grande renascimento do catolicismo irlandês no século XIX. A Igreja forneceu escolarização, sobretudo aos pobres, e isto deu uma grande contribuição à sociedade irlandesa. Um dos frutos das novas escolas católicas foi um aumento de vocações: gerações de sacerdotes, irmãs e irmãos missionários deixaram a pátria para servir em todos os continentes, sobretudo no mundo de língua inglesa. Foram admiráveis não só pela vastidão do seu número, mas também pela robustez da fé e pela solidez do seu empenho pastoral. Muitas dioceses, sobretudo em África, América e Austrália, beneficiaram da presença de clero e religiosos irlandeses que anunciaram o Evangelho e fundaram paróquias, escolas e universidades, clínicas e hospitais, que serviram tanto os católicos, como a sociedade em geral, com atenção especial às necessidades dos pobres.
Em quase todas as famílias da Irlanda houve alguém – um filho ou uma filha, uma tia ou um tio – que deu a própria vida à Igreja. Justamente as famílias irlandesas têm em grande estima e afecto os seus queridos, que ofereceram a própria vida a Cristo, partilhando o dom da fé com outros e actualizando-a num serviço amoroso a Deus e ao próximo.

4. Contudo, nos últimos decénios a Igreja no vosso país teve que se confrontar com novos e graves desafios à fé que surgiram da rápida transformação e secularização da sociedade irlandesa. Verificou-se uma mudança social muito rápida, que muitas vezes atingiu com efeitos hostis a tradicional adesão do povo ao ensinamento e aos valores católicos. Com frequência as práticas sacramentais e devocionais que sustentam a fé e a tornam capaz de crescer, como por exemplo a confissão frequente, a oração quotidiana e os ritos anuais, não foram atendidas. Determinante foi também neste período a tendência, até da parte de sacerdotes e religiosos, para adoptar modos de pensamento e de juízo das realidades seculares sem referência suficiente ao Evangelho. O programa de renovação proposto pelo Concílio Vaticano II por vezes foi mal compreendido e na realidade, à luz das profundas mudanças sociais que se estavam a verificar, não era fácil avaliar  o modo melhor de o realizar. Em particular, houve uma tendência, ditada por recta intenção mas errada, a evitar abordagens penais em relação a situações canónicas irregulares. É neste contexto geral que devemos procurar compreender o desconcertante problema do abuso sexual dos jovens, que contribuiu em grande medida para o enfraquecimento da fé e para a perda do respeito pela Igreja e pelos seus ensinamentos.
Só examinando com atenção os numerosos elementos que deram origem à crise actual é possível empreender uma diagnose clara das suas causas e encontrar remédios eficazes. Certamente, entre os factores que para ela contribuíram podemos enumerar: procedimentos inadequados para determinar a idoneidade dos candidatos ao sacerdócio e à vida religiosa; insuficiente formação humana, moral, intelectual e espiritual nos seminários e nos noviciados; uma tendência na sociedade a favorecer o clero e outras figuras com autoridade e uma preocupação inoportuna pelo bom nome da Igreja e para evitar os escândalos, que levaram como resultado à malograda aplicação das penas canónicas em vigor e à falta da tutela da dignidade de cada pessoa. É preciso agir com urgência para enfrentar estes factores, que tiveram consequências tão trágicas para as vidas das vítimas e das suas famílias e obscureceram a luz do Evangelho a tal ponto, ao qual nem sequer séculos de perseguição não tinham chegado.

5. Em diversas ocasiões desde a minha eleição para a Sé de Pedro, encontrei vítimas de abusos sexuais, assim como estou disponível a fazê-lo no futuro. Detive-me com elas, ouvi as suas vicissitudes, tomei nota do seu sofrimento, rezei com e por elas. Precedentemente no meu pontificado, na preocupação por enfrentar este tema, pedi aos Bispos da Irlanda, por ocasião da visita ad limina de 2006, que «estabelecessem a verdade de quanto aconteceu no passado, tomassem todas as medidas adequadas para evitar que se repita no futuro, garantissem que os princípios de justiça sejam plenamente respeitados e, sobretudo, curassem as vítimas e quantos são atingidos por estes crimes abnormes» (Discurso aos Bispos da Irlanda, 28 de Outubro de 2006).
Com esta Carta, pretendo exortar todos vós, como povo de Deus na Irlanda, a reflectir sobre as feridas infligidas ao corpo de Cristo, sobre os remédios, por vezes dolorosos, necessários para as atar e curar, e sobre a necessidade de unidade, de caridade e de ajuda recíproca no longo processo de restabelecimento e de renovação eclesial. Dirijo-me agora a vós com palavras que me vêm do coração, e desejo falar a cada um de vós individualmente e a todos como irmãos e irmãs no Senhor.

6. Às vítimas de abuso e às suas famílias
Sofrestes tremendamente e por isto sinto profundo desgosto. Sei que nada pode cancelar o mal que suportastes. Foi traída a vossa confiança e violada a vossa dignidade. Muitos de vós experimentastes que, quando éreis suficientemente corajosos para falar de quanto tinha acontecido, ninguém vos ouvia. Quantos de vós sofrestes abusos nos colégios deveis ter compreendido que não havia modo de evitar os vossos sofrimentos. É comprensível que vos seja difícil perdoar ou reconciliar-vos com a Igreja. Em seu nome expresso abertamente a vergonha e o remorso que todos sentimos. Ao mesmo tempo peço-vos que não percais a esperança. É na comunhão da Igreja que encontramos a pessoa de Jesus Cristo, ele mesmo vítima de injustiça e de pecado. Como vós, ele ainda tem as feridas do seu injusto padecer. Ele compreende a profundeza dos vossos padecimentos e o persistir do seu efeito nas vossas vidas e nos relacionamentos com os outros, incluídas as vossas relações com a Igreja. Sei que alguns de vós têm dificuldade até de entrar numa igreja depois do que aconteceu. Contudo, as mesmas feridas de Cristo, transformadas pelos seus sofrimentos redentores, são os instrumentos graças aos quais o poder do mal é infrangido e nós renascemos para a vida e para a esperança. Creio firmemente no poder restabelecedor do seu amor sacrifical – também nas situações mais obscuras e sem esperança – que traz a libertação e a promessa de um novo início.
Dirigindo-me a vós como pastor, preocupado pelo bem de todos os filhos de Deus, peço-vos com humildade que reflictais sobre quanto vos disse. Rezo a fim de que, aproximando-vos de Cristo e participando na vida da sua Igreja – uma Igreja purificada pela penitência e renovada na caridade pastoral – possais redescobrir o amor infinito de Cristo por todos vós. Tenho confiança em que deste modo sereis capazes de encontrar reconciliação, profunda cura interior e paz.

7. Aos sacerdotes e aos religiosos que abusaram dos jovens
Traístes a confiança que os jovens inocentes e os seus pais tinham em vós. Por isto deveis responder diante de Deus omnipotente, assim como diante de tribunais devidamente constituídos. Perdestes a estima do povo da Irlanda e lançastes vergonha e desonra sobre os vossos irmãos. Quantos de vós sois sacerdotes violastes a santidade do sacramento da Ordem Sagrada, no qual Cristo se torna presente em nós e nas nossas acções. Juntamente com o enorme dano causado às vítimas, foi perpetrado um grande dano à Igreja e à percepção pública do sacerdócio e da vida religiosa.
Exorto-vos a examinar a vossa consciência, a assumir a vossa responsabilidade dos pecados que cometestes e a expressar com humildade o vosso pesar. O arrependimento sincero abre a porta ao perdão de Deus e à graça do verdadeiro emendamento. Oferecendo orações e penitências por quantos ofendestes, deveis procurar reparar pessoalmente as vossas acções. O sacrifício redentor de Cristo tem o poder de perdoar até o pecado mais grave e de obter o bem até do mais terrível dos males. Ao mesmo tempo, a justiça de Deus exige que prestemos contas das nossas acções sem nada esconder. Reconhecei abertamente a vossa culpa, submetei-vos às exigências da justiça, mas não desespereis da misericórdia de Deus.

8. Aos pais
Ficastes profundamente transtornados ao tomar conhecimento das coisas terríveis que tiveram lugar naquele que deveria ter sido o ambiente mais seguro para todos. No mundo de hoje não é fácil construir um lar doméstico e educar os filhos. Eles merecem crescer num ambiente seguro, amados e queridos, com um forte sentido da sua identidade e do seu valor. Têm direito a ser educados nos valores morais autênticos, radicados na dignidade da pessoa humana, a serem inspirados pela verdade da nossa fé católica e a aprender modos de comportamento e de acção que os levem a uma sadia estima de si e à felicidade duradoura. Esta tarefa nobre e exigente está confiada em primeiro lugar a vós, seus pais. Exorto-vos a fazer a vossa parte para garantir a melhor cura possível dos jovens, quer em casa quer na sociedade em geral, enquanto que a Igreja, por seu lado, continua a pôr em prática as medidas adoptadas nos últimos anos para tutelar os jovens nos ambients paroquiais e educativos. Enquanto dais continuidade às vossas importantes responsabilidades, certifico-vos de que estou próximo de vós e que vos dou o apoio da minha oração.

9. Aos meninos e aos jovens da Irlanda
Desejo oferecer-vos uma particular palavra de encorajamento. A vossa experiência de Igreja é muito diversa da que fizeram os vossos pais e avós. O mundo mudou muito desde quando eles tinham a vossa idade. Não obstante, todos, em cada geração, estão chamados a percorrer o mesmo caminho da vida, sejam quais forem as circunstâncias. Todos estamos escandalizados com os pecados e as falências de alguns membros da Igreja, sobretudo de quantos foram escolhidos de modo especial para guiar e servir os jovens. Mas é na Igreja que encontrareis Jesus Cristo que é o mesmo ontem, hoje e sempre (cf. Hb 13, 8). Ele ama-vos e ofereceu-se a si próprio na Cruz por vós. Procurai uma relação pessoal com ele na comunhão da sua Igreja, porque ele nunca trairá a vossa confiança! Só ele pode satisfazer as vossas expectativas mais profundas e conferir às vossas vidas o seu significado mais pleno orientando-as para o serviço ao próximo. Mantende o olhar fixo em Jesus e na sua bondade e protegei no vosso coração a chama da fé. Juntamente com os vossos irmãos católicos na Irlanda olho para vós a fim de que sejais discípulos fiéis do nosso Deus e contribuais com o vosso entusiasmo e com o vosso idealismo tão necessários para a reconstrução e para o renovamento da nossa amada Igreja.

10. Aos sacerdotes e aos religiosos da Irlanda
Todos nós estamos a sofrer como consequência dos pecados dos nossos irmãos que traíram uma ordem sagrada ou não enfrentaram de modo justo e responsável as acusações de abuso. Perante o ultraje e a indignação que isto causou, não só entre os leigos mas também entre vós e as vossas comunidades religiosas, muitos de vós sentis-vos pessoalmente desanimados e também abandonados. Além disso, estou consciente de que aos olhos de alguns sois culpados por associação, e considerados como que de certo modo responsáveis pelos delitos de outros. Neste tempo de sofrimento, desejo reconhecer-vos a dedicação da vossa vida de sacerdotes e de religiosos e dos vossos apostolados, e convido-vos a reafirmar a vossa fé em Cristo, o vosso amor à sua Igreja e a vossa confiança na promessa de redenção, de perdão e de renovação interior do Evangelho. Deste modo, demonstrareis a todos que onde abunda o pecado, superabunda a graça (cf. Rm 5, 20).
Sei que muitos de vós estais desiludidos, transtornados e encolerizados pelo modo como estas questões foram tratadas por alguns dos vossos superiores. Não obstante, é essencial que colaboreis de perto com quantos têm a autoridade e que vos comprometais para fazer com que as medidas adoptadas para responder à crise sejam verdadeiramente evangélicas, justas e eficazes. Sobretudo, exorto-vos a tornar-vos cada vez mais claramente homens e mulheres de oração, seguindo com coragem o caminho da conversão, da purificação e da reconciliação. Deste modo, a Igreja na Irlanda haurirá nova vida e vitalidade do vosso testemunho ao poder redentor do Senhor tornado visível na vossa vida.

11. Aos meus irmãos bispos
Não se pode negar que alguns de vós e dos vossos predecessores falhastes, por vezes gravemente, na aplicação das normas do direito canónico codificado há muito tempo sobre os crimes de abusos de jovens. Foram cometidos sérios erros no tratamento das acusações. Compreendo como era difícil lançar mão da extensão e da complexidade do problema, obter informações fiáveis e tomar decisões justas à luz de conselhos divergentes de peritos. Contudo, deve-se admitir que foram cometidos graves erros de juízo e que se verificaram faltas de governo. Tudo isto minou seriamente a vossa credibilidade e eficiência. Aprecio os esforços que fizestes para remediar os erros do passado e para garantir que não se repitam. Além de pôr plenamente em prática as normas do direito canónico ao enfrentar os casos de abuso de jovens, continuai a cooperar com as autoridades civis no âmbito da sua competência. Claramente, os superiores religiosos devem fazer o mesmo. Também eles participaram em recentes encontros aqui em Roma destinados a estabelecer uma abordagem clara e coerente destas questões. É obrigatório que as normas da Igreja na Irlanda para a tutela dos jovens sejam constantemente revistas e actualizadas e que sejam aplicadas de modo total e imparcial em conformidade com o direito canónico.
Só uma acção decidida levada em frente com total honestidade e transparência poderá restabelecer o respeito e a benquerença dos Irlandeses em relação à Igreja à qual consagrámos a nossa vida. Isto deve brotar, antes de tudo, do exame de vós próprios, da purificação interior e da renovação espiritual. O povo da Irlanda espera justamente que sejais homens de Deus, que sejais santos, que vivais com simplicidade, que procureis todos os dias a conversão pessoal. Para ele, segundo a expressão de Santo Agostinho, sois bispos; contudo estais chamados a ser com eles seguidores de Cristo (cf. Discurso 340, 1). Exorto-vos portanto a renovar o vosso sentido de responsabilidade diante de Deus, a crescer em solidariedade com o vosso povo e a aprofundar a vossa solicitude pastoral por todos os membros da vossa grei. Em particular, sede sensíveis à vida espiritual e moral de cada um dos vossos sacerdotes. Sede um exemplo com as vossas próprias vidas, estai-lhes próximos, ouvi as suas preocupações, oferecei-lhes encorajamento neste tempo de dificuldades e alimentai a chama do seu amor a Cristo e o seu compromisso no serviço dos seus irmãos e irmãs.
Também os leigos devem ser encorajados a fazer a sua parte na vida da Igreja. Fazei com que sejam formados de modo que possam dizer a razão, de maneira articulada e convincente, do Evangelho na sociedade moderna (cf. 1 Pd 3, 15), e cooperem mais plenamente na vida e na missão da Igreja. Isto, por sua vez, ajudar-vos-á a ser de novo guias e testemunhas credíveis da verdade redentora de Cristo.

12. A todos os fiéis da Irlanda
A experiência que um jovem faz da Igreja deveria dar sempre fruto num encontro pessoal e vivificante com Jesus Cristo numa comunidade que ama e que oferece alimento. Neste ambiente, os jovens devem ser encorajados a crescer até à sua plena estatura humana e espiritual, a aspirar por ideais nobres de santidade, de caridade e de verdade e a inspirar-se nas riquezas de uma grande tradição religiosa e cultural. Na nossa sociedade cada vez mais secularizada, na qual também nós critãos muitas vezes temos dificuldade em falar da dimensão transcendente da nossa existência, precisamos de encontrar novos caminhos para transmitir aos jovens a beleza e a riqueza da amizade com Jesus Cristo na comunhão da sua Igreja. Ao enfrentar a presente crise, as medidas para se ocupar de modo justo de cada um dos crimes são essenciais, mas sozinhas não são suficientes: há necessidade de uma nova visão para inspirar a geração actual e as futuras a fazer tesouro do dom da nossa fé comum. Caminhando pela via indicada pelo Evangelho, observando os mandamentos e conformando a nossa vida de maneira cada vez mais próxima com a pessoa de Jesus Cristo, fareis a experiência da renovação profunda da qual hoje há uma urgente necessidade. Convido-vos a todos a perseverar neste caminho.

13. Amados irmãos e irmãs em Cristo, é com profunda preocupação por todos vós neste tempo de sofrimento, no qual a fragilidade da condição humana foi tão claramente revelada, que desejei oferecer-vos estas palavras de encorajamento e de apoio. Espero que as acolhais como um sinal da minha proximidade espiritual e da minha confiança na vossa capacidade de responder aos desafios do momento actual tirando renovada inspiração e força das nobres tradições da Irlanda de fidelidade ao Evangelho, de perseverança na fé e de firmeza na consecução da santidade. Juntamente com todos vós, rezo com insistência para que, com a graça de Deus, as feridas que atingiram muitas pessoas e famílias possam ser curadas e que a Igreja na Irlanda possa conhecer uma época de renascimento e de renovação espiritual.

14. Desejo propor-vos algumas iniciativas concretas para enfrentar a situação. No final do meu encontro com os Bispos da Irlanda, pedi que a Quaresma  deste ano fosse considerada como tempo de oração para uma efusão da misericórdia de Deus e dos dons de santidade e de força do Espírito Santo sobre a Igreja no vosso país. Agora convido todos vós a dedicar as vossas penitências da sexta-feira, durante todo o ano, de agora até à Páscoa de 2011, por esta finalidade. Peço-vos que ofereçais o vosso jejum, a vossa oração, a vossa leitura da Sagrada Escritura e as vossas obras de misericórdia para obter a graça da cura e da renovação para a Igreja na Irlanda. Encorajo-vos a redescobrir o sacramento da Reconciliação e a valer-vos com mais frequência da força transformadora da sua graça.
Deve ser dedicada também particular atenção à adoração eucarística, e em cada diocese deverão haver igrejas ou capelas reservadas especificamente para esta finalidade. Peço que as paróquias, os seminários, as casas religiosas e os mosteiros organizem tempos para a adoração eucarística, de modo que todos tenham a possibilidade de participar deles. Com oração fervorosa diante da presença real do Senhor, podeis fazer a reparação pelos pecados de abuso que causaram tantos danos, e ao mesmo tempo implorar a graça de uma renovada força e de um sentido da missão mais profundo por parte de todos os bispos, sacerdotes, religiosos e fiéis.
Tenho esperança em que este programa levará a um renascimento da Igreja na Irlanda na plenitude da própria verdade de Deus, porque é a verdade que nos torna livres (cf. Jo 8, 32).
Além disso, depois de me ter consultado e rezado sobre a questão, tenciono anunciar uma Visita Apostólica a algumas dioceses da Irlanda, assim como a seminários e congregações religiosas. A Visita propõe-se ajudar a Igreja local no seu caminho de renovação e será estabelecida em cooperação com as repartições competentes da Cúria Romana e com a Conferência Episcopal Irlandesa. Os pormenores serão anunciados no devido momento.
Além disso proponho que se realize uma Missão a nível nacional para todos os bispos, sacerdotes e religiosos. Alimento a esperança de que, haurindo da competência de peritos pregadores e organizadores de retiros quer da Irlanda como de outras partes, e reexaminando os documentos conciliares, os ritos litúrgicos da ordenação e da profissão e os recentes ensinamentos pontifícios, alcanceis um apreço mais profundo das vossas respectivas vocações, de modo a redescobrir as raízes da vossa fé em Jesus Cristo e a beber abundantemente nas fontes da água viva que ele vos oferece através da sua Igreja.
Neste Ano dedicado aos Sacerdotes, recomendo-vos de modo muito particular a figura de São João Maria Vianney, que teve uma compreensão tão rica do mistério do sacerdócio. «O sacerdote, escreveu, possui a chave dos tesouros do céu: é ele quem abre a porta, é ele o dispensador do bom Deus, o administrador dos seus bens». O cura d’Ars compreendeu bem como é grandemente abençoada uma comunidade quando é servida por um sacerdote bom e santo. «Um bom pastor, um pastor segundo o coração de Deus, é o tesouro maior que o bom Deus pode dar a uma paróquia e um dos dons mais preciosos da misericórdia divina». Por intercessão de São João Maria Vianney possa o sacerdócio na Irlanda retomar vida e a inteira Igreja na Irlanda crescer na estima do grande dom do ministério sacerdotal.
Aproveito esta ocasião para agradecer desde já a quantos se comprometerem no empenho de organizar a Visita Apostólica e a Missão, assim como os tantos homens e mulheres que em toda a Irlanda já se comprometeram pela tutela dos jovens nos ambientes eclesiásticos. Desde quando a gravidade e a extensão do problema dos abusos sexuais dos jovens em instituições católicas começou a ser plenamente compreendido, a Igreja desempenhou uma grande quantidade de trabalho em muitas partes do mundo, a fim de o enfrentar e remediar. Enquanto não se deve poupar esforço algum para melhorar e actualizar procedimentos já existentes, encoraja-me o facto de que as práticas de tutela em vigor, adoptadas pelas Igrejas locais, são consideradas, nalgumas partes do mundo, um modelo que deve ser seguido por outras instituições.
Desejo concluir esta Carta com uma especial Oração pela Igreja na Irlanda, que vos envio com o cuidado que um pai tem pelos seus filhos e com o afecto de um cristão como vós, escandalizado e ferido por quanto aconteceu na nossa amada Igreja. Ao utilizardes esta oração nas vossas famílias, paróquias e comunidades, que a Bem-Aventurada Virgem Maria vos proteja e vos guie pelo caminho que conduz a uma união mais estreita com o seu Filho, crucificado e ressuscitado. Com grande afecto e firme confiança nas promessas de Deus, concedo de coração a todos vós a minha Bênção Apostólica em penhor de força e paz no Senhor.

Vaticano, 19 de Março de 2010, Solenidade de São José

Benedictus PP. XVI

ORAÇÃO PELA IGREJA NA IRLANDA

Deus dos nossos pais,
Renova-nos na fé que é para nós vida e salvação
na esperança que promete perdão e renovação interior,
na caridade que purifica e abre os nossos corações
para te amar, e em ti, amar todos os nossos irmãos e irmãs.
Senhor Jesus Cristo
possa a Igreja na Irlanda renovar o seu milenário compromisso
na formação dos nossos jovens no caminho da verdade,
da bondade, da santidade e do serviço generoso à sociedade.
Espírito Santo, consolador, advogado e guia,
inspira uma nova primavera de santidade e de zelo apostólico
para a Igreja na Irlanda.
Possa a nossa tristeza e as nossas lágrimas
o nosso esforço sincero por corrigir os erros do passado,
e o nosso firme propósito de correcção,
dar abundantes frutos de graça
para o aprofundamento da fé
nas nossas famílias, paróquias, escolas e associações,
e para o progresso espiritual da sociedade irlandesa,
e para o crescimento da caridade, da justiça, da alegria
e da paz, na inteira família humana.
A ti, Trindade,
com plena confiança na amorosa protecção de Maria,
Rainha da Irlanda, nossa Mãe,
e de São Patrício, de Santa Brígida e de todos os santos,
recomendamos a nós próprios, os nossos jovens,
e as necessidades da Igreja na Irlanda.
Amém.

... nem 8 nem 80 ...

Muita gente o diz... e pode ser que seja verdade... que os partidos precisam de renovação.
O Rangel entrou no PSD, segundo as minhas últimas informações, há dois anos, vindo do CDS (embora já não se lembrasse de ter assinado ficha pelo CDS). Nesta lógica, terá mais legitimidade do que eu, que entrei em 1974 (até tenho diploma de Fundador).
Mas, francamente, 2 anos... ou mesmo 4 anos... ou 5...?!!!!!!!!!
Um partido político não é um clube de futebol que contrate novos lideres para cada combate eleitoral (campeonato), independentemente até de uma ideologia própria.
É um péssimo sinal que Rangel não se lembre de ter aderido ao CDS há bem pouco tempo. Ou tem má memória ou mente que nem um Sócrates.
Também é mau não saiba distinguir ideologicamente o PSD do CDS. Eu sei, eu sei, que os interesses económicos desejam uma fusão (merger, acquisition, take-over) de um partido com o outro para formar o grande partido da direito rica, onde não deixariam de ficar com uma golden share. Mas, para mim, há diferenças ideológicas importantes entre o CDS e o PSD. O CDS é um partido puramente conservador (quando não mais à direita) que serve fundamentalmente de representante político da oligarquia portuguesa; o PSD é um partido interclassista, de classe média, de centro esquerda e centro direita, reformista e não conservador.
Nem me convence o argumento da vitória de Rangel nas eleições europeias. O que sucedeu então, foi mais uma derrota de Sócrates do que uma vitória de Rangel. E Sócrates só não perdeu as legislativas, porque a Manuela ainda perdeu mais do que ele.
Rangel dá um bom líder parlamentar, mas não um líder para o PSD.
O PSD precisa de se apresentar ao eleitorado como representante da classe média pequena, humilde, que vem a Lisboa no IC-19 (e não na A-5), que anda em transportes públicos e carro modesto, que está crivada de dívidas, empobrecida, assustada com o futuro, que não conhece banqueiros, só os cobradores dos bancos. É este povo pequeno, laborioso, trabalhador, sério, e hoje imensamente vulnerável que o PSD representa. Se o PSD não lhe captar os votos, vai perder outra vez.
Os banqueiros vão ter de compreender que o voto político é por cabeça, não é por capital.
Vou votar no Passos Coelho.

domingo, 14 de março de 2010

Icesave gone bust

Os Islandeses, em referendo, recusaram o chamado Icesave, isto é, recusaram-se a pagar as falências de alguns Bancos finlandeses aos seus credores Ingleses e Holandeses.
Fizeram bem.
A dívida relativa ao Icesave não era dos Islandeses em comum, era daqueles Bancos em particular e, em caso de irregularidades na gestão, também dos seus gestores e, quiçá ainda, dos seus accionistas.
Do mesmo modo, que se falir algum ou alguns Bancos portugueses, não são todos os Portugueses a ter de pagar tais falências.

Não há nada que justifique que os lucros sejam pessoais do gestores e dos accionistas e que os prejuízos sejam socializados.

sábado, 13 de março de 2010

congresso do PSD

No Congresso do PSD, três personalidades políticas distintas:
Rangel demagogo e populista; não se sabe se do PSD se do CDS, sem consistência ideológica.
A. Branco, calmo, cerebral, ideológico, muito mais virado para dentro do Partido que para a saciedade civil. O ar de «pinoca do porto» não ajuda a ganhar votos. Pior ainda, em campanha eleitoral o slogan soa mal: VOTA EM BRANCO. Fatal.
Passos Coelho, muito experiente, a dominar, mas com um deslize final surpreendente.


Parece que temos PSD para a oposição.

sexta-feira, 12 de março de 2010

bullying again

O professor suicidou-se a 9 de Fevereiro, tendo deixado, no seu computador pessoal, um texto que afirmava: “Se o meu destino é sofrer, dando aulas a alunos que não me respeitam e me põem fora de mim, não tendo outras fontes de rendimento, a única solução apaziguadora será o suicídio”. (Público, 13.III.2010)

Mais outro caso de bullying mortal. Agora foi um professor que se suicidou por não aguentar a pressão a que era submetido pelos alunos.
As autoridades apressaram-se a desculpar: o professor estaria em estado de fragilidade psicológica. Mas será que alguém se suicida sem estar em estado de grave fragilidade psicológica?! Só se suicida quem chega a um estado de fragilidade psicológica de desespero e de dor interior insuportáveis, tão insuportáveis que só a morte os alivia.
Em ambos os casos o suicídio foi provocado por pressão dos alunos.
Em ambos os casos as autoridades menorizaram o sucedido e recusaram investigar e procurar castigar os responsáveis. Em vez disso lançaram mão de psicólogos para aliviar o sofrimento causado nos agressores, para aliviar o remorso. Assim tentaram anestesiar o sentimento de culpa, para que não haja sequer arrependimento, para que tudo continue na mesma.
Porque as autoridades do Ministério da Educação, no fundo, sabem bem que os últimos responsáveis são eles mesmos, quando permitem um ambiente geral de indisciplina, violência e irresponsabilidade.
Vai de mal a pior o sistema de ensino em Portugal.

quinta-feira, 11 de março de 2010

o boy de todos os boys

o Ministro Teixeira Santos teve o mau senso e mau gosto de tartar por «boys» os Presidente de Juntas de Freguesia eleitos democraticamente pelos Portugueses. Pior ainda, fê-lo em pela sessão parlamentar.
Vindo de quem vem, é de duvidar: o Ministro é totalmente insensato, privo de contenção verbal e de entendimento político ou escolheu ofender deliberadamente quem foi eleito pelo povo.
Seja qual for, sejam mesmo as duas, este Ministro não pode continuar a merecer o respeito nem a confiança dos Portugueses.

domingo, 7 de março de 2010

bullying

Um miúdo matou-se para fugir ao bullying. Agora toda a gente se incomoda.
Mas ninguém se incomodou durante anos perante os crescimento e consolidação do bullying nas escolas portuguesas. Quase ninguém, para ser justo, porque já chegou a haver uma condenação judicial.
O bullying ganhou foros de prática cultural, nas praxes académicas. Uns acham engraçado, outros inevitável.
Todos os anos protesto na minha Faculdade contra a praxe, mas as pessoas supostamente sábias e politicamente correctas encolhem os ombros e não me levam a sério. Até me acham ingénuo.
A praxe académica é uma forma particularmente perversa de bullying. Traduz-se na humilhação (quando não mesmo, na agressão) dos mais fracos pelos mais fortes. É moralmente repugnante. E o pior é que até há vítimas que acham graça e investem na sua própria humilhação para no anos seguintes poderem humilhar os mais novos. 
Mas só há bullying porque há cobardia pessoal e institucional nos dirigentes das escolhas, das polícias, e da sociedade, que o deviam evitar. E também naqueles que aceitam sujeitar-se a à praxe. No ano em que entrei na Faculdade, 1965, ai de quem tentasse praxar-me: havia sangue de certeza.

No caso que agora - só agora - arrepia toda agente, há responsáveis. aqueles que o fizeram e aqueles que o permitiram. Foi homicídio involuntário, mas foi homicídio.
Estão identificados responsáveis - autores, co-autores, auxiliares, cúmplices, instigadores. E estão também identificados os responsáveis - dirigentes escolares que o permitiram com a sua displicência, negligência e cobardia.
Como homicídio involuntário (ninguém queria que o miúdo morresse), o Ministério Público tem de abrir o inquérito, constituir arguidos e acusar. E o Tribunal tem de julgar.
Só que aí entrará previsivelmente a maior e mais grave de todas as cobardias: o vício do politicamente correcto do nosso já bem conhecido Procurador-Geral da República, que vai - já o adivinho - achar que não houve crime... apenas um problema social que se trata com psicólogos.

sexta-feira, 5 de março de 2010

the dark side of the moon (3) sticks and stones

A indústria da construção é antiga, digna e laboriosa. Mas precisa de obras e de adjudicações. A construção pesada precisa de obras pesadas e essas é só o Estado que as dá a construir: obras públicas.
Para obter as adjudicações é preciso persuadir quem as decide.

A partir daqui é ficção: qualquer semelhança com pessoas e realidades é pura coincidência.

Para obter uma adjudicação a construtora entrega uma quantia ao partido político que está no poder. Às vezes a um seu membro que fica com alguma coisa para si (portes). Usa-se muito em vésperas de campanhas eleitorais. O dito partido (seja este ou outro, não estou a referir nenhum em especial), lá faz com que o Ministério, ou o serviço público, ou a empresa pública em questão adjudiquem a obra à dita construtora.

Na execução da obra há sempre trabalhos a mais. É natural. Alguns são mesmo verdadeiros. Outros, porém, são fictícios e servem para que a construtora receba de volta do dono da obra (Estado, serviço público ou empresa pública) aquilo que pagou ao partido do poder. Em casos mais perversos, o dinheiro não chega sequer ao partido e fica no intermediário, o «homem da mala», que quase sempre é um dirigente partidário. Assim se explicam os milagres económicos que sucedem a alguns políticos e ex-políticos, que entraram nessa prestimosa actividade sem um tostão e acabaram milionários (mais uma vez, não estou a pensar em ninguém em especial).

Como daqui resulta, acaba sempre por ser o Estado a financiar o tal partido. Só que, em vez de financiar todos na devida proporção, financia apenas o que está no poder. Assim se explica a promiscuidade entre políticos, partidos políticos e grandes construtoras (continuo a não me referir a ninguém especialmente).

sábado, 27 de fevereiro de 2010

os últimos 4 minutos do vôo Air France 447

Descritos em detalhe na edição inglesa do Der Spiegel.
Formou-se gelo nos tubos sensores de velocidades do avião, em plena turbulência a 35.000 pés de altitude (+/- 11.000 metros). Os sensores passaram a fornecer dados incorrectos ao computador de bordo o que levou à queda do avião, como se fosse uma pedra. A leitura é impressionante.
O problema já aconteceu noutros voos, tanto de Airbus como de Boeing e está a causar apreensão nas autoridades de segurança aeronáutica europeias e americana.

o procurador e a mulher de césar

Depois de tudo que se soube e, mais ainda, de todas a suspeitas que apareceram abertamente formuladas, Pinto Monteiro já não tem outra saída, a não ser a saída - propriamente dita - da Procuradoria-Geral da República.
É que, depois de se suspeitar de que cobria o Governo e o especialmente Sócrates em vários processos, há agora suspeitas com alguma verosimilhança de que os arguidos do caso Face Oculta tenham sido avisados de que estavam a ser escutados imediatamente em seguida a Pinto MOnteiro ter sido informado do facto.
Toda a gente sabe que à mulher de César não basta ser séria: tem também de parecer séria. É isso que se passa com Pinto Monteiro: admito que seja séria, mas não posso deixar de constatar que não parece sê-lo.
Para bem da República, importa que seja substituído o mais cedo possível.
Já agora, Cândida Almeida, deve ir com ele e também, aproveitando a leva, Noronha do Nascimento.

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

os madeirenses

Muito mal se tinha dito deles e do dinheiro que gastavam, quase como se fossem parasitas. Tinham um dos mais altos níveis de vida e, com certeza, o mais avançado desenvolvimento do País. Eram objecto de chacota.

Sofreram uma desgraça horrível. E vêmo-los a cerrar os dentes e resistir, solidários numa entre-ajuda exemplar, sem um queixume, sem um protesto, a trabalhar, a trabalhar, a trabalhar...

Que todos ponham os olhos neles. São um exemplo. Se todos fossem madeirenses em Portugal, não estávamos assim.

domingo, 21 de fevereiro de 2010

the dark side of the moon (2) lavadeiras de Portugal

Era eu pequenino, houve uma música portuguesa que passou a fronteira e chegou a ser conhecida em França: "Lavadeiras de Portugal", enchendo de orgulho os bisonhos portugueses.
Hoje, já não se lava roupa nas águas do Sado; lava-se dinheiro nos bancos. Dinheiro de proveniências várias, umas de cá, outras de lá. É uma indústria próspera e patriótica que poderá contribuir seriamente para ajudar a solucionar a crise.
E como é que se lava? É fácil.
Primeiro, é preciso ter roupar para lavar, quer dizer, ter dinheiro sujo fora do País, mais, fora da UE. Não é difícil, arranja-se com subornos, empenhos, droga, etc., há tantas maneiras como as de cozinhar bacalhau. Arruma-se a roupa, leia-se, parqueia-se o dinheiro numa off-shore. Há-as em todo o lado e para todos os gostos. Quem não souber, pode ir às páginas de anúncios do Economist ou ao balcão dum banco português. E parqueia-se lá, aí um milhão de Euros (menos não vale a pena). Qualquer coisa que venha duma licença ambiental, dum PIM, duma modificação "à maneira" dum PDM, sei lá....  Depois, contrai-se um empréstimo de uns 800 mil Euros. Branquear custa 20%, quando é barato (chega a 40% quando é caro). Depois, recebe-se os 800 mil Euros do empréstimo. Estes €€€ já são roupa lavada. Depois, chegado o vencimento do empréstimo bancário, não se paga nada ao banco. Entra-se em default. Antes de ir para contencioso, este default vai para a recuperação. Na recuperação, a coisa resolve-se por acordo: dá-se a off-shore em pagamento do empréstimo. O banco fica com a off-shore e o milhão de € que lá está dentro e já deu os 800 mil € ao cliente. O cliente ficou com os 800 mil € banqueados, em Portugal, lavadinhos, engomados e a cheirar bem, e o banco ficou com o milhão de € na off-shore. Sim, porque lavar dá trabalho e tem um preço. Neste caso foi de 200 mil € (20%).
É por isso que há para aí bancos que têm tanta off-shore.
Nota: também se faz com  outros bens que não off-shores. Com a roupa suja, compra-se uma obra de arte que vale o tal milhão de €. Pede-se o empréstimo de 800 mil € que não se paga, e dá-se a obra de arte em pagamento, ficando com os 800 mil € (20% de preço). Por isso é que há bancos com obras de arte nas caves.
E também se faz sem bancos, com particulares. E até se faz com pessoas individuais com posições importantes em bancos ou em grupos, ou com sociedades in-shore que se pensa pertencerem a esses bancos ou grupos, mas que pertencem só a accionistas de tais bancos ou a indivíduos que lhes estão ligados.
É como cozinhar bacalhau: há pelo menos 365 receitas.